Blog do Paraíso: A tragédia de Rali (VIII parte)

segunda-feira, 30 de julho de 2007

A tragédia de Rali (VIII parte)


Vida louca. Ou melhor, ainda, “vida loka”, como escreve Racionais Mc’s, grupo de rap ausente na grande mídia, mas presente em toda periferia brasileira. Cito o grupo, pois a letra da música deles explica uma boa parte da minha vida. Principalmente agora, que decidi me virar como o João. Isso mesmo. Entrei para a gangue do meu melhor amigo. Afinal, não tenho nada a perder. Como proclamam meus ídolos, sou “que nem um vira-lata sem fé no futuro”. Entre “viver pouco como rei, ou então muito, como um zé”, escolhi a primeira alternativa.

Para ter fama, mulher, respeito e sustentar meu vício, comecei roubando na minha própria “quebrada”. João era meu parceiro. Mais experiente, ele me ensinou os macetes da vida do crime: evitar disparar o revolver, mas, se for impossível, atirar para matar. A teoria foi fácil e simples de aprender. Já a prática não foi tão simples. Entretanto, depois de muitos assaltos, não tive mais dificuldades. Felizmente, nunca cometi um latrocínio, minhas vítimas ficavam apenas feridas.

Outro negócio que rendia bastante, além dos assaltos, era o tráfico de drogas. Ofício onde tive também um bom desempenho. A polícia nunca conseguiu me pegar, pois eu nunca estava com a droga em meu corpo. Eu a escondia em buracos das calçadas, de tijolos dos muros dos vizinhos, em moitas, enfim, aonde os PMs não pudessem encontrar. Nunca era onde eu ficava. Sempre “mocosava” a droga em um lugar um pouco distante. Meu ponto de venda comumente era numa esquina, que não ficava na minha “quebrada”. Tudo para despistar “us pulíça”.

O ruim da vida do crime são os inimigos que a gente faz. Geralmente, é neguinho que não paga a droga. Fulano que leva uma “fita” e tenta se vingar. Ou beltrano folgado que caça “treta” (confusão) sem mais nem menos. Já matei dois vagabundos folgados e nunca fui preso. A polícia sabia a procedência das vítimas, portanto, nem fez questão de ir atrás. Recentemente quase que “passei” (matar) um terceiro. O “comédia” (otário) se engraçou com minha “dona”, a Natasha. A propósito... Nem contei como consegui conquistar a musa dos meus sonhos. Bom. Foi assim: meu amigo João despachou Natasha depois que se abusou dela. Ela continuava sem me dar bola. Mas depois que virei “maloqueiro” e passei a andar com um revólver calibre 38 na cintura, de uma hora para outra, sem mais nem menos, ela pulou em meus braços. Nem precisou de “k-ô” (mentira). Eu, tomado de grande emoção e paixão, aceitei. Esqueci todas terríveis histórias que ouvi dela. Perdoei, pois quem ama perdoa.
Continua...

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