Blog do Paraíso: setembro 2009

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A eleição para conselho tutelar será uma tremenda mamata


A eleição para escolher o conselho tutelar das cidades do Distrito Federal (DF) acontecerá no próximo domingo (4) com irregularidade e muita dificuldade para o eleitor. Nem a própria Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente (CDCA) seguiu suas próprias regras. Não será, portanto, mera coincidência se houver muita bagunça e fraude no processo.

Em 30 de março de 2009, foi publicado no Diário Oficial do DF (DODF) a resolução 30 de 2009 da CDCA que determinava, no artigo 8º, a publicação dos locais de votação, 45 dias antes da realização da eleição dos conselhos tutelares. A lista com os locais, contudo, foi publicada no DODF em 24 de setembro. O CDCA, portanto, não seguiu uma regra criada pela própria Comissão.

A desorganização da eleição para conselho tutelar não se restringe apenas ao descumprimento das regras. Houve diversas mudanças que tornaram o processo mais complicado.

Além de ter antecipado o dia de votação, antes marcada para o dia 13 de outubro, o CDCA mudou os documentos necessários para o cidadão participar do eleitoral. Antes, o eleitor teria que comprovar sua residência para votar em um candidato de sua comunidade. Agora, ele precisa do título de eleitor e só pode votar na sua seção eleitoral. Em outras palavras, quem mora hoje em São Sebastião terá que ir a Ceilândia, se sua seção for lá.

Não bastassem o descumprimento e as mudanças sucessivas de regras, a eleição não será com urna eletrônica. O eleitor vai ter que pegar uma senha com o mesário; dirigir-se a um computador; digitar o número do título de eleitor e a senha; por fim, votar, digitando o número do candidato.

Muita gente desacostumada com o mundo digital ficará de fora. E tem mais. Se com as modernas urnas eletrônicas há diversas suspeitas de fraude, o que esperar de um computador qualquer? A eleição para conselho tutelar das cidades do DF, portanto, será uma tremenda mamata.

domingo, 27 de setembro de 2009

A movimentação de candidatos ao GDF


A disputa pelo Governo do Distrito Federal (GDF) se dará somente em 3 de outubro de 2010, todavia, há uma intensa movimentação de candidatos nos bastidores. Até o mês de julho, tinha-se um quadro. Agora, as coisas já são diferentes e ainda podem mudar.

Antes, o ex-governador Joaquim Roriz estava no PMDB, querendo ser candidato ao GDF; o deputado federal Geraldo Magela (PT) e o ex-ministro do Esporte Agnelo Queiroz (PT) travavam ferrenha luta pela indicação do Partido dos Trabalhadores para disputar o cargo de governador; também antes, pairava a dúvida de que o atual chefe do executivo local, José Roberto Arruda (DEM), cumpria ou não o acordo acertado, em 2006, com seu vice Paulo Otávio (DEM) – o combinado era Otávio ser candidato a governador e Arruda seu vice em 2010 –?

As mudanças vieram no decorrer dos dois últimos meses. Agora, Roriz já não faz mais parte do PMDB; Magela sinaliza um acordo com Agnelo, onde ele se candidataria ao senado e Queiroz ao GDF; e Arruda já deu sinais de que não cumprirá o acordo que – imagino – apenas Paulo acreditava que seria honrado.

Com as mudanças, Roriz, ao deixar o PMDB, enfraqueceu, pois perderá tempo de TV e não contará com a logística do maior partido do Brasil. Já Arruda ganhou e perdeu com a saída do ex-governador do PMDB. Ganhou porque a aliança com os peemedebistas ficou mais evidente e consolidada. Perdeu porque a desfiliação de Roriz prova que sua candidatura ao GDF é para valer. O único que apenas ganhou, com as mudanças, foi o PT. Um provável acordo entre Magela e Agnelo uniria o Partido em boa hora, o que daria tempo para fortalecer a candidatura do ex-ministro do Esporte. O PT ganhou também com a confirmação da candidatura de Roriz ao GDF. Boa parte dos votos de Roriz será tirada do atual governador.

Apesar das mudanças, um fato ainda permanece: os protagonistas do pleito de 2010 continuam os mesmo. Acredita-se que a disputa maior se dará entre Roriz, Arruda e o candidato do PT (provavelmente, Agnelo). Fato que pode levar a disputa para o segundo turno.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O trem do VLT, a propaganda, o GDF e a corrupção


O trem do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), que está exposto no Setor Comercial Sul de Brasília, deve ser eleito o símbolo do Governo do Distrito Federal (GDF), hoje, sob o comando do governador José Roberto Arruda (DEM).

Assim como o GDF, o trem, aparentemente, é moderno, organizado e eficiente. Mas só aparentemente, porque, na realidade, ele não sai do lugar. Não avança. Não é eficiente. Serve apenas para criar expectativa no povo. Serve apenas para ludibriar o povo, enfim, é uma mera propaganda que maquia a triste realidade do transporte público do Distrito Federal.

O GDF é isso. Uma propaganda. Contudo, os problemas no DF caminham para uma situação tão grave que está se tornando impossível maquiá-los. A propósito, o jornalista Leandro Fortes escreveu nesta semana sobre um fato que ilustra bem isso. De acordo com Leandro, em 16 de julho, o governador Arruda e o secretário de Saúde, Augusto Carvalho (PPS), em mais um “lance de marketing”, entregaram, com um valor de 3 milhões, 30 kits de equipamentos para as Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) do sistema de saúde local. A verdade, todavia, veio à tona poucos dias depois. O Ministério Público revelou que a compra era falsa. Os 30 kits, na verdade, eram usados e emprestados por 90 dias.

O mais deprimente e desanimador é que este fato, e muitos outros referentes ao caos na saúde pública, pode não ser investigado, principalmente depois de o governador Arruda enquadrar os deputados distritais para barrar as já instaladas Comissões Parlamentares de Inquéritos (CPIs) Digital e da Saúde. Conforme a jornalista Paola Lima escreveu em seu blog, Arruda se reuniu com os deputados distritais na terça-feira (15) retrasada para tomar a decisão “meramente política” de acabar com as investigações.

Se não fosse a subserviência dos parlamentares distritais governistas, as CPIs Digital e da Saúde não seriam suficientes para investigar as suspeitas de corrupção no GDF. Pelo menos, duas outras Comissões deveriam ser criadas. Uma para investigar a compra supervalorizada de um terreno que pertenceu ao atual secretário do Governo, José Humberto Pires de Araújo. De acordo com a última edição da revista Época, o GDF comprou por 4 milhões de reais um lote que, dois anos antes, valia 426 mil reais. O lote teve, em apenas 24 meses, uma valorização de 1000 por cento.

A outra CPI seria criada para verificar se o GDF, realmente, contratou por 9 milhões um empresa de fachada para a realização, no início deste ano, do amistoso entre Brasil e Portugal, ocasião em que o estádio Bezerrão do Gama foi reinaugurado.

O terreno superfaturado e a suposta empresa de fachada do amistoso são mais dois fatos que precisarão de muita propaganda. Tudo para maquiar o GDF e deixá-lo como o trem do VLT em exposição no Setor Comercial Sul de Brasília. Bonitinho. Certinho. Limpinho. Porém, de mentirinha.

Foto: Mary Leal

terça-feira, 22 de setembro de 2009

“Rock in Taguatinga” dá continuidade a turnê “Brasília 50 anos, Capital do Rock”

Há tempos, Brasília é conhecida por ser a capital do rock no Brasil, porém, muitos acreditam que a cidade está perdendo esse título. Um grupo de roqueiros, contudo, está promovendo no Distrito Federal uma turnê de shows justamente para evitar que Brasília perca o título. “Brasília 50 anos, Capital do Rock” é como eles chamam a iniciativa que já passou por Ceilândia e chega, a partir das 14h 30 do próximo sábado (26), à Praça do Relógio com o show “Rock in Taguatinga”.

Conheço a rapaziada, inclusive, eles me disseram, recentemente, que estão abertos a receber o apoio de patrocinadores para arcar com as despesas de logística. Se eu fosse empresário do seguimento, apoiaria porque, além da causa ser justa, a turnê alcançou bom resultado no “Rock in Ceilândia”, ao receber um público de mais de mil e quinhentas pessoas.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Não é possível a aprovação de projeto de lei de iniciativa popular


O Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE) conseguiu mais de 1,3 milhão de assinaturas de eleitores de todo o Brasil, porém, todo esse trabalho pode ter sido em vão.

Apesar do número de assinaturas ser suficiente para a criação do projeto de lei que proíbe a candidatura de políticos com a ficha na justiça suja, o Regimento Interno da Câmara possui regras que tornam impossível a criação de leis de iniciativa popular, o que não é nenhuma novidade.

Em novembro de 2008, denunciei aqui neste blog o ardil do Regimento Interno na série de comentários chamada O Parlamento do Brasil. Se os integrantes do MCCE tivessem lido, eles teriam criado um movimento para obrigar, primeiro, os deputados e senadores a fazer uma reforma política descente.

Naquela época, escrevi que, de toda a história da Câmara dos Deputados, nunca um projeto de iniciativa popular foi aprovado. Houve três tentativas; a mais conhecida foi da noveleira Glória Perez. Depois de ter a filha e atriz Daniela assassinada, Glória, indignada com a brandura da punição dos criminosos, decidiu apresentar um projeto de lei de iniciativa popular que desse penas mais duras aos homicídios qualificados.

Assim como o MCCE, a noveleira conseguiu a façanha de coletar o número de assinaturas suficientes para a criação do projeto, porém, era necessário conferir se as assinaturas atendiam as exigências do Regimento Interno da Câmara. De acordo com o documento, o número de assinaturas deve representar um centésimo “do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três milésimos dos eleitores de cada um deles,” e cada assinatura tem que estar acompanhada de “nome completo e legível, endereço e dados identificados de seu título eleitoral”.

Será que a Câmara tem corpo técnico capaz de analisar 1,3 milhão de assinaturas, uma por uma? Quanto tempo o trabalho duraria? Essas duas perguntas ainda não foram respondidas aos brasileiros, nem quando Glória Perez tentou criar o seu projeto de iniciativa popular.

Como muitos sabem, nem por isso, o trabalho de Glória foi em vão. Surgiu um deputado que abraçou a causa e apresentou, em seu nome, o projeto de lei que deveria ser de iniciativa popular.

Contudo, prezado leitor, eu me questiono: será que existe algum deputado para abraçar a causa do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral?

Para não ser pessimista, suponhamos que surja um parlamentar que queira apresentar um projeto a partir da causa do MCCE; o que aconteceria? Não seria aprovado.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Fica, Sarney!!


E o Sarney (PMDB-AP), gente? Vai ficar mesmo na presidência do Congresso Nacional? Olha, pensei que ele iria ter o mesmo destino de Renan Calheiros (PMDB-AL), que teve que renunciar, em 2007, à presidência do Sanado depois de ficar seis meses enfrentando uma enxurrada de notícias de corrupção envolvendo o seu nome.

Recentemente, José Sarney enfrentou um período de notícias negativas até maior – foram sete meses! –, contudo, está tudo quieto. Não há mais nenhuma denúncia de corrupção contra o senador, principalmente, depois do jornal O Estado de S. Paulo ser censurado pela (in)justiça, após ação do filho do ex-presidente da república, o deputado Fernando Sarney (PMDB-AP).

Se Sarney saísse da presidência do Congresso, a direita neoliberal seria a maior vencedora. Por enquanto, ele ainda está lá, votando com o governo. E, como sempre, quem perde, com a permanência ou saída de Sarney, somos nós, o povo brasileiro.

Perdemos porque José Sarney não vai pagar pelos crimes denunciados pela imprensa direitista, repito, mesmo se renunciar à presidência do Senado - veja o caso de Renan; renunciou e até agora não foi punido -. E, como sou contra os demotucanos e a favor do governo Lula, acho que Sarney tem mais é que ficar mesmo.

Mas, se este país fosse sério mesmo, e existisse a possibilidade de José Sarney ir para a cadeia, eu não queria nem saber se ele votava a favor ou contra o governo. Eu iria “às ruas” protestar com o pequeno grupo daqui de Brasília do #forasarney.

Infelizmente, a justiça brasileira ainda não chegou a tal nível, portanto, fica Sarney. Não saia para satisfazer o desejo da direita neoliberal. Fique e agilize a votação do novo marco regulatório do pré-sal.

domingo, 13 de setembro de 2009

A partilha dos royalties do pré-sal e as eleições de 2010


A discussão da partilha, entre os estados, dos royalties do petróleo que será extraído da camada do pré-sal vai além da questão de Estado. Assim como em quase todas as decisões importantes tomadas neste país, a política é a questão principal na discussão da partilha dos royalties.

Diz-se que, para evitar desgaste com os eleitores do Rio de Janeiro (RJ), Espírito Santo (ES) e São Paulo (SP), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer adiar para 2011 a definição da percentagem que os estados receberão dos royalties do pré-sal. A medida, de quebra, também beneficiaria o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), pois, assim, ele, que é aspirante a presidente do Brasil, não se desgastaria com os eleitores.

Como se pode ver, não é uma situação muito fácil de resolver, ainda assim, me arrisco a opinar sobre o assunto. Acho que o presidente Lula está com a razão em querer adiar a definição da partilha dos royalties do pré-sal. Se ele deixasse para definir isso já em 2010, haveria a grande possibilidade de se desgastar com os eleitores de RJ, ES e SP, e, por outro, se fortalecer nas demais regiões do país, principalmente, onde ele já é forte: no Nordeste.

Se o presidente Lula quer, realmente, fazer o seu sucessor(a), o ideal mesmo é buscar votos onde não tem. Logo, é uma boa estratégia não desagradar os eleitores de São Paulo, pois é justamente lá que a candidatura de Dilma Rousseff precisar ser bastante trabalhada, afinal, quem governa lá é um tucano e provável adversário do PT no pleito presidencial de 2010.

sábado, 12 de setembro de 2009

Argumento que defende a expansão do DF não tem fundamento


Veio à tona, nos últimos dias, uma ideia de aumentar o território do Distrito Federal (DF), incorporando seis municípios goianos ao DF. O principal argumento: melhorar as condições de vida dos municípios de Águas Lindas, Valparaíso, Cidade Ocidental, Novo Gama, Santo Antônio do Descoberto e Planaltina de Goiás, que sofrem pelo abandono e pela má administração do governo de Goiás.

Avalio que a ideia deve ser discutida para ser justificada, porque o principal argumento que a defende não tem nenhum fundamento. Se os municípios do entorno, como são chamados, possuem, por exemplo, uma taxa de desemprego elevada e, portanto, seus moradores buscam vagas oferecidas no DF, isso não é problema do Governo do Distrito Federal (GDF). Quero dizer, problema para ser resolvido pelo GDF, porque é um problema para quem mora na Capital e tem que disputar as vagas com quem vem do entorno. Enfim, o que quero dizer é que, quem tem que resolver a falta de oportunidade de serviço nos municípios goianos, é o governo de Goiás.

Tem que ser assim, afinal, o governador de Goiás, Alcides Rodrigues (PP), os deputados estaduais e as administrações das prefeituras foram eleitas para isso. Se não for assim, quero dizer, se ficar provada a total incompetência deles, deve-se incorporar ao Distrito Federal todo o estado de Goiás e não apenas os seis municípios do entorno.

Aliás, se for provado que o GDF é tão competente assim, por que não incorporar ao DF todos os estados Brasileiros?

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Capítulo XVI

A cor cinza, que não está presente no lápis, na tinta e, nem mesmo, nas cinzas de carvão, estava presente no céu, mais precisamente, nas nuvens. Na verdade, era um cinza não muito cinza. Um cinza diferente. Um cinza incomum.

As nuvens não estavam como se um temporal haveria de acontecer. Muito menos, como se a tempestade tivesse acabado de passar. Elas estavam com aquele cinza diferente.

O ar estava bastante úmido. Ele era carregado por uma brisa bem refrescante. As poucas árvores presentes naquela tão badalada rua tinham em suas folhas gotas de chuvas, que estavam lá como se tivessem encontrado uma hospedaria cinco estrelas.

O dia, enfim, por coincidência ou não, era ideal para se fazer uma visita ao cemitério, onde Jacinto, agora, descansava em baixo da terra. O seu velório acontecera há uns nove meses. Ele fora baleado com três tiros, enquanto ouvia música, na calçada, com os seus amigos Marciano, Hamixiaire, Tião, Camila e Bruna.

Por pouco, Tim Maia não fizera mais vítimas. A sorte de Tião, o principal alvo, foi que a pistola engasgou, por um instante, logo após Tim Maia parar o carro e colocar o braço para fora com a arma. Os poucos segundos de falha foram suficientes para Tião se esquivar. Tim Maia, para não perder a viagem, escolheu um novo alvo, para o azar de Jacinto, que levou um tiro no peito esquerdo e dois na barriga. Ele não morreu na hora. Jacinto suportou os ferimentos até uma ambulância chegar, o socorrer e ir a caminho do hospital. Antes de chegar lá, porém, Jacinto deu seu ultimo suspiro.

Houve muita comoção na quadra inteira, pois Jacinto era um cara que falava com todo mundo e não tinha má querência com ninguém. Tião e Marciano ficaram muito revoltados, afinal, sabiam muito bem que Jacinto não devia nada para morrer daquele jeito.

- Sua morte não será em vão!!

Antes mesmo de dizer isso, Tião, acompanhado de dois comparsas dentro de um carro, foi, na mesma noite do dia do homicídio, bater na porta da casa de Pedro. Ninguém veio atender, o que aumentou mais ainda a desconfiança de Tião, que já suspeitava do envolvimento de Bruno.

- Traidor!!

- Tá, tá, tá, tá – disparou contra a casa de Pedro.

Minutos depois de Tião fugir com os comparsas, a vizinhança estava amedrontada. Correu o boato de que a rua estava em guerra. “Tudo porque um rapaz da rua de baixo matou um da rua de cima”, comentou um sujeito, no dia seguinte, numa barbearia. “Quer dizer que agora quem é da parte de baixo não pode subir e quem é da parte de cima não pode descer”, brincou outro, só que dessa vez numa padaria.

Eles estavam certos. A medida mais segura era não cruzar as duas áreas. Tião não iria sossegar enquanto não vingasse a vida de seu colega de esquina.

Marciano, Hamixiaire, Bruna e Camila também ficaram revoltados, todavia, não era da personalidade deles fazer justiça com as mãos. Primeiro porque não precisavam. Tião, com seu arsenal, daria conta do recado. Segundo, eles tinham medo de ter o mesmo destino do seu colega. Marciano, Hamixiaire, Bruna e Camila, contudo, não eram inúteis. Serviam de conselheiros. Davam apoio moral e incentivo para Tião dizendo para ele que era a coisa certa vingar a morte de Jacinto, uma vítima inocente.

Além dos conselhos, os colegas de esquinas foram imprescindíveis no dia do velório, que ficou lotado. Um ônibus foi alugado. Levou todos os conhecidos de Jacinto. A família dele era bastante pobre. Boa parte das despesas do enterro foi paga com a ajuda dos conhecidos.

Foi uma época de muito pesar e medo. Pela primeira vez, a rua deixou de ser tão badalada. Ninguém ficava mais na esquina, principalmente, à noite, quando motoqueiros de capacetes escuros frequentavam, com maior frequência a rua a procura de uma vítima que vingasse a morte de Anastácio. Ele foi cruelmente baleado por Tião, quando trabalhava na sua barraca de cachorroquente. O homicídio acontecera na mesma noite do dia em que Jacinto fora morto. Depois de alvejar a casa de Pedro, Tião não conteve a sua fúria e foi atrás de Anastácio.

Magro, alto e sempre de boné, Anastácio ganhava a vida vendendo cachorroquente numa avenida que ficava um pouco distante da quadra daquela que era uma rua tão badalada.

Anastácio começava o seu trabalho sempre depois das 10h da manhã, contudo, só voltava para a casa depois das 11h da noite. Às vezes, ficava até mais tarde porque sua principal mercadoria, que não era cachorroquente, era bastante procurada depois das 8h da noite. Assim como Tião, Anastácio andava sempre armado e era também traficante de drogas. Inclusive, ele foi morto com uma arma na cintura. Não chegou a disparar contra Tião porque não imaginava que ele seria capaz de lhe matar só por não revelar o paradeiro de Pedro e Bruno. Anastácio era o irmão mais novo de Tim Maia, informação passada pelos conhecidos de Jacinto, com o intuito de contribuir com o trabalho de Tião.

O clima de guerra, portanto, estava instalado na rua que deixara de ser badalada para ser macabra, ainda mais depois que encontraram o corpo de Antônio Augusto, em decomposição, duas semanas depois de morto, no cubículo onde se isolara. Antônio há muito tempo apenas bebia cachaça e não se alimentava. Suas filhas e a sua mulher não lhe procuravam para oferecer um alimento, uma conversa ou um carinho. “Antônio Augusto morreu de desgosto”, diziam uns. “Que nada. Foi a cachaça que o matou”, diziam outros. Apesar da história pesarosa, aparecia sempre uma piada. Alguns vizinhos de Antônio Augusto brincavam dizendo que ele tinha deixado uma carta para a mulher e as filhas. “Vou, mas vou feliz com esse litro de cachaça”, era o que estava escrito, conforme contavam.

Agora viúva, Maria de Lourdes Abadia sentia profunda tristeza e arrependimento de ter abandonado seu marido naquela situação. Como Julieta, Maria decidiu seguir o mesmo destino de Antônio, porém, não usou um punhal, mas, sim, a cachaça. O intento de Maria Abadia, contudo, fracassou porque, diferente de seu marido, ela não ficou isolada. Com medo de perder a mãe, suas filhas não a abandonaram.

Nove meses se passaram e Maria ainda estava viva, porém, alcoólatra. O tempo que passou foi suficiente para trazer a alegria para a rua novamente. Pedro nunca mais apareceu na rua. Mudou-se de mala e cuia. Tião não conseguiu encontrá-lo. Já estava até se esquecendo da história, porém, num dia de nuvens com aquele cinza, a saudade voltou quando a mãe de Jacinto lhe disse:

- Hoje, Jacinto faz aniversário...

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Uribe e a sua ditadura não noticiada pela imprensa tupiniquim


Um absurdo!! A comunidade internacional tem que protestar. Uma coisa dessa não pode acontecer numa democracia que se preze. Como pode um presidente mudar a constituição para ter um terceiro mandato? Desse jeito o país vai acabar numa ditadura. Isso é um absurdo!!

Qual é mesmo o nome do presidente que você está se referindo, José Roberto Paraíso – pergunta-me o meu considerado leitor – ? Hugo Chávez, Evo Morales ou Rafael Correa? Ou será Luiz Inácio Lula da Silva?

Não. Não estou me referindo a nenhum desses presidentes, leitor questionador.

Então... qual?

Ué? Você não sabe? Ah! Já sei. A imprensa tupiniquim não noticiou, com alarde, assim como fez no caso dos presidentes considerados da esquerda. Mas não se preocupe. Eu te digo de quem estou falando.

O presidente que está preste a cometer esse atentado contra a democracia é o colombiano Álvaro Uribe. Na terça-feira (1º), a Câmara dos Deputados da Colômbia aprovou, na tranquilidade da noite, a convocação de um referendo para autorizar um terceiro mandato para Uribe.

Mas... ...por que a imprensa brasileira não deu destaque a essa informação?

Ora, leitor desatento. Você já deveria saber muito bem, afinal, já escrevi, e questionei, aqui, várias vezes o real “lado” dos grandes grupos de comunicação do país.

Mesmo assim, como sou um cara legal, vou responde a pergunta. A imprensa brasileira não criticou, esperneou e destacou a intenção de Uribe em criar um terceiro mandato porque o presidente colombiano faz parte daquele pequeno grupo que os veículos de comunicação estão habituados a defender.

Aaaah! Agora entendi.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O Senado está preste a instituir a censura na internet


Há alguns anos, e ainda hoje, qualquer um, com um computador conectado à internet, pode criar o seu próprio blog e divulgar notícias; emitir opinião; contar histórias; enfim, escrever e publicar o que lhe vier à telha. Para mim, isso é o feto da democratização da informação, tanto no sentido de divulgar, quanto no sentido de colaborar na produção de matérias.

Na quarta-feira (2), porém, as excelências do Senado Federal, mais precisamente, os senadores das Comissões de Justiça e de Tecnologia votaram e aprovaram no projeto de reforma eleitoral um dispositivo que compara, em período eleitoral, a internet com o rádio e a TV. O dispositivo proíbe o blogueiro, por exemplo, de divulgar sua opinião, a favor ou contra, um determinado candidato, partido ou coligação. Se houver entrevista, só se for com todos, senão é proibido. O projeto vai ser votado semana que vem em Plenário.

Amigo leitor, quero fazer uma denúncia contra os senadores tupiniquins, pois eles estão prestes a cometer um crime. Eles estão prestes a abortar o feto da democratização da informação, afinal, a medida é uma censura contra sites e blogs. É um absurdo comparar a internet com rádio e TV. Para se criar um blog, ou um site de notícias, não é preciso influência política e, muito menos, poder econômico, quesitos necessários para se ter uma concessão pública de rádio ou TV.

Estava bom de mais para ser verdade a liberdade de expressão proporcionada pela internet. Incomodados, as excelências querem, agora, acabar com ela.