Há um ditado popular que diz, mais ou menos assim: o DEMônio mora nos detalhes. Hoje pude comprovar o quanto o ditado tem razão. Numa simples consulta ao médico dos olhos (oftalmologista) percebi o quanto a população de baixa renda sofre com um sistema de saúde pública ruim.
Todos os anos faço exame de vista. Neste não foi diferente. Procurei a clínica mais barata. Lá, o médico não fica todos os dias. É preciso ligar para saber quando tem consulta. O atendimento é por ordem de chegada. Liguei na quinta-feira (29) e fui informado que nesta sexta-feira (30), pela manhã, o médico estaria atendendo. “Chegue entre nove e nove meia”, disse a mulher que me atendeu do outro lado da linha.
Cheguei nove horas da manhã e a clínica já estava lotada. Havia cinco pessoas na minha frente. Pensei em desistir. “É só uma vez no ano”, lembrei e decidi aguardar. Enquanto eu aguardava, milhões de pensamentos vieram a minha cabeça. Imaginei: “com esta quantidade de gente, aqui está parecendo uma clínica pública. A diferença é que estou pagando 30 reais. Na verdade, eu não deveria pagar nada, se a saúde pública fosse boa. Quero dizer, não pagaria nada diretamente. Pagaria com os impostos”.
E por que a saúde pública no Distrito Federal (DF) não é boa? Por falta de dinheiro? Não. Não é por falta de dinheiro, mas, sim, má vontade política. E olhe que o penúltimo Secretário de Saúde do DF era o deputado federal Augusto Carvalho, do Partido Popular Socialista (PPS). Um socialista, minha gente! Nem parece né? Pois é. De acordo com auditoria da Controladoria Geral da União (CGU) que apontou indícios de desvio de 106,9 milhões de reais repassados pelo Governo Federal ao DF, 320 milhões de reais que deveriam ser investidos na saúde pública estavam aplicados em CDBs do Banco Regional de Brasília (BRB).
Agora sinto falta desse dinheiro. Se ele tivesse sido aplicado na saúde pública, talvez eu não precisaria pagar pelo meu exame de vista. E os óculos? Ainda tem os óculos. Terei que pagar 170 reais. Poderia ser mais, se eu não fosse um cara econômico. Poderia ser de graça se o ex-secretário de Saúde Augusto Carvalho tivesse aplicado na saúde pública os 320 milhões de reais repassados pelo Governo Federal. Não sei se a decisão de deixar o dinheiro da saúde fazendo caixa do BRB foi de Augusto Carvalho ou do ex-governador José Roberto Arruda (ex-DEM). Não importa. O secretário de Saúde era ele. E se tivesse compromisso com uma saúde pública de qualidade, teria feito algo. Sei lá. Talvez pelo menos uma denúncia.
Com pechincha, a consulta e os novos óculos me custaram 200 reais. Se eu fosse recorrer ao atual sistema de saúde pública, talvez faria o exame em outubro, sete meses depois, assim como aconteceu com meu tio. Em setembro de 2009, ele procurou o posto de saúde pública e marcou a consulta. Esperou. Esperou. E esperou. Somente depois de sete meses o Hospital de Base de Brasília entrou em contato. O meu tio já tinha desistido e pago o exame numa clínica particular. Se fosse um caso sério, ele teria morrido.
E tudo por quê? Porque 320 milhões de reais deixaram de ser investidos em saúde pública.
É por isso que não se deve votar em qualquer pessoa nas eleições de outubro.
Um comentário:
Infelizmente a situação da saúde pública é calamitosa, mas a causa não é falta de dinheiro. A gestão Augusto Carvalho, que, sem dúvida, foi a pior de todos os tempos é um exemplo de que a falta de gestão é a arma que ceiga vidas.
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