Blog do Paraíso: Artigo sobre a cobertura dos maiores desastres da aviação brasileira: afinal, a qual interesse o Jornal Nacional busca atender?

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Artigo sobre a cobertura dos maiores desastres da aviação brasileira: afinal, a qual interesse o Jornal Nacional busca atender?


O grande mérito deste blog é proporcionar discussões por meio de questões e comentários feitos por mim e pelo leitor. Hoje, quero discutir a brilhante cobertura do acidente com o avião da companhia TAM, realizada pelo Jornal Nacional de ontem (dia 17 de julho de 2007), transmitido pela Rede Globo de Televisões.


Confesso que, antes do telejornal começar, eu acompanhava pela Rede Record a cobertura da ginástica olímpica dos jogos Pan-Americanos. No meio da programação, o narrador deu uma nota sobre o acidente. Após o termino da transmissão dos jogos, veio o jornal local. Depois, o noticiário nacional da emissora. O Jornal da Record (JR) iniciou com um furo. As informações e as imagens do acidente com o avião da TAM vieram por meio de um repórter em um helicóptero e de outros jornalistas, mas por telefone. Durante alguns minutos, a apresentadora Adriana Araújo disse que o número de passageiros era de 180, mas no vídeo aparecia 170. O JR afirmou que o número foi fornecido pela TAM. Em meio a incoerência, mudei de canal com a esperança de obter informações precisas. Fui direto para o canal da rede Globo, afinal, já era 20h e 15 min, tempo que geralmente o Jornal Nacional (JN) começa. Porém, frustrei-me. A bendita novela “Sete Pecados” ainda não tinha acabado. Novamente, sai à procura de outro telejornal. Encontrei um na Rede Band, mas não suportei os comentários do apresentador, cujo nome não recordo. Tive, portanto, de me contentar com o JR. Quando retornei à emissora, o número que aparecia no vídeo foi corrigido. Agora, estava de acordo com a apresentadora que insistia em dizer que a informação era da TAM. Entretanto, depois de uns minutos, o número na tela da TV retornou para 170. Nesse período, mudei várias vezes da Record à Globo, na esperança da assistir ao Jornal Nacional. Se não me engano, ele começou às 20h e 30 min. Só então fiquei sabendo que a TAM ainda não tinha informado o número de passageiros. Agora, sim, eu estava assistindo a um jornal de alta precisão e tecnologia. Como num passe de mágica, o apresentador William Bonner se comunicou, ao vivo, com repórteres localizados em três capitais do país. Dois estavam em Congonhas, aeroporto de São Paulo, onde a tragédia havia acontecido. Outro jornalista transmitiu informações diretamente do aeroporto de Porto Alegre, o Salgado Filho. E um terceiro informou, de Brasília, a atitude do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, diante do desastre. Realmente foi uma ampla cobertura jornalística. Um milagre da informação em tempo real. Naquele momento, imaginei na correria que podia está na redação do JN. Acho que eles tiveram que abreviar um monte de reportagens. Acredito também que o atraso do telejornal também ocorreu por causa dos preparativos para a cobertura do acidente. De fato, foi uma demonstração da qualidade do jornalismo da emissora. Com o roteiro bastante alterado, o JN terminou às 21h e 39 min. Nossa! Pensei. Tudo pela informação de qualidade para o telespectador. Que jornalismo!!

Mas... Caro leitor, no momento de tanta admiração, recordei-me do acidente que ocorreu ano passado, com o avião da companhia Gol. Foi aí que me vieram algumas questões. Ah, essas questões! Só elas mesmo para me motivarem a escrever as discussões deste blog. E qual foram as questões inspiradoras? As seguintes: por que o JN não realizou uma cobertura tão brilhante quanto essa, que acabei de descrever, no acidente com o boeing da Gol? Qual era o assunto mais importante e que ocupou todo o noticiário do JN a ponto de ele não se mobilizar para noticiar o acidente com o avião da Gol? Ajude-me, leitor, a me lembrar o que ocupou a programação do JN daquela sexta-feira, dia 29 de setembro de 2006. Com certeza era mais importante que os jogos Pan-Americanos e que as vidas perdidas na tragédia, pois o conteúdo não foi abreviado.

Já sei! A TV exibiu, com grande pompa, as fotos do dinheiro que seria usado para pagar o dossiê contra o então candidato ao governo do estado de São Paulo, José Serra. O documento seria comprado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), o que não é crime eleitoral, mas foi noticiado como tal por toda imprensa anti-Lula. Como vocês devem saber, os petistas se deram mal porque a Polícia Federal desbaratou a trama. E o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também, pois um superintendente da mesma PF, que muitas vezes é acusada de trabalhar para Lula, vazou para a imprensa as imagens do dinheiro três dias antes das eleições presidenciais.

Esse foi o assunto mais relevante que o acidente com o avião da Gol. Estimado leitor, tenho, portanto, mais três questões: será que o JN realizou a magistral cobertura do acidente com o avião da TAM simplesmente para informar a sociedade? Ou o motivo maior foi atingir a imagem do presidente, já que tudo de ruim que acontece no setor de aviações é credenciado à crise aérea? Afinal, a qual interesse o JN busca atender?

Antes de alguém apontar minha ignorância ao afirmar que os acidentes são bem diferentes e não podem ser comparados, pois um ocorreu no meio de uma floresta e o outro dentro de uma grande metrópole, saliento que, no dia do acidente com o boeing da Gol, o JN não deu uma notinha se quer. E não foi por falta de tempo. O desastre aconteceu praticamente no mesmo horário da tragédia recente. No mínimo, o JN deveria dar uma nota. Mas, como na época o acidente era o maior da história da aviação brasileira, acredito que o noticiário deveria entrar ao vivo do aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus, de onde o avião partiu. Depois, do aeroporto do Rio de Janeiro, Antônio Calos Jobim, destino da aeronave. Em seguida, de Brasília, para informar as medidas das autoridades e do presidente de República. Ou seja, uma cobertura semelhante a realizada ontem pelo JN. Mas o que foi feito naquele dia? Nada! Portanto, insisto na pergunta: afinal, a qual interesse o JN busca atender? Será que ele é feito para os mais de 50 milhões de brasileiros que o assiste?

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