Blog do Paraíso: A tragédia de Rali (VII parte)

sexta-feira, 13 de julho de 2007

A tragédia de Rali (VII parte)


João não parecia a mesma pessoa. Só andava bem vestido. Ganhou novos amigos. Inclusive uma namorada: Natasha. Obteve também respeito e temor. Em meio a tantas conquistas, João estava preste a perder a minha amizade. Pois, além de ter usurpado a musa dos meus sonhos, não tinha mais contato comigo.

Porém, como prometido na missa daquele domingo, João veio ao meu encontro e me contou como mudou de vida. Ele se aliou aos traficantes da “quebrada” (quadra). Agora era assaltante e vendedor de drogas.

- E aí! Por que você não entra nessa também?

- É doido é? Não quero ser preso.

- Que é isso, Rali? Eu “rodei” uma vez. Fiquei uns quarenta dias num centro de recuperação para menores. Lá, fui tratado como um príncipe. A comida era ótima. É o mesmo que pode acontecer com você, pois também não tem mais de 18 anos.

- É mesmo?

- Claro! Outra coisa, isso se te pegarem. Sendo meu parceiro, será bem difícil. Tornei-me profissional. E aí, está dentro ou fora?

- Ah... Não sei.

- Qual é cara? Você não quer ter respeito, andar bem vestido, conquistar as gatinhas, enfim, ser como eu? Olhe para mim. Olha! Você sabe muito bem quem estou pegando. Estou namorando aquela sua vizinha, a...

- Natasha... Pô, cara! Você não é meu amigo? Eu te falei que estava afim dela. E você nem se importou.

- Não é bem assim. Aquela “dona” (garota) não é o que você pensa. Ela é uma vadia. Está comigo só por interesse.

- Olha o respeito!

Não pude permitir que meu amigo ultrajasse Natasha daquele jeito. Ela podia namorá-lo, mas ainda estava no meu coração. Dei, portanto, um empurrão nele, que disse:

- Pô, “bicho” (camarada)!! Estou tentando te alertar. Aquela “dona” é “mó banda” (muito vagabunda). Ela não presta. Sabe como foi que “fiquei” com ela pela primeira vez? Quase comi... Nossa amizade é bem maior que aquela putinha.

- O quê?

- É, cara. Quando eu entrei no mundo do crime, passei a andar bem vestido, ganhei respeito e moral, além de, é claro, muita fama. Ela percebeu. Quero dizer, ela e um monte de “donas da quebrada”. Mas Natasha foi esperta, não perdeu tempo. No primeiro “frevo” (festa) que fui, ela chegou a mim. Convidou-me para dançar. Quando menos esperei, deu-me um beijo de língua. Nem eu mesmo pude acreditar. Quem diria? Aquela menina tão recatada, tão casta e religiosa. E a carinha dela de santa? “Vei” (camarada), só propaganda! Você nem imagina o que rolou mais tarde. Fui deixá-la na casa dela. No meio do caminho, encostamos num canto escuro. A coisa esquentou. Ela ia dá para mim naquele momento. Só que ela desistiu quando ficou sabendo que eu não tinha “capacete” (camisinha). Se não fosse por falta de um, teria traçado aquela vadia. Porém, fiz de tudo. Só não comi. Chupei aqueles peitinhos dela. Meti a mão na xoxota. Foi aí que ela se soltou. Pegou em meu cacete. Tirou de minhas calças. E caiou de boca...

- Para! Chega! Eu não acredito nessa mentira, seu mentiroso.

- Você que sabe. Só sei de uma coisa. Vou me aproveitar dela mais um pouco e depois darei um pé no traseiro gostoso dela. Afinal, já estou pegando coisa melhor. Aí, mané, você pode pegar também. Só que nesse estado que você está, “mulambento” (maltrapilho), elas não vão querer. Principalmente a Natasha, que é muito interesseira. Ela quer homens com grana e não um pé-rapado como você. Por isso, cara, entra nessa. Vou te dar um tempo para pensar. Agora, tenho que ir. Preciso fazer uma “fita” (roubo). Ultimamente ando muito ocupado. Sabe como é, né? Sou trabalhador autônomo. Falou, brother.

João me deu um abraço bem apertado. E me disse.

- Não fica triste não, “vei”. Não vale a pena. Já te disse. Aquela “dona é mó banda”. Trabalhe comigo e terá mulheres melhores.

Falei para o meu amigo João que daria a resposta em uma semana. Disse que precisava pensar durante esse período. Porém, não consegui pensar em outra coisa senão na Natasha. Não comi, não dormi, não sai de casa. Apenas chorei. Como uma utopia se tornou em uma vadia, como definiu meu amigo? De princesa à meretriz. De mulher de respeito à puta. Não pude acreditar. Não posso acreditar...

Continua...

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