Blog do Paraíso: A tragédia de Rali (I Parte)

sexta-feira, 8 de junho de 2007

A tragédia de Rali (I Parte)


Foi de repente. Não acreditei que estava acontecendo comigo. Afinal, era tão jovem, tão forte, ágil, inteligente. Pensava até que era invencível. Mas... agora... agora estou estendido no chão como uma mosca esmagada por um tapa. Minhas vistas já não são as mesmas. Não consigo enxerga bem o que vejo. Parece uma estrela. Brilha serena. Paz. É o que sinto ao fitá-la constantemente. Sim, é muito bonita... ela... ela... desapareceu! Mas surgiu outra! Não! Minto. Surgiram duas. Uma no mesmo lugar. A outra, um pouco mais afastada. O Brilho delas são tão intensos quanto a primeira suposta estrela. Meu estado de espírito está em êxtase. Nunca senti sensação tão boa. Justamente agora. Por quê? Não entendo. Ei! Ambas também sumiram!! Apareceram novamente... não... sumiram! Reapareceram! A cena está se repetindo. Percebo também que as supostas estrelas deixam rastros de onde surgem. Os rastros parecem veias de um ribeirão. Porém, de onde elas vêm, não há semelhança com uma nascente. Mas, sim, com um lago de sangue. Um lago para cada suposta estrela. Cada um parece possuir uma ilha redonda no centro. Uma ilha verde. Um verde que só vi em um lugar. Já vi esse verde nos... não! Não pode ser! São os olhos de minha mãe. Agora entendo. O que seriam as supostas estrelas que me passam a sensação maravilhosa são as lágrimas penduradas no rosto da minha velha. Minhas vistas melhoraram no instante que minha face se tornou úmida com as lágrimas que começaram a escorrer intensamente. Ao ouvir os disparos dos tiros, minha mãe veio correndo da cozinha. Só que... ela chegou tarde de mais. Já não pode fazer mais nada. Apenas chorar...

Não estou conseguindo ver mais nada. Ouço apenas o choro da minha mãe. Não vejo mais nada. O barulho perdeu o volume. Está baixo. Baixinho. Não o escuto mais. Tudo é breu. Será que morri?

- Rali! Levanta daí, menino.
- Sim, mamãe.

Não entendo como fui parar de baixo da mesa. Já sei. Meu amigo João estava brincando comigo de pique-esconde. Ele demorou me encontrar. Acabei adormecendo. Onde ele está? Não me escondi em um lugar tão difícil assim.

- Mamãe, a senhora viu se o João passou por aqui?
- Ah! Rali! Ele já foi embora. Foi dormir. Já está na hora de você ir para a cama também, menino.
- A não, mãe. Eu não estou com sono.
- Claro que está, menino. Se eu não tivesse te acordado, você passaria a noite de baixo da mesa. Vai dormir, anda logo. Você só tem cinco anos. Não pode ficar a noite inteira acordado. Já está mais do que na hora de dormir.

Não restou outra coisa. Tive que obedecer minha mãe. Achei que ela estava errada. Percebi que não. Mal encostei a cabeça no travesseiro, apaguei.

- Vambora, bando de filho da puta!! Passem todo dinheiro. Não estou de brincadeira. Gritava o meu amigo João com o dono e os funcionários da padaria “Pão no Forno”, que fica a alguns quarteirões da minha casa. Não era mais uma das minhas brincadeiras de meninice com João, apesar de ele ter 14 anos e eu 13.

Enquanto ele ameaçava o dono da padaria com o revólver calibre 38, eu recolhia o dinheiro do caixa. Minhas mãos estavam tremulas, as de João, firmes. Ele parecia está acostumado. Eu assaltava pela primeira vez. João um dia me disse que roubava porque gostava de sentir emoção ao apontar um revólver e fazer ameaças. Depois de um tempo, quando me acostumei, passei a sentir também o que ele sentia. Sempre conseguíamos fugir com uma boa grana antes da polícia chegar e nos prender. Naquele dia não foi diferente, fugimos com R$ 457. Dinheiro que foi suficiente para garantir o pó e a maconha de um mês...

...Natasha suspirava ofegante. O cheiro dela tinha semelhança com o de uma rosa, porém, intenso, presente, forte, marcante. Os seios não eram grandes. Quando eu encostava minha boca, em um deles, quase desaparecia por completo. Minha mão deslizava do outro seio até a barriga de Natasha. De lá seguiu para baixo. Percebi que não era a primeira vez dela. Fiquei com receio de não dar conta do recado, já que eu nunca tinha transado. Mas foi só no começo. Natasha percebeu minha inexperiência. Resolveu tomar o controle da situação e botar em prática tudo que aprendera nos 16 anos de vida. Parece pouco, mas ela realmente sabia muita coisa. Até demais para uma garota da idade dela. Já eu não sabia nada, pois estava com 14 anos. Mas graças a Natasha, minha primeira vez foi inesquecível. Tanto que foi uma das cenas que revi em minha mente como um filme e agora descrevo para você, amigo leitor. Depois do breu, surgiu dentro da minha cabeça uma espécie de flash back da infância que tive até este momento final da minha vida. Onde estou nos braços da minha mãe, agonizando e esperando a morte chegar...

Continua...

4 comentários:

José Roberto Paraíso disse...

Não entendo porque tem gente que não consegue postar comentários. É simples. É só clicar em comentários, escrever e depois clicar em “publicar comentário”.

Leonardo Vogth Lucena disse...

Vai fundo Zé. Você tem traquejo para as coisas. Grande abraço. Pitter Lucena, seu leitor assíduo.

Anônimo disse...

Amei! "E agora José?" Como faz pra parar de querer ler o que vem no capítulo II III IV V VI VII VIII ??? Nossa fazia tempo que eu não escrevia algarismos romanos...

José Roberto Paraíso disse...

Muito obrigado,

Modéstia a parte, até hoje este capítulo me causa sensações quando o releio.

Abs!