Blog do Paraíso: setembro 2008

terça-feira, 30 de setembro de 2008

A crise é deles e não nossa


A crise do sistema financeiro dos Estados Unidos não deve ser preocupação dos brasileiros, afinal, se os americanos não estão preocupados, por que nós teremos que nos preocupar? Cheguei a conclusão de que eles não estão preocupados depois de saber que os deputados estadunidenses não aprovaram o pacote do Bush, de US$ 700 bilhões – isto que é pacotão, hein? Se eles estivessem realmente desesperados, teriam aprovado a medida da Casa Branca já na semana passada. Não teriam deixado para segunda-feira e nem para a próxima quinta-feira, o que quer dizer que os parlamentares estão pensando muito. No meu entender, quem ainda pensa não está desesperado.

Trunfo para o Lula


E o presidente Lula, hein? Rapaz, esse aí é que deve estar morrendo de felicidade. Sua aprovação chegou aos 80%. Quem diria? Não, e o pior é que a oposição já não tem argumentos para contestar ou explicar a popularidade do presidente. Antes eles diziam que Lula estava em alta porque ele era sortudo, estava governando numa período em que a economia mundial estava muito bem e, consequentemente, a economia nacional, também.
E agora, oposição?
A economia mundial enfrenta tribulação.
E por que o governo Lula ainda é aprovado pelo povão?

Para muitos, acordo ortográfico não muda nada


O novo acordo ortográfico, sancionado pelo presidente Lula, não mudará em nada a maneira de escrever de grande maioria dos brasileiros. Primeiro porque eles não escrevem – salvo raras exceções. Segundo porque, quando redigem alguma coisa, deixam de lado boa parte das regras já existentes. O sujeito que não usava trema, por exemplo, deve pensar “eu nem sabia que existia esse sinal então não vai mudar nada para mim”. Logo, não será muito difícil a adaptação. E a causa? Uma, não existe o habito da leitura em grande maioria dos brasileiros. De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada no primeiro semestre deste ano, a leitura fica na quinta posição das atividades preferidas dos brasileiros. Assistir à televisão fica em primeiro lugar, com 77%. Segunda causa, a educação de base é péssima. A última medição do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) revelou que a média nacional, de 4,3%, está abaixo da média mundial, de 6%. Terceira causa, e talvez a mais vergonhosa, o analfabetismo, em todas dimensões. Dados de 2007 do PNAD registraram entre a população brasileira a existência de 21,6 % de analfabetos funcionais. O número piora quando é somado aos 10% que são analfabetos, ficando em 31,6%. Portanto, em que a reforma ortográfica mudará a vida desses brasileiros?

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O 11 de setembro do outro lado do hemisfério


Mapa, livro, TV e internet são os meios de comunicação que uso para conhecer o mundo, sem sair do Brasil. Não sou o único. Milhares de pessoas nunca saíram de seus países, mas, de certa forma, conhecem o mundo. Milhares de pessoas não precisaram sair de suas casas para ver fatos históricos acontecer em nações distantes. Milhares de pessoas não saíram de casa, por exemplo, para ver as torres gêmeas do World Trade Center despencarem em questão de minutos, em Nova Yorke.

Em 11 de setembro de 2001, eu tinha 14 anos e era um viciado em desenho animado. E foi na expectativa de assistir ao “meu desenho” que liguei a TV na manhã daquela terça-feira, literalmente, cinza. A programação foi interrompida para um boletim de última hora. Inicialmente, o repórter dizia que se tratava de um acidente, aonde um avião colidiu com uma das torres gêmeas do World Trade Center. Mas, minutos depois, outro avião bateu na segunda torre. A transmissão era ao vivo, mesmo assim, a impressão que tive era de que estava vendo uma reprise, pois o repórter continuava afirmando que um avião se chocou com uma das torres gêmeas. Mas a confusão foi desfeita minutos depois, quando o repórter já tinha a informação de que se tratava de um atentado terrorista.

A impressão de reprise não foi só minha. A jornalista Angélica Tavares, que na época trabalhava como produtora da TV Nacional Brasil (NBR), conta que, na redação, os colegas observavam o segundo avião batendo achando que era uma repetição da cena. “Ninguém imaginava que um avião iria bater num mesmo lugar, logo em seguida”, explica. Segundo Angélica, a correria na redação começou depois que todos ficaram sabendo que se tratava de um atentado terrorista contra as duas torres gêmeas do World Trade Center e a sede do exército americano, o Pentágono. “Passamos o dia inteiro atrás de informações e repercutindo o caso”, relata.

Outra Angélica também participou da repercussão do atentado. Quando o primeiro avião bateu, a jornalista Angélica Coronel arrumava sua casa. Quem lhe avisou sobre o ataque terrorista foi seu namorado. “Ele me telefonou e disse que estavam destruindo os Estados Unidos”. Coronel ligou a TV, imediatamente, e passou a acompanhar o caso. À tarde, ela foi para a redação da TVE do Rio Grande do Sul. Chegando lá, Angélica foi informada que faria uma matéria sobre o assunto. Devido ao perfil da TVE, Coronel teve que fazer uma matéria mais analítica, portanto, entrevistou uma renomada socióloga, a Céli Pinto. Uma das questões foi sobre a probabilidade de uma terceira guerra mundial. De acordo com Angélica, a socióloga afastou essa possibilidade.

A matéria de Coronel também contou com uma personagem que estava em Nova Yorke. “Uma amiga minha, a jornalista Daniele Siqueira, fazia curso de inglês no World Trade Center”, conta. “Felizmente, a aula dela foi no dia anterior”. Segundo Angélica, Daniele deu uma entrevista por telefone contando o clima de terror que a cidade estava passando. Ainda assim, Coronel sentia satisfação em ver a maior superpotência do mundo sofrer um ataque. “Eu fiz a matéria, mas, por dentro, eu pensava ‘que coisa boa’”. Observando minha expressão seguida de um “por que?”, Angélica se vê obrigada a se explicar. “A minha satisfação era por causa do ataque contra o império e, não, pelas vítimas inocentes”, responde. “Eu não quero que você escreva na matéria que eu sou uma irresponsável e inconseqüente”, alerta. “Quantos inocentes os Estados Unidos mataram com a bomba atômica em Hiroshima e Nagasaki? Forma mais de 300 mil mortos. E no World Trade Center, 3 mil”, acrescenta.

Eu disse para Angélica Coronel não se preocupar, pois, como ela mesma pode observar, eu contextualizei a afirmação dela. E tem mais. Diante das atrocidades cometidas pelos Estados Unidos, quantos, além de Angélica, não sentiram satisfação em ver a superpotência fragilizada? Bom. Deixemos o moralismo de lado.

A repercussão do atentado assustou o comerciante Francisco Gonçalves Nascimento. Popularmente conhecido por “seu Chico”, Nascimento ficou sabendo do ataque terrorista quando estava trabalhando em seu boteco, que tinha uma televisão ligada. Ele ficou assustado porque, depois da batida do primeiro avião, a TV informou outros casos em lugares diferentes: a aeronave que caiu no Pentágono e o as outras que foram interceptadas, a caminho da Casa Branca. “Agora pronto”, ele pensou. “É o fim do mundo, meu Deus”.

Mas não foi somente “seu Chico” que pensou estar diante do fim do mundo. O desempregado Gilmar Araújo, então estudante do Ensino Médio, também. Gilmar passou a ter essa impressão quando estava na escola, pois era o assunto do momento. “Vários professores foram lá na minha sala conversar sobre o atentado”, diz. Araújo teve conhecimento do ataque terrorista da mesma forma que eu. Ele estava assistindo ao desenho animado, quando a programação foi interrompida para anunciar o boletim histórico. Também assim como Gilmar, eu só fui perceber a dimensão do ocorrido na escola.

Minha primeira aula daquela terça-feira foi de história. Mas antes de ir à escola, eu acompanhei o episódio até o momento em que as duas torres desmoronaram. Não porque estava interessado no assunto, mas, sim, por acreditar que, logo, logo, “o meu desenho” retornaria. Não foi o que aconteceu. Fiquei indignado. Naquela hora, o mais importante para mim era um desenho animado, apesar de ter sido um espetáculo ver aqueles enormes prédios despencando com tanta facilidade.

Fui para a escola e lá, felizmente, minha ignorância foi sanada. Segurando o livro aberto, meu professor disse que o 11 de setembro seria lembrado como um dia histórico para a humanidade e os livros escolares, portanto, deveriam ser atualizados. “Também não é para tanto, não é professor?”, alguns alunos duvidaram. “Claro que é”, ele respondeu. “Para vocês terem idéia do que significam, para os americanos, a destruição das torres gêmeas e o atentado ao Pentágono, é só imaginar um ataque aqui, no Brasil”, argumentou. “Seria como se houvesse a destruição de Brasília”, finalizou. “Só do Congresso Nacional?”, perguntamos. “Não! Eu falo de Brasília inteira”.

Em maio de 2001, o complexo World Trade Center foi arrendado por US$ 3,2 bilhões pelo empresário Larry Silverstein e a Westfield America Inc. O preço da construção de Brasília não pode ser avaliado devido às várias moedas que o país já teve desde 1960 e aos incontáveis empréstimos. Mas, se formos considerar o valor apresentado, em abril de 1966, pelo ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil Lincoln Gordon, Brasília ficou barata, comparando com o World Trade Center. De acordo com Gordon, a capital brasileira custou US$ 1,6 bilhões.

Depois daquela aula de história histórica, passei a prestar mais atenção ao noticiário. Como pode um acontecimento tão distante afetar nossa vida, aqui, do outro lado do hemisfério? “É porque a gente fica chocada com a quantidade de seres humanos mortos”, responde a questão “seu Chico”. “Muitos inocentes estavam trabalhando naqueles prédios”, acrescenta.

Sete anos depois do triste episódio, Osama Bin Laden, o responsável pelo atentado terrorista às torres gêmeas do World Trade Center, ainda não foi preso. Gilmar Araújo avalia que o ataque terrorista foi brilhante porque conseguiu atingir seu objetivo, furou a defesa da maior superpotência do mundo e ainda seu mentor não foi capturado.

Se por um lado o atentado de 11 de setembro mexeu com a vida de muitas pessoas no mundo inteiro, por outro lado, ele não representou nada para alguns. Sete anos depois e o desempregado Alberto Lima de Abreu não sabe o que aconteceu em 11 de setembro. “Seu Alberto, você lembra do ataque terrorista às torres gêmeas do World Trade Center?”, pergunto. “Cuma é?”. “É, seu Alberto, o atentado que aconteceu em 11 de setembro de 2001?”, insisto. “Eu nem sei que dia é hoje”, ele responde. Também pudera. Alberto Lima de Abreu não pôde acompanhar e entender o 11 de setembro porque, diferente de mim, nunca freqüentou à escola. Ele não sabe ler e nem escrever.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

O factóide começa a cair por terra


A verdade veio à tona. Laudo da Polícia Federal (PF) comprova que os equipamentos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) não são capazes de gravar conversas por telefone. Começa, portanto, a cair por terra a reportagem da revista Veja que revelou um suposto grampo na conversa do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Francamente, não sei como uma revista como essa ainda consegue pautar a sociedade e a imprensa. Bom. Falta ainda saber quem foi o vazador do suposto grampo e a mando de quem. Sinto cheiro de factóide no ar.

O que é um factóde?

De acordo com a Wikipédia, “é um fato divulgado com sensacionalismo pela imprensa, este pode ser verdadeiro ou não. Trata-se também de propaganda política mal intencionada. Têm-se notícia do uso do termo já na década de 50. O propósito de um factóide é gerar deliberadamente um impacto diante da opinião pública de forma à manipulá-la de acordo com as aspirações de poderosos grupos que se utilizam de sua influência na mídia. Estes, em alguns casos estão, ou aspiram ao poder”.

Lição de vida do anônimo do dia-a-dia


Encontramos diversos anônimos em nosso dia-a-dia. Para quem usa o transporte público, o número de anônimos é ainda maior. O motorista, o cobrador e os 48 passageiros sentados somam-se a outros 50 em pé. Os anônimos estão por toda parte. Estão nos milhares de carros que circulam pelas vias da Capital. No comercio. Na portaria do prédio residencial. No serviço geral. E foi um desses anônimos que me fez escrever este texto. Ele trabalha em um quiosque do tipo "copo sujo". Seu estabelecimento fica num ponto estratégico, próximo à parada de ônibus. Ali, no começo da W3 Norte. Além do local privilegiado, o quiosque oferece uma promoção quase irresistível, para quem anda com pouca grana. Um salgado mais um copo de suco saem por apenas R$ 1,50. A qualidade do alimento corresponde ao preço. A massa do salgado, confesso, não é das melhores. O suco não é natural, em contrapartida, não é de “pozinho da morte”. É um suco medíocre, mas saboroso. Para falar a verdade, de vez em quando, se você pedir os sabores de maracujá ou de goiaba, será servido com um delicioso suco natural. Dentre os salgados, o quiosque do anônimo oferece coxinha, pastel e enroladinho, todos com a mesma massa, ruim e dura. Mas desce. O anônimo trabalha com a mãe, uma morena de porte médio e que aparenta ter uns trinta anos. Nas primeiras vezes que freqüentei o quiosque, tive uma impressão ruim do anônimo. Toda vez que eu lhe fazia um pedido, ele ficava imóvel e olhava para a mãe. A mãe demorava. Eu insistia no pedido. E ele fazia cara feia e apontava para a mãe. Eu ficava pensando: “como pode um marmanjão desses com tanta preguiça. Por que ele mesmo não me atende? O que será que ele faz o dita todo aí?”. Mas, depois de um tempo, minha ficha caiu. Foi uma vez que encontrei o anônimo sozinho no quiosque. Antes de fazer o pedido, procurei pela mãe dele. Não encontrei. “Vai ter que ser ele mesmo”, pensei. “Me dá uma coxinha e um suco”, pedi-lhe. Movendo-se com dificuldades, o anônimo abriu a estufa, segurou dois guardanapos, que logo foram soltos em cima do salgado, de propósito, como se já estivesse habituado e se adaptado à situação. Isso porque o anônimo não conseguia fazer como uma pessoa sem a necessidade especial dele. Depois que os guardanapos estavam em cima do salgado, o anônimo, com muita dificuldade, pegou o alimento e me entregou. Em seguida, também com dificuldades, serviu-me o suco. O tempo que o anônimo usou para atender meu pedido era o triplo que sua mãe despendia para fazer a mesma tarefa. Só depois de ver toda aquela peleja que eu fui compreender porque o anônimo não me atendia quando sua mãe estava lá. Depois daquele dia, uma vez ou outra, eu faço um lanche rápido no quiosque. Também uma vez ou outra, o anônimo é quem me atende. E eu observo toda a dificuldade que ele tem para fazer isso. Fico admirando e refletindo. Que força de vontade. Que determinação. Vejo o anônimo como um verdadeiro professor. Professor que me dá uma lição de vida. E numa dessas aulas, eu, apressado, como das outras vezes, esqueci de fazer o pagamento ao anônimo. Dessa vez, eu tinha comprado somente um salgado, que me custou R$ 1. Só lembrei que não tinha pago o anônimo depois de entrar no ônibus. Pensei em descer e voltar. “Ah! Depois eu pago. Amanhã eu vou voltar aqui mesmo”, refleti. Durante a viagem, continuei refletindo. “É só R$ 1. Acho que não fará falta. E ele nem falou nada. Acho que até esqueceu de me cobrar”. Decidi não voltar lá para pagá-lo. Só que continuei refletindo. “O rapaz possui necessidades especiais. E se, por isso, ele achar que eu o fiz de besta. E se ele pensar que eu não lhe paguei justamente por que ele é daquele jeito.” Voltei atrás da minha última decisão e deliberei comigo mesmo que deveria pagar o anônimo. No outro dia, encostei-me no quiosque. A mãe dele dessa vez estava lá. Não falei com ela, fui direto ao seu filho. “Ontem eu estive aqui. Comi um pastel e não sei se eu te paguei. Você sabe se eu te paguei?” perguntei. Eu tinha certeza que não havia pago. Só fiz a pergunta para testar a sanidade mental do anônimo. Mas, para minha surpresa, ele respondeu “não”, de cara feia. Coloquei uma moeda de R$ 1 na mão dele e expliquei. “Eu bem que suspeitava que não tinha te pagado. Só fui perceber isso depois de entrar no ônibus, por isso que eu não te paguei. Mas aí eu pensei: amanhã eu passo lá e pago”. A expressão do anônimo já não era a mesma. “Eu também esqueci de te avisar”, ele disse um rosto mais amigável. A mãe observava a conversa também com expressão amistosa. Desejei-lhes um bom serviço e fui embora. Continuei refletindo. E percebi que agi com preconceito. Pensei que a deficiência na coordenação motora do anônimo afetava também seu juízo. E isso mesmo depois de nunca ter recebido um troco errado.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Viadutos, senhor governador, não melhoram o trânsito



A gestão do ex-governador do Distrito Federal (DF) Joaquim Domingos Roriz foi a recordista na categoria construção de viadutos – 34 no total. Roriz pensava que as obras melhorariam o trânsito na Capital do País e, de quebra, ele receberia mais votos, pois era uma festa na inauguração de cada viaduto. É fácil receber votos quando se realiza uma obra concreta. O povão vê. É por isso que o ex-governador inaugurou tantos viadutos, obras inacabadas e até postos de saúde já inaugurados. Disso tudo, Roriz só conseguiu mesmo os votos, inclusive, se ele se candidatar nas próximas eleições para governador do DF, pode até vencer – faço o sinal da cruz, bato na boca e três vezes na mesa. Mas os viadutos só renderam mesmo votos, melhorar o trânsito que é bom, nada! E o que eu falo é visivelmente percebido nos horários de pico. A construção dos viadutos só serviu mesmo, além de render votos, para aumentar o número de veículos em circulação na Capital. Hoje há mais de 1 milhão de veículos. Ou seja, para cada 2,6 habitantes existe um veículo. Em São Paulo, onde o caos no trânsito é considerado caso perdido, o número é menor: para cada 2,3 habitantes há um carro. Gente, felizmente, Roriz é coisa do passado. As únicas coisas que devemos lembrar são os acertos – quase nenhum – e erros – incalculáveis – para fazermos um DF melhor. Mas parece que o atual governador só está aproveitado os erros de Roriz. Para tentar sanar o problema no trânsito de Brasília (leia-se DF), José Roberto Arruda inaugurou, recentemente, um viaduto na Estrada Parque de Taguatinga (EPTG). Pergunte para quem circula por lá se a obra resolveu alguma coisa? Inclusive estou fazendo este comentário a pedido de um leitor do Blog do Paraíso. De acordo com esse leitor, a situação não mudou nada. O pior é que o Governo (GDF) pretende construir mais viadutos e alargar mais vias. Solução erronia. Pistas largas e desobstruídas são sinônimas de mais carro. É como na economia. Se você aumenta a demanda, com certeza a oferta terá que subir. A solução é fazer com que as pessoas deixem em casa o Carro, o que não quer dizer que elas deverão andar a pé para ir ao serviço. Pelo contrário, elas terão que usar o transporte público. Mas quem, em sã consciência, trocará o conforto do automóvel pelo martírio dos ônibus – com o perdão da palavra – fudidos.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Mito artificial para uma cidade artificial

As fotos abaixo são do IV Festival de Brasília de Cultura Popular. Todos os anos, durante o evento, surge a figura lendária do Calango Alado. O festival costuma acontecer no final do inverno, período de extrema seca na Capital do País. A explicação para tanta secura é encontrada no Mito do Calango Voador, como também é conhecido. De acordo com o criador do mito, Tico Magalhães, todos os anos, “quando o Calango Voador resolve matar sua sede e esfriar sua língua, que fica seca e quente por causa do pedaço de sol que traz em sua boca, um período de seca acontece e castiga o cerrado e as águas diminuem de volume”. Tico é integrante do grupo Seu Estrelo e o Fuá do Terreiro. O grupo é responsável por alimentar o mito com músicas, danças e brincadeiras. O Mito do Calango Voador combina com a cidade. Mito artificial para uma cidade artificial. Filho da Terra com o Sol, inicialmente o Calango não tinha asas. Elas surgiram no dia em que o Pescador tentou matá-lo. O Pescador é filho do Mar, que se apaixonou pela Terra, que se relacionou com o Sol pensando que o Mar havia lhe traído com a Lua. Está um pouco confuso, não é? Vou explicar. Na segunda parte do mito, Tico Magalhães escreve que a Terra e o Mar se amam, mas o Sol gosta da Terra e a Lua, do Mar. Para impedir o romance da Terra com o Mar, o Sol e a Lua mentem para a Terra, dizendo que a Lua está grávida do Mar. A Terra dá o troco se entregando para o Sol. O Mar ao saber da traição se enfurece e, para se vingar, manda seu filho, o Pescador, matar o filho da Terra com o Sol. Durante a empreitada, o Calango ganha assas de águia. De acordo com Tico, as asas foram dadas pelo Ar a pedido da Terra, que seu filho queria salvar. Bom. A história do Calango Alado é mais ou menos assim. Como se pode notar, é muito criativa.