Blog do Paraíso: junho 2007

quarta-feira, 27 de junho de 2007

“Amor impossível”, respondeu


Eu gosto de você
Um gosto sem explicação
Real, forte e intenso. Consegue entender?
Isso não é fácil. É imprevisível e tem muita emoção
Devo dizer?
Entendo que não
Só imagino que você deve saber que a causa é você

Então, facilite as coisas, querida
Urgentemente preciso de resposta
Rápida, boa e colorida
Importa saber se você gosta
De mim, para receber uma margarida
Envolta de laços e com minha proposta
Sorrisos, muito carinho e atenção, amiga

Estarei satisfeito
Ultimamente, não estou
Reprovo o que você tem feito
Informação é o que faltou
Deve ser o seu jeito
Entenderei porque a vida me ensinou
Somente perdoando existirá amor perfeito

A tragédia de Rali (V parte)



Há quem diga que amizade não existe. Outros afirmam que o título de amigo é muito grande para uma pessoa. No meu entender, quem pensa assim é covarde. Tem medo de ser traído ou de se frustrar com um amigo. Existe essa possibilidade, não nego. Mas se você não correr o risco, perderá também a oportunidade de experimentar as coisas boas da amizade.

Outra coisa que não se deve esquecer é que um amigo, antes de tudo, também é humano. Do ser humano deve se esperar tudo. Mentira, falsidade, traição, tudo. Afinal, não é um Deus. É muito complicado ter um amigo, quando não se olha para si mesmo. Principalmente, perdoá-lo.

Eu tenho um amigo. Não tenho medo de dizer, não sou covarde. João é o meu amigo. A aparência dele combina com o nome. Parrudo. Talvez essa seja a palavra que se enquadra ao físico de João. Talvez seja por isso também que ninguém nunca o chamou de Joãozinho.

João é uma espécie apta. Está vivo porque passou pala seleção natural da vida. Pois a mãe dele, Maria Caipralá, teve 17 filhos. Por falta de comida, cinco morreram. Outros cinco foram abortados com métodos caseiros pela mãe. Somente sete sobreviveram. João foi um deles. Como eu, ele e a família vieram do interior, foram morar num barraco caindo os pedaços na cidade-favela da Ceilândia. Depois de não pagarem o aluguel de três meses, foram despejados. Para não ficarem de baixo da ponte, a solução encontrada foi invadir, junto com outras famílias, a Estrutural.

Com quatro anos de idade, João chegou à Estrutural. Aos sete, em vez de ir para a escola, foi para os sinais de trânsito vender doces para ajudar na renda de casa. João não conheceu o pai, assim como os outros seis irmãos maternos que sobreviveram a seleção natural.

Como você, leitor, deve ter percebido, a família de João era mais pobre que a minha.

Para ser sincero, não me lembro como foi que falei pela primeira vez com João. Pois eu só tinha quatro anos. Porém, lembro que nossas brincadeiras eram bastante divertidas. A preferida era pique-esconde, até a gente completar 12 anos. Depois, as brincadeiras já não eram mais de criança...

Com 12 anos, entrei no mundo das drogas. E digo que não foi por influência do meu amigo. Isso é conversa fiada. Porém, muitos pais abestados acreditam.

Comecei com álcool, depois cigarro. Em seguida, maconha. Por fim, cocaína e merla. Não cheguei a usar outras drogas sintéticas por falta de grana. Somente a classe média tem esse privilégio.

Continua...

segunda-feira, 25 de junho de 2007

A tragédia de Rali (IV parte)


Vocês não vão acreditar como falei com minha amada pela primeira vez. Como não, mas onde conversamos. Foi em um lugar muito ruim. Um lugar que não dá nem um estímulo, nenhuma vontade de alugar (cantar) uma mulher. Ele não é ruim somente para isso. É ruim para tudo. É um massacre. Destrói a vida. Vocês conseguem adivinhar onde foi? Não? Bom, antes de lhes revelar onde foi, farei um prólogo.

Natasha se mudou para a invasão da Vila Estrutural quando eu tinha 13 anos. No primeiro momento, não notei aquela menina magrela, que toda vez passava em frente a minha casa quando ia à padaria ou à escola. Como tenho o costume de passar algumas horas de meu tempo na calçada da minha casa, via Natasha arrastar poeira na chinela várias vezes. Todo mundo naquela cidade arrasta poeira quando caminha pelas ruas, mas, em um determinado dia, com muita cannabis na mente, percebi que o arrastar de poeira de Natasha era diferente. Suave, leve. Parecia até que ela caminhava pelas nuvens. Foi aí que comecei a mexer com ela. Desejava bom dia ou boa tarde, ela nada respondia. Mandava uns coiotes, ela nem olhava para trás. Então, pensei, parece que, a cada ação minha, o ego e o orgulho dela dobra. Portanto, acreditei, Natasha não passa de uma utopia. Compus até umas rimas, certa vez fitando a lua cheia.

- Oh! Doce, amada, querida, linda, Natasha!!
Em meu coração, agora se acha
Olho para as estrelas e te vejo, sinto, desejo
Infelizmente, nunca experimentarei do seu beijo

Oh! Amada e querida
Flor, rosa, perfume, margarida
Campos, paixão e ilusão
Por que deixa em pedaços meu coração?

Oh! Doce e amada
Todas as vezes que vejo sua passada
Imagino uma coisa que realmente não queria
Utopia! Nada mais nada menos que utopia.

Sim, amigo leitor, esse foi um dos poemas que já chorei perante a lua. Durante um bom tempo, Natasha foi indiferente comigo. Mas, quando eu estava voltado do Plano Piloto, em um desses ônibus imundo e caindo aos pedaços, ou seja, justamente no pior lugar do mundo para alugar uma mulher, Natasha embarca. Havia somente um assento. E era ao meu lado. Pensei, dessa vez ela não me escapa. Mas, quando ela sentou, não acreditei naquela cena. Fiquei sem palavras, não falei um piu. Sou um fracasso, pensei. Deixarei passar esta oportunidade de conversar com ela pela primeira vez. Já me imaginava levantando da cadeira para descer do ônibus. Como o destino é injusto. Colocou-me ao lado dessa princesa justamente dentro dessa porcaria de transporte, que sacode para todos os lados, sem falar do barulho ensurdecedor do motor. Não há nenhum clima.

- Quantas horas?
Não acredito, ela falou comigo! Ela falou comigo!! Quero dizer, ela me deu uma cantada, pois perguntar as horas no ônibus é uma investida.

- Por favor, você tem horas?
- Você vem sempre por aqui?
- É... você tem horas?
- Sim, minha bicicleta é azul!!
- Não. Eu perguntei se você pode me dizer quantas horas são.
- É de sal ou de doce?

Fiquei bobo. Olhei para ela durante alguns minutos e só então entendi o que ela estava me perguntando.

- Ah! Sim. São 19h.
- Obrigada.
- De nada.
- Eu acho que já te vi em algum lugar.

Depois de satisfazê-la com a resposta, senti-me capaz de conversar com ela. A utopia já não era tão utopia, pois ela falava a língua dos homens.

- Sim, você já me viu. Só que acho que não foi só uma vez...

Natasha se demonstrou ao meu alcance. Realmente não sabia o quanto ela era simpática. Desembarcamos na mesma parada. Conversei tudo e muito mais que devia falar com ela. Tornei-me amigo de Natasha, portanto.

Continua...

sexta-feira, 22 de junho de 2007

A tragédia de Rali (III parte)


Confesso que quase mudei o título de minha história quando a vi. Pensei em “A vida é bela”. Ou “A paixão de Rali”. Ou ainda “A vida é dura, entretanto, o amor compensa”. Sim, leitor, foi amor a primeira vista... Amor a primeira vista? Para falar a verdade, não acredito em amor a primeira vista, mas, sim, tesão a primeira vista. Porém, meu caro, estou tentando contar este capítulo com o maior lirismo possível. Entenda, portanto, o exagero.

Bom. Mas no caso da minha amada, não foi tesão a primeira vista. Geralmente uma mulher tesuda é bem diferente da mulher “moderna”, que tem o corpo quase semelhante ao masculino, com bunda e seios pequenos. Já a mulher tesuda tem uma bunda bem redonda e avolumada, corpo no formato violão e seios fartos. Minha musa se enquadra no perfil da mulher idealizado pelas feministas, por isso que chamo de “moderna”.

A primeira vez que a vi nem me importei. Mas, repito, para minha história ficar romântica, digo que foi amor a primeira vista. Eu estava triste, caminhava pelo parque, observava laconicamente o horizonte, fitava o entardecer. Uma lágrima escorria de minha face. O motivo de tanta desolação, meu tinha havia perdido a final do campeonato.

Em meio à aflição, de repente, fui envolvido por um aroma de rosas. Conforme ela passava, a grama verde se transformava em um jardim de lindas flores. Os longos cabelos castanhos faziam movimentos cativantes e enfeitiçados. Naquele momento, senti uma sensação inefável...

- Vixe!! Lá vem os home!!
- Todo mundo para a parede!

Ufa! Ainda bem que a legislação não permite a prisão de usuários de drogas. Os Policiais Militares acabaram com minha lombra. Apagaram meu cigarro de maconha e me deram um bacu. Dessa vez eles não foram tão violentos. Não meteram o coturno em minhas pernas para abri-las mais ainda. Mas deram uma pancada um pouco forte no meu escroto ou popular saco.

Ora, leitor desatento. Moro na invasão da Vila Estrutural. Lá não tem parques urbanos. Eu estava, na realidade, na esquina puxando um beck. Realmente, triste, pois meu time, com já disse, perdeu a final. Natasha, minha vizinha e amada, caminhava pela rua sem asfalto. Arrastava poeira com a chinela. Joguei um coiote (assobio) para ela, que nem olhou. Não foi a primeira vez que a vi. Afinal, ela mora lá e passa todo dia naquela rua. De repente, uma viatura da PM passou e fez uma revista (bacu) em nós, eu e os manos que estavam comigo. Acho que o efeito da cannabis me fez descrever o cenário.

Já que aterrissei na realidade nua e crua, contarei como me apaixonei por Natasha no próximo capítulo.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

A verdade veio à tona



Hoje, na entrega de 130 novos ônibus para o sistema de transporte coletivo do Distrito Federal, eis o que o presidente do Sindicato das Empresas de Ônibus, Wagner Canhedo Filho, disse, segundo a CBN:


“Ônibus velho é bom para a população porque não aumenta a tarifa”


Por favor, comentem.


Surrupio, desfaçatez, indecoro
Política, democracia, instituição
Brasil, Brasília, sacanagem, prostituição
Jornalismo, vendido, mensalão
Ignorância, analfabetismo, atraso
Cordeiros, povo, brasileiro

Honestidade, bondade, ética
?
!
É...
?
Haja esforço mental!!
É...
Acho que poema para por aqui

quarta-feira, 20 de junho de 2007

O que seria da vida sem poesia?


O que seria da vida sem poesia?
Talvez o feijão sem arroz
O sexo sem amor
Enfim, algo sem sabor
Sem emoção, satisfação, sentido
Todo mundo deprimido

A poesia é necessária
Se não quiser uma vida precária
Veja o raiar do sol com lirismo
Deixe um pouco de lado o ceticismo

A poesia destrói o pessimismo
Faz uma mera coincidência
Ou um fato natural
Se tornar surreal
Dá-te a oportunidade de viver com veemência

Mas cuidado, nada de exagero
Pois tudo é passageiro
De olho no vermelho
Que a vida pode ficar
Caso você exagerar
Iludido ficará

É medo, respeito ou pagação de pau?

" O Renan pode falar como o Danton quando caminhava para o cadafalso: atrás de mim virás tu, Robespierre"

Este texto vai ser curtinho. Curtinho neste blog, mas extenso na mente do leitor criativo. Se você, que neste momento, por algum motivo, está com a mente estéril. Não consegue meditar nada. Volte mais tarde.

Já quem está disposto, sugiro que medite a respeito dos acontecimentos recentes no Congresso Nacional, juntamente com o título deste comentário, cujo faço questão de repetir neste parágrafo: “É medo, respeito ou pagação de pau?”


Desculpe pelo termo. Para quem não conhece a gíria, “pagação de pau” quer dizer bajulação. Portanto, caro leitor, responda-me, por favor, ou apenas medite consigo mesmo, nossos representantes estão querendo arquivar o processo de cassação do mandato do presidente do Senado, Renan Calheiros, por medo, respeito ou pagação de pau?

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Atenção, eleitores! Muita atenção!!


A Câmara dos Deputados vota hoje a reforma política. A reforma veio à tona após a Operação Navalha ser deflagrada pela Polícia Federal - PF. No início, a navalha parecia estar afiada. Mas, quando tocou na pele de alguns envolvidos, fez cosquinhas. Mal saiu o resultado, a imprensapoliciafederalesca noticiou outra operação. Denominada Xeque-Mate, a investigação circula em torno da família do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Eis a questão que me envolve agora. Será que os cidadãos brasileiros estão compreendendo o real significado desses fatos? Bom. A Operação Navalha, julgo, não. Afinal, antes de ser abafada pelas novas investigações da PF, foi misturada com a “pulada de cerca” do presidente do Congresso Nacional, Renan Calheiros, como noticiou o jornalista Leandro Fortes na revista Carta Capital.

Para complicar mais ainda a compreensão dos acontecimentos, colocou-se em discussão a legitimidade das investigações da PF. Pois, com a Operação Navalha, especulava-se que ela agia de acordo com interesses de um grupo de políticos desfavorecidos pelo atual governo. Já outros diziam que a PF atuava em favor do presidente Lula. Outros, ainda, afirmavam que se queria abafar a ação da PF, acusando os agentes de agirem com excessos nas prisões.

A discussão do real lado da PF também está presente na atual investigação. Agora, uns dizem que a Operação Xeque-Mate é uma estratégia do presidente para mostrar que a PF age por conta própria. Outros falam que o governo quer evitar a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito da Operação Navalha, por isso, traz a atenção da opinião pública para o novo inquérito da PF.

Em meio a tantas possibilidades desse jogo de interesses, e, para completar a dose, quero dizer, para complicar mais ainda o entendimento dos brasileiros acerca dos fatos, a Câmara dos deputados vota hoje, dia 13 de junho, uma medida polêmica da reforma política.

Sinceramente, estou confuso. Por que, sempre que esquemas de corrupção vêm à tona, nossos representantes tocam na questão da reforma política? Por que não concentrar esforços para punir os criminosos apontados pelas investigações e, somente depois, abrir uma ampla discussão com a participação de toda a sociedade sobre a reforma política, que é tão complicada?

Foram as questões levantadas acima que me motivaram a escrever este texto para pedir, encarecidamente, a atenção dos eleitores brasileiros. Muita atenção. Bastante atenção ao primeiro item da reforma política que será votada hoje pelos deputados. A Câmara discutirá o voto em lista fechada. Se aprovada, o eleitor não votará mais no candidato, mas, sim, no partido. Todo mudo sabe que no Brasil a maioria dos eleitores não tem afinidades com o partido. Boa parte das pessoas não está nem aí para as ideologias da legenda. O pior é que os brasileiros estão corretos. Afinal, recentemente, os partidos são farinhas do mesmo saco. Comunistas apóiam liberais, democratas e vice-versa. Sem contar os inúmeros vira-casacas.

A reportagem de Solano Nascimento, publicada hoje no Correio Braziliense, revela que a profissão político continuará valendo a pena, se o voto em lista fechada for aprovada. Pois, quem investiu na carreira e se elegeu, ficará no início da lista, caso resolva se candidatar novamente. Os votos dos eleitores irão para os primeiros da lista, garantindo assim a permanência dos deputados eleitos. Esse fato é uma prova de que nossos representantes farão a reforma, tão desejada por vários segmentos da sociedade, mas com medidas a favor deles. Quer dizer, o que seria feito para acabar ou diminuir a corrupção, pode, na realidade, piorar a roubalheira.

Após a aprovação do voto em lista fechada, o próximo passo será a implantação do financiamento das campanhas políticas com o dinheiro público. É isso aí. O dinheiro que falta para a educação e para a saúde será aplicado na campanha.

Quem escreve este artigo carrega a ignorância dos demais brasileiros. Portanto, por questões de clareza, os eleitores devem exigir dos deputados mais transparência e menos pressa. A sociedade tem que participar das discussões. De preferência, realizada depois que o mar de lama da corrupção for retirada da Esplanada dos Ministérios e da Praça dos Três Poderes.

terça-feira, 12 de junho de 2007

A tragédia de Rali (II parte)



Meu nome é Raliosvaldo Bertolo Jásintocabeção Arrudiando Novagina Maciano Cretino Corruptativo Nomequenãoacabamais Stanislau Lalau Lulala Depoisdenósénósdenovo... Ufa! Cansei. Eu, que sou dono do nome, ainda não peguei fôlego, o que dizer do leitor? Perdoa-me, caro amigo. Não me atreverei a repetir tamanho palavrão. Citarei somente minha alcunha, Rali, como fiz na primeira parte da história.

Nasci em 1989 no hospital do Gama. Antes de me mudar para a invasão da Vila Estrutural, minha família e eu morávamos de aluguel em um barraco caindo aos pedaços na cidade-favela mais populosa do Distrito Federal, a Ceilândia. Digo cidade-favela porque, oficialmente, Ceilândia é conhecida como cidade-satélite, mas a realidade é bem diferente. Altos índices de violência, muita pobreza, algumas ruas ainda sem asfalto e sem coleta de esgoto. Portanto, com todas as letras, cidade-favela Ceilândia.

Bom. Quero narrar neste capítulo minha meninice. Sempre fui um garoto lesto. Alguém aqui sabe que diabos quer dizer lesto? Não me lembro aonde foi que ouvi ou li esta palavra. Mas achei muito bonita. Entretanto, confesso, lesto leitor, não sei o que significa. Isso é o que dá cursar só até a sexta série do ensino fundamental. Já que comecei a falar de formação escolar, contarei meu primeiro dia de aula.

Por sorte, quando eu tinha sete anos, minha mãe conseguiu vaga na única escola da Vila Estrutural. Ela, coitada, freqüentou a sala de aula por três dias. Aprendeu somente a escrever o nome. Minha mãe foi criada no nordeste mineiro, em uma fazenda. Ela não teve a oportunidade de conhecer os pais. Primeiro porque a mãe dela nem sabia quem era o pai da minha mãe. Segundo porque a mãe de minha mãe não resistiu ao parto quando minha mãe nasceu. Você entendeu? Para eu não ficar escrevendo coisas do tipo “mãe de minha mãe”, estimado leitor, informar-te-ei as graças delas. Mas não se assuste, não colocarei o nome completo. Minha velha se chama Bertola e minha avó, Jásintacabeçona.

Jásintacabeçona teve 15 filhos. Bertola, como eu, é a caçula. Ela foi criada pelos irmãos, que não permitiram minha mãe estudar. Bertola conseguiu a independência depois que se casou com meu pai. Eles mudaram do nordeste mineiro, depois de terem o sexto filho, para tentarem a sorte aqui, no DF. Sou o único brasiliense. Apesar de ter nascido na periferia, em uma também cidade-favela, auto me denomino brasiliense. É uma das poucas vantagens de morar próximo à capital do país. Nasci no hospital do Gama porque peguei minha mãe de surpresa. No dia, ela visitava a irmã, moradora do bairro do Pedegral, no Novo Gama – GO. Os moradores de lá não freqüentam ao hospital fantasma do Novo Gama, que teve R$ 315.842,05 aplicados na aquisição de equipamentos e moveis, segundo a síntese do relatório de fiscalização da Controladoria-Geral da União datado no dia 15 de outubro de 2005.

Prometi no terceiro parágrafo que ia contar meu primeiro dia na escola. Não o fiz porque ele não existiu. Não fui à primeira aula por falta de material escolar. Depois de uma semana, consegui um caderno usado e um lápis da ponta quebrada. Minha professora era linda, mas o que marcou o início de meus estudos foram os lanches. Saia de casa com a barriga vazia. Contava os minutos até a hora do intervalo para poder sacia-la. No melhor dia, pão com ovo e suco eram servidos.

Nunca fui bom com essas coisas de escola. Pensei que não ia sair da primeira série. Reprovei quatro vezes. Minha salvação foi a política de educação implantada na época pelo governo. Pude passar de série devendo matérias. Sem contar que, da primeira série, fui para a quarta, que reprovei mais duas vezes. Depois me jogaram para a sexta, de onde não sai mais. Se não me engano, o nome do programa era “Aceleração Escolar”.

Meus pais eram catadores de latinha, não tinham dinheiro para comprar brinquedos para mim. Mas sempre fui muito criativo. Alguns pedaços de madeiras se transformavam em carrinhos, robôs, espadas, revolveres...

Quando eu completei quatro anos de idade, conheci João, meu melhor amigo. Ele me ensinou todos os palavrões. Minto. Aprendi com ele a metade. A outra meus pais me ensinaram. Alcoólatra, meu pai vivia xingando minha mãe. Presenciei muitas brigas deles. Portanto, também aprendi a dar pontapés e socos.
Como você pode ver, leitor, a minha tragédia foi ter nascido...


Continua...

sexta-feira, 8 de junho de 2007

A tragédia de Rali (I Parte)


Foi de repente. Não acreditei que estava acontecendo comigo. Afinal, era tão jovem, tão forte, ágil, inteligente. Pensava até que era invencível. Mas... agora... agora estou estendido no chão como uma mosca esmagada por um tapa. Minhas vistas já não são as mesmas. Não consigo enxerga bem o que vejo. Parece uma estrela. Brilha serena. Paz. É o que sinto ao fitá-la constantemente. Sim, é muito bonita... ela... ela... desapareceu! Mas surgiu outra! Não! Minto. Surgiram duas. Uma no mesmo lugar. A outra, um pouco mais afastada. O Brilho delas são tão intensos quanto a primeira suposta estrela. Meu estado de espírito está em êxtase. Nunca senti sensação tão boa. Justamente agora. Por quê? Não entendo. Ei! Ambas também sumiram!! Apareceram novamente... não... sumiram! Reapareceram! A cena está se repetindo. Percebo também que as supostas estrelas deixam rastros de onde surgem. Os rastros parecem veias de um ribeirão. Porém, de onde elas vêm, não há semelhança com uma nascente. Mas, sim, com um lago de sangue. Um lago para cada suposta estrela. Cada um parece possuir uma ilha redonda no centro. Uma ilha verde. Um verde que só vi em um lugar. Já vi esse verde nos... não! Não pode ser! São os olhos de minha mãe. Agora entendo. O que seriam as supostas estrelas que me passam a sensação maravilhosa são as lágrimas penduradas no rosto da minha velha. Minhas vistas melhoraram no instante que minha face se tornou úmida com as lágrimas que começaram a escorrer intensamente. Ao ouvir os disparos dos tiros, minha mãe veio correndo da cozinha. Só que... ela chegou tarde de mais. Já não pode fazer mais nada. Apenas chorar...

Não estou conseguindo ver mais nada. Ouço apenas o choro da minha mãe. Não vejo mais nada. O barulho perdeu o volume. Está baixo. Baixinho. Não o escuto mais. Tudo é breu. Será que morri?

- Rali! Levanta daí, menino.
- Sim, mamãe.

Não entendo como fui parar de baixo da mesa. Já sei. Meu amigo João estava brincando comigo de pique-esconde. Ele demorou me encontrar. Acabei adormecendo. Onde ele está? Não me escondi em um lugar tão difícil assim.

- Mamãe, a senhora viu se o João passou por aqui?
- Ah! Rali! Ele já foi embora. Foi dormir. Já está na hora de você ir para a cama também, menino.
- A não, mãe. Eu não estou com sono.
- Claro que está, menino. Se eu não tivesse te acordado, você passaria a noite de baixo da mesa. Vai dormir, anda logo. Você só tem cinco anos. Não pode ficar a noite inteira acordado. Já está mais do que na hora de dormir.

Não restou outra coisa. Tive que obedecer minha mãe. Achei que ela estava errada. Percebi que não. Mal encostei a cabeça no travesseiro, apaguei.

- Vambora, bando de filho da puta!! Passem todo dinheiro. Não estou de brincadeira. Gritava o meu amigo João com o dono e os funcionários da padaria “Pão no Forno”, que fica a alguns quarteirões da minha casa. Não era mais uma das minhas brincadeiras de meninice com João, apesar de ele ter 14 anos e eu 13.

Enquanto ele ameaçava o dono da padaria com o revólver calibre 38, eu recolhia o dinheiro do caixa. Minhas mãos estavam tremulas, as de João, firmes. Ele parecia está acostumado. Eu assaltava pela primeira vez. João um dia me disse que roubava porque gostava de sentir emoção ao apontar um revólver e fazer ameaças. Depois de um tempo, quando me acostumei, passei a sentir também o que ele sentia. Sempre conseguíamos fugir com uma boa grana antes da polícia chegar e nos prender. Naquele dia não foi diferente, fugimos com R$ 457. Dinheiro que foi suficiente para garantir o pó e a maconha de um mês...

...Natasha suspirava ofegante. O cheiro dela tinha semelhança com o de uma rosa, porém, intenso, presente, forte, marcante. Os seios não eram grandes. Quando eu encostava minha boca, em um deles, quase desaparecia por completo. Minha mão deslizava do outro seio até a barriga de Natasha. De lá seguiu para baixo. Percebi que não era a primeira vez dela. Fiquei com receio de não dar conta do recado, já que eu nunca tinha transado. Mas foi só no começo. Natasha percebeu minha inexperiência. Resolveu tomar o controle da situação e botar em prática tudo que aprendera nos 16 anos de vida. Parece pouco, mas ela realmente sabia muita coisa. Até demais para uma garota da idade dela. Já eu não sabia nada, pois estava com 14 anos. Mas graças a Natasha, minha primeira vez foi inesquecível. Tanto que foi uma das cenas que revi em minha mente como um filme e agora descrevo para você, amigo leitor. Depois do breu, surgiu dentro da minha cabeça uma espécie de flash back da infância que tive até este momento final da minha vida. Onde estou nos braços da minha mãe, agonizando e esperando a morte chegar...

Continua...

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Imparcialidade, tremenda marmelada


Desde que entrei na faculdade ouço dos professores que o bom jornalismo deve se aproximar o máximo possível da imparcialidade. Alguns profissionais mais iludidos afirmam com todas as letras que uma boa reportagem é totalmente imparcial. No Brasil, quase todos os veículos insistem em dizer nos editoriais que não tomam partidos e que são isentos. Os repórteres não são diferentes, pelo menos a maioria. Batem o pé e dizem, sem hesitar, que escrevem matérias imparciais. Onde o blogueiro quer chegar com isso? O apressado leitor deve estar se perguntado. Aconselho que os textos deste blog devam ser lidos com paciência, porque eles não são do tipo jornalístico que já no primeiro parágrafo há as respostas das perguntas quem? Quando? O quê? Como? Onde? Por quê? Ainda bem que neste espaço posso fugir dessa formatação bastante funcional, pois realmente informa, mas, ao mesmo tempo, é hipócrita quando acompanhada da afirmação de que determinado texto informativo é imparcial ou se aproxima da imparcialidade.

O leitor atento já deve ter percebido o mote deste artigo. Para quem ainda não percebeu, afirmo que é impossível a imparcialidade e a isenção total de uma matéria jornalística. E o texto que boa parte dos jornalistas diz que se aproxima da neutralidade é na realidade um texto que consegue enganar o leitor. Muitas pessoas acreditam que os meios de comunicação reproduzem a realidade fielmente. Não fiz nenhuma pesquisa para dizer isso. Deixo claro ao meu estimado leitor que esta coluna não é um estudo com fortes argumentos científicos. A intenção dela é levantar uma questão para discussão. Quem quiser comprovar a veracidade dos argumentos está desimpedido de realizar uma pesquisa, que depois de feita, por gentileza, informe-me o resultado. Apesar de não fazer estudos concretos, uso o método da abdução para escrever este texto.

Da escolha de uma pauta até a edição de uma matéria jornalística há parcialidade. Primeiro porque nem tudo que acontece, por exemplo, no Brasil é noticiado. Existem muitos fatos acontecendo por aí e não viram noticias porque não há espaço suficiente e porque ninguém agüenta tanta informação. Não conseguimos nem ao menos acompanhar a pequena parte das notícias publicadas, imagine se todos os acontecimentos fossem publicados.

A determinação do que será notícia é opinativa e envolve questões ideológicas. A escolha da informação mais importante que entra no primeiro parágrafo, também. Da mesma forma o que é escrito no título e no sutiã. As aspas de um entrevistado servem para o jornalista tirar o dele da reta. Quando o repórter escreve no texto fulano disse “O governo é uma merda” entre aspas, é na verdade o que ele queria dizer. Se ele não quisesse dizer isso, simplesmente não colocaria.

Para uma reportagem ser imparcial, ela não deveria ter título. Possuir somente uma linha. A entrevista realizada com uma fonte tem que ser citada na íntegra. Todos os fatos devem ser noticiados. A manchete tem que deixar de existir porque o critério de escolha do que é mais importante também é parcial. E, por fim, a matéria não pode ser feita, em hipótese alguma, por um ser humano. Ela tem que ser realizada por um ser com a capacidade de absorver todas as informações ao redor, não deixar passar nenhum detalhe, nem uma agulha que esteja no chão, por exemplo. Obrigatoriamente, o repórter tem que ser frio, insensível, sem valores. Enfim, uma criatura que não é influenciado pela cultura humana ou pelo meio social que ela está inserida. Se uma notícia fosse feita com esses critérios, seria incompreensível. E, como não existe nenhum ser com as características descritas acima, concluo que é impossível se quer se aproximar da imparcialidade.

Defendo, portanto, que todos os meios de comunicação deixem claro que são parciais. Dessa forma estará sendo honesto com o leitor. No ano passado, a revista Carta Capital deu um exemplo que deveria ser seguido pelos demais meios noticiosos. Mino Carta escreveu no editorial a preferência da revista pelo então candidato a presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Atitude que demonstra respeito pelo público que acompanha as notícias da revista.

Enfim, estimado leitor, é isso que defendo no jornalismo. Mas quem sou eu para mudar um sistema que favorece muitos endinheirados? Não sou nada, mas os leitores sim. Vocês podem muito bem mudar o quadro. Não é fácil, mas também não é impossível. Para realizar a mudança, os leitores têm que observar com olhar crítico a cobertura realizada pela imprensa. Observar a procedência dos anúncios veiculados nos meios. E boicotar o veículo que estiver sendo desonesto. Repito, não é fácil. Mas temos que tentar.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Convite à reflexão


Gente. Sempre ouvi boatos de que a imprensa brasiliense atualmente é comprada pelo Governo do Distrito Federal, independentemente do governador em exercício. Portanto, resolvi fazer uma análise. Ela não servirá como prova ou denúncia de um crime. Mas, sim, para reflexão. Com esse comentário da cobertura da imprensa local, desejo apenas que, você, caro leitor, reflita antes de votar em um determinado político.

Vocês já devem ter ouvido por aí que, para saber se um determinado bolo é bom, não precisa come-lo inteiramente. Basta apenas um pedaço. Parto desta idéia. Não vou analisar todos os jornais que circulam em Brasília, mas o mais conhecido, o Correio Braziliense. Não colherei informações de todas publicações, apenas da de hoje, 6 de junho de 2007. A pauta será também somente uma: a viagem do excelentíssimo governador, José Roberto Arruda, à Europa para definir os trens urbanos do DF. Agora, demonstrado meus critérios de avaliação, vamos ao estudo.

O Correio Braziliense é conhecido por ser bonitinho. Já foi premiado muitas vezes pela diagramação criativa e bastante esclarecedora. Na matéria de hoje, não foi diferente, por isso, avalio a ilustração do texto escrito pela senhora Lilian Tahan com um saboroso dez. Destaco que não conheço a repórter enviada para cobrir o governador. Para falar a verdade, nunca a vi. Nem sei se ela é uma senhora. Uso o termo por questões de educação.

Já a reportagem escrita por Lilian não merece a mesma nota da diagramação. Antes do meu estimado leitor se questionar: quem é esse sujeito para sair avaliando o trabalho de uma profissional tão competente, ressalto que boa parte do conteúdo deste blog é opinativa. Convido ao leitor que leia também o texto da repórter. Se achar que foi injusto com ela, avise-me por favor com um comentário abaixo deste texto. Se for convincente, retiro o que digo.

Então. Por que a reportagem de Lilian Tahan não merece dez? Porque a matéria dela parece com um press release. Isso mesmo. Um texto realizado por uma assessoria de comunicação. Pois ele não cita nenhuma outra fonte que não seja do GDF. A repórter poderia procurar, por exemplo, algum técnico ou especialista para fazer uma avaliação ou um comentário dos modelos de trens urbanos que o nosso governador deseja trazer para o DF. A matéria de Lilian Tahan só diz maravilhas da empreitada do governador. Não que não seja. Mas, para ser legítima, poderia pelo menos consultar alguém de lá sobre os trens. Com isso, passaria a certeza de que Arruda não estaria... como é mesmo aquele ditado popular? Ah! Já sei. A senhora Lilian Tahan mostraria que o governador não estaria “trocando gato por lebre”. A nota que dou é zero!! Tadinha, gente. Acho que fui muito radical. Vou dar 0,5. Afinal ela é uma profissional competente.

Agora, convido o leitor a mais uma reflexão. Na mesma edição do jornal. Para ser mais preciso, na página sete há um anúncio do GDF – antes que eu me esqueça, a reportagem de Lilian Tahan está na página nove com o título “Três eixos para os trens urbanos”. É ou não é uma enorme coincidência? Para ajudar em sua reflexão, querido leitor, forneço-te mais informações da publicidade. A propaganda mede 156 cm/col. O centímetro por coluna (cm/col) é a unidade usada para calcular o valor de um informe publicitário. Segundo a tabela de preços do Correio Braziliense em vigor a partir de janeiro de 2006, 1 cm/col em uma página no formato standard do primeiro caderno equivale a R$ 159. Se a propaganda for colorida, acrescenta-se 30%, ou seja, R$ 47,7. A tabela informa também outros pormenores que aumenta o valor do cm/col, mas não usarei. Desculpe leitor, pela ignorância. Entretanto, com as informações acima, posso te dar a noção de quanto custa, mais ou menos, o informe publicitário publicado pelo GDF. Sem mais delongas, R$ 32.245,2.

Não quero com isso dizer que o GDF comprou o Correio Braziliense. Afinal, não tenho provas concretas. Mas quero, sim, convidar o leitor a refletir em tamanha coincidência.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Cotidiano (só que piorado pelo transporte)

Ao som da campainha do meu relógio, acordo. São 5h. A primeira coisa que lembro é do banho de água morna. Para falar a verdade, não gosto. Acho a pior parte. Entretanto, penso nos benefícios. Estar cheiroso no meio das pessoas e totalmente desperto.

Recentemente, a melhor parte do início dos meus dias, de segunda a sexta, vem depois do banho. Não é quando visto a roupa, caro leitor. É o café feito pelo velho. Não importa o lanche, o que realmente não pode faltar é o café que meu pai faz. Ele acorda no mesmo horário. Eu ainda não estou acostumado. Ele está.

Nosso diálogo é curto. Tomo o café, dou tchau, saio primeiro que ele, subo a rua ainda escura, observo o vazio. Os pensamentos afloram, como um computador que ordena as atividades do dia. Uma espécie de agenda cerebral.

Na parada de ônibus, outros moradores aguardam o transporte. Geralmente, são empregadas domésticas, agentes de serviço gerais, enfim, a dita mão de obra barata que deixa a cidade dormitório para manter a subsistência. Meus devaneios cessam com o vento gélido de junho e com o atraso do ônibus. O que será que aconteceu?

Ali, no horizonte, fito. É ele, finalmente. Pelo horário, suponho que seja. Mais próximo, percebo que não é. É o ônibus que vai para a W3 Norte. Como os outros, lotado. Espere! Atrás deles. Sim, esse sim. S.I.A./Cruzeiro. Por causa do ônibus que chegou primeiro, pára um pouco distante do ponto. Mesmo assim, impaciente, o povo vai de encontro. Por que não esperam o ônibus se aproximar? Questiono-me. Sinceramente, não entendo. Penso em permanecer no meu lugar e esperar, mas a antítese vem logo em seguida. Os outros passageiros pensarão: “Mas que cara folgado. Ele acha que é melhor que os outros, por isso não vai até o ônibus”. Sigo a manada. Bom. O ônibus já está atrasado, não custa nada economizar tempo. Tento me convencer de que faço a coisa certa.

As cadeiras estão lotadas. O corredor, mais ainda. Entro no ônibus já procurando onde segurar para não levar uma queda. O motorista não quer nem saber. Arranca sem dó. Quem está seguro, bem. Quem não está, azar. Deve pensar o motorista. No aperto, deixo a periferia. A penumbra do amanhecer a deixa até bonita, pois os cacos das casas ainda estão encobertos.

Procuro sempre ficar do lado que o sol nasce. Gosto de contemplar a paisagem do cerrado devastado. Momento que fujo da realidade dura e, as vezes, deprimente, depende do meu estado de espírito. Esqueço que estou em um ônibus caindo aos pedaços, lotado, com um barulho ensurdecedor e a passagem mais cara do Brasil. Fico me perguntando, se o dinheiro não é reinvestido para melhorar o transporte, para onde vai? Será que ele serve somente para pagar o diesel e os salários do motorista e do cobrador? Se é isso, concluo, o dono da empresa é um santo. Ajuda muita gente sem ganhar nada.


Aproxima-se do meu destino. Tenho que me antecipar porque senão o ônibus passa da minha parada. Se ele estivesse vazio, seria fácil chegar até a porta e descer tranqüilamente. Puxo a cordinha, o ônibus pára, desço, e sigo minha rotina, porém, piorada pelo transporte público.