Blog do Paraíso: Capítulo XII

sábado, 20 de junho de 2009

Capítulo XII

Beber é como pisar em ovos. É preciso ter muito cuidado. Cuidado para não sair da linha e não se embriagar. Para passar do limite, basta começar. Jacinto, Marciano e Tião começaram com apenas uma caixinha. O suficiente para instigá-los a beber mais. Tião e Marciano fizeram novamente mais uma vaquinha e compraram juntos, dessa vez, um engradado de cerveja. Mas o álcool não foi suficiente para deixá-los animados. Tião levou o seu aparelho de som para a casa de Marciano. Era um aparelho de última geração e bastante potente. A música tocada por ele era ouvida pela rua inteira e muitas outras ao redor dela.

Na verdade, o eletrodoméstico não pertencia a Tião. Um drogado, sem dinheiro, havia empenhado o aparelho em troca de drogas fornecidas por Tião, que aguardava o fim do prazo combinado para tomar posse. Faltavam poucos dias. E Tião já estava se acostumando com a ideia de ficar com o aparelho de som.

Bebendo e ouvindo música no último volume, os jovens passaram toda aquela tarde na esquina. Apenas os quatro estavam na esquina, no entanto, parecia que era a rua toda que participava da festa. Isso porque, ao longo da avenida, outros jovens se juntavam em outras esquinas para bater papo e, porque não, ouvir a música tocada pelo aparelho empenhado de Tião. O gênero musical era apenas um: rap nacional e internacional.

Quem passasse na rua naquele momento e respirasse fundo, poderia dar uma tragada na fumaça de maconha que pairava pelo ar. Ela emanava do espesso cigarro “bolado” por Tião e de outros cigarros fumados pelos demais jovens, avenida abaixo. O “bagulho” de Tião rodava entre ele, Jacinto e Hamixiaire. Marciano não fumava.

- Dá uma bola aí, Marciano – insistia Tião.

Marciano já havia experimentado uma vez. Ele até gostou, mas sabia que não era um bom caminho a ser seguido. E, a cerveja, era suficiente para deixá-lo com a cabeça feita. Ele, inclusive, já estava “doidão”. Seus olhos perderam a expressão. Eles estavam meio fechados, meio abertos. Se riscassem uma linha no chão e pedissem para ele andar sobre ela, Marciano não conseguiria.

- Ô, Marciano! Dá uma bola aí, moço – também insistiu Jacinto.
- É, Marciano! Dá uma bola aí – ajuntou Hamixiaire.

Para Hamixiaire, a cerveja era coisa do diabo. No entanto, ele não tinha esse pensamento a respeito de outras drogas, como alguns solventes, que ele gostava muito de cheirar.

- Deixa de ser careta, Marciano – insistiu mais uma vez Tião.

Marciano não queira. Seu maior medo era se tornar um viciado, como seus colegas.
- Estou de boa – recusou mais uma vez.

Assim como Marciano, havia naquela rua outras pessoas que não usavam drogas. Pessoas trabalhadoras, como o pai de Gabriela, o seu João que, no final daquela tarde, voltava da parada de ônibus, onde tinha descido do veículo público que lhe trazia do trabalho.

- Opa! – disse João, acenando com a mão direita, ao passar pelos jovens.
- Fala seu João – respondeu Tião.

“Cambada de vagabundos”, pensava João. “Nem para a polícia vim aqui e levar todo mundo para a cadeia”, desejava. Quando via Hamixiaire, João se lembrava do que quase tinha acontecido com sua pequena filha e, por isso, fechava logo a cara, com a intenção de refrescar a memória de Hamixiarie para o que lhe havia prometido, caso resolvesse assediar novamente sua filha.

A noite foi chegando e a festinha dos jovens parecia estar ainda no começo. Principalmente depois que, perfumadas e trajando saias curtas e blusas bem decotadas, Bruna e Camila chegaram.

- E aí, piriguestes – Tião cumprimentou.

Assim como Hamixiaire e Jacinto, Tião já estava sob o efeito da maconha e do álcool. As jovens logo perceberam. Mas elas não se importaram, pois também queriam se drogar. Elas também sabiam que Tião era “patrão” e, com ele, poderia conseguir o que queria. Bruna e Camila, portanto, se serviram da cerveja comprada pelos jovens.

- Tá pegando qual dessas duas aí? – perguntou Marciano para Tião.
- Direto eu pego as duas, mas, se você quiser, pode alugar elas aí.
- Posso mesmo?
- Oxê, se elas quiser pode até pegar.

Marciano não perdeu tempo. E começou a puxar conversa com Bruna. Segurando uma garrafa, Marciano ofereceu:

- Quer um pouco mais de cerveja, gatinha?

Bruna, que segurava um copo de cerveja cheio, pensou: “que saco! Só me faltava essa. Por que esse pé de cana não escolheu a Camila para dar em cima?”.

- Obrigado. O meu copo já está cheio. Olha.
- Nossa, como sua voz é linda.
- Ah, que é isso? Minha voz é normal... ô, Camila, e aquele negócio que agente tinha que fazer hoje à noite – Bruna mudou de assunto e se afastou de Marciano.
- Que negócio? – Perguntou Camila.
Bruna falou ao ouvido de Camila que não era nada, apenas tinha dito aquilo para se afastar de Marciano.
- Aquele bicho feio tá me cantando.
- Há, há, há – sorriu Camila.
- Vou dar em cima do Tião para ver se ele sai do meu pé – disse Bruna.
- Boa idéia – comentou Camila – Eu vou dar em cima do Jacinto para ele não tentar me alugar também.

Bruna abraçou Tião e Camila, Jacinto. Marciano logo percebeu que aquelas duas não eram para ele. “Eu também não queria essas putinhas”, pensou. “Olha só quem elas querem. Os mais vagabundos. É por isso que eu digo. Mulher é igual galinha. Deixa o milho de lado para comer merda. E tem mais. Essas donas estão só sugando minha cerveja”.

- Vocês não vão dar uma intera? – questionou Marciano.
- Oxê, Marciano! Tá doido é. Ainda tem muita cerveja aí – Tião advertiu –. E, se faltar, eu compro mais.

Pouco tempo depois, Marciano percebeu que subia a rua Pedro e o “cabrito” que tinha brigado com ele na madrugada passada.

- Foi esse bicho aí, Tião, que folgou comigo.

Tião esperou Pedro e o desconhecido se aproximar para tirar satisfação.

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