Blog do Paraíso: abril 2008

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Pro Universitário do GDF atende até faculdade que não existe


O Pro Universitário do Governo do Distrito Federal (GDF) atende até faculdade que não existe. Alunos da antiga Unireal querem saber do governador José Roberto Arruda (DEM) como isso é possível. Desde o dia 18 de abril, a faculdade que hoje se chama Unisan foi fechada pelo Ministério da Educação (MEC). O motivo, a ex-Unireal funcionava clandestinamente. Mesmo assim, o GDF firmou convênio com a instituição. De acordo com os estudantes, a Unireal possuía dois campi. Um na L 2 Norte, no Plano Piloto. Outro, QR 214, em Santa Maria, periferia do DF. Até então, tudo era regular. Mas o campus da faculdade na L 2 Norte, que era a sede, foi vendido. Sobrou o campus da periferia, que se transformou em Unisan, um nova instituição, portanto. O problema é que a nova faculdade começou a funcionar sem regularizar a situação junto ao MEC. Sem querer saber dos inocentes estudantes, o Ministério fechou as portas da Unisan. Os alunos querem agora o apoio do governador Arruda. O pedido será feito hoje, 30 de abril, às 10h, durante a inauguração do Hospital de Santa Maria. O curioso é que o Hospital ainda não está totalmente pronto. “Dentro de três meses, o hospital estará à disposição da comunidade de Santa Maria. Tempo necessário para a compra de equipamentos modernos, contratação de profissionais e preparação das instalações para atender à população”, informa um panfleto distribuído para os moradores da periferia. Por que não inaugurar o hospital quando tudo estiver pronto? A resposta está na demagogia. José Roberto Arruda quer honrar a promessa que fez, durante a campanha para governador do DF. Ele prometeu que inauguraria o hospital em abril de 2008. Só que eu duvido que o Hospital de Santa Maria estará atendendo a população nesse prazo. O jeito é esperar para ver. E os alunos da Unisan? Pois é. Munidos de cartazes, eles prometem fazer uma manifestação para conseguir o apoio de Arruda. O objetivo deles é continuar os estudos na faculdade ou em outra instituição. Tomara que tudo dê certo.

Lula é um cara esperto


A campanha para vereador e prefeito só pode começar a partir de 6 de julho, é o que está escrito na legislação eleitoral. Mas o que dizer dos municípios que estão recebendo os eventos de assinatura de ordem de início das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)? Tem coisa mais demagógica do que montar um palco e chamar um monte de gente para assistir à assinatura de um documento? É isso que o presidente Lula está fazendo, de norte a sul. Detalhe, ele jura de pés juntos que não está fazendo campanha. Está certo. Se eu fosse ele, também não diria que estava em campanha. Como ele, não sou trouxa. Sei que serei punido se declarar o motivo dos eventos para assinatura das ordens de serviço do PAC. É por isso que eu sou fã do presidente Lula. Ele é um cara muito esperto. Está revolucionado a política no Brasil. “Nunca na história desse país” um presidente antecipou para tão cedo as campanhas para presidente e, de quebra, para prefeito e vereador.

terça-feira, 29 de abril de 2008

A imprensa e o cartel legalizado


Seu João, dona Maria, seu Zé e mãe Joana têm um boteco. Se eles combinarem o preço da cachaça, estarão cometendo um crime chamado de cartel. Apesar de ser proibida, a prática é legalizada em algumas situações, veja o caso da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, a Opep. Mas não precisamos ir muito longe para encontrar mais um tipo de cartel legalizado. Aqui mesmo no Brasil tem um, que é combinado através da impressa. Como? Com a rapidez da notícia em tempo real, os jornais de internet, rádio e TV publicam a notícia de que, por exemplo, o preço do arroz subiu. Muitos supermercados, que nem se quer acabaram de vender o estoque com o valor do alimento reduzido, tratam logo de remarcar os preços. Se não fosse a sede da imprensa de dar a informação o mais rápido possível, esse crime contra o consumidor poderia ser evitado. Por que não esperar todos os estoques acabarem para depois divulgar que o preço da nova safra subiu? A imprensa é muito útil, mas tem cada imperfeição.

Gerenciamento de crise no caso Isabella


Se depois da morte de Isabella, Alexandre Nardoni e Carolina Jatobá tivessem me contratado como assessor de comunicação para gerenciar a crise que começou quando a imprensa divulgou a primeira suspeita de que eles teriam sido os autores do crime, talvez a imagem deles não estaria tão ruim. O pai e a (má)drasta de Isabella ficaram expostos na mídia durante um mês. Praticamente todos os dias a imprensa revelava (declarava) uma informação (fornecida pela polícia, é claro) a mais sobre o caso. Em comunicação, o mais aconselhável no gerenciamento de crise é contar tudo, e de uma vez, para evitar tal superexposição. Em comunicação, assume-se que a imagem será arranhada ao passar por uma crise. É consenso, no entanto, que pode ser pior, se não houver um bom gerenciamento. Portanto, se eu fosse o assessor de comunicação do casal, escolheria um porta-voz, no caso, o pai de Alexandre, Antônio Nardoni, afinal, ele é advogado e sabe o que não deve falar. Seria o técnico da área. E só ele falaria para evitar contradições. Em seguida, Antônio devia contar tudo, só que dando uma explicação plausível. Podendo até confessar o crime cometido pelo filho e a nora. Se isso tivesse acontecido, pelo menos, três semanas atrás, o caso já estaria resolvido. A polícia não teria tido tanto trabalho. E a imagem do casal não estaria conhecidíssima no território nacional. Mas não. Eles não sabem o valor de um comunicador. Contrataram só advogados, que negam e negam perante fatos, provas e evidências tão óbvias de que FORAM ELES, como escreveu Veja.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Por favor, não entregue a “palavra de Deus” para minha cachorra



O correto é bravo ou brabo? De acordo com o minidicionário da língua portuguesa Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, as palavras são sinônimas, quando usadas para qualificar uma pessoa ou animal furioso. Se meus vizinhos tivessem o costume de consultar um dicionário toda vez que vissem uma palavra duvidosa, quanto à escrita, certamente uma placa que eu coloquei no portão de minha casa não teria causado tanta confusão. Escrevi os dizeres “Cuidado, cão brabo”. Os conhecidos acharam um absurdo a grafia e protestaram. Tive que explicar porque eu escrevi “brabo” em vez de “bravo”. Já que o dicionário Aurélio diz que ambas as palavras estão corretas, preferir optar pela mais coloquial. Se eu tivesse escrito “Cuidado, cão bravo”, ficaria muito chique. Mas o mal entendido causado pelo anúncio é também um bom sinal. Os paladinos da língua portuguesa estão presentes até na periferia. Mais interessante que a confusão causada pela grafia da placa é o motivo de eu ter a colocado no portão. Numa bela manhã de sábado, sabe aquele crente que sai entregando a “palavra de Deus”? Ele enfiou a mão na abertura do portão da minha casa oferecendo um panfleto. Para o azar dele, quem o recebeu primeiro foi minha cachorra. Não cheguei a ver o estado da mão do “servo de Deus”, mas, pelo que me contaram, ele quase perdeu um dedo. Decidi, portanto, não evangelizar minha cachorra. Coloquei a placa para que nenhum outro crente entregue para ela uma “palavra de Deus” recheada.

domingo, 27 de abril de 2008

Quem é o pai do PAC?


Se a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, é a “mãe do PAC” (Programa de Aceleração do Crescimento), quem é o pai? O presidente Lula? O ministro do Planejamento ou da Fazenda? Observe, caro leitor, na promiscuidade que a ministra Dilma se envolveu. Não dá para saber a paternidade única do PAC. No entanto, o Programa não é um filho bastardo, pois o pai dele é todo o Governo Federal. Perceberam? Uma mãe e vários pais, já que ninguém governa sozinho. Das duas uma. Ou a ministra da Casa Civil é uma pervertida. Ou a história de ser a “mãe do PAC” é, nada mais, nada menos, que uma ótima jogada de marketing visando às eleições presidenciais de 2010. Ah! Acho que pode ser as duas coisas. E você, amigo leitor?

O mínimo continua mínimo


O mínimo antes...
Em 1995, com apenas R$ 1 você fazia a festa na padaria. O pão custava apenas R$ 0,05. Naquela época, você podia encontrar o pão francês por um preço até menor. Alguns supermercados chegavam a vender a unidade por R$ 0,01, só que tinha limite de uma dezena para cada freguês. Mas... Vocês sabem como é, né? Brasileiro é brasileiro. E sempre dava um jeitinho de ir ao supermercado acompanhado. O pai levava os filhos, a esposa e, quem diria, até a sogra. Cada um com R$ 0,10 trazia, ao todo, 50 pães. Era pão para dar e vender. Pão para semana inteira.
O mínimo depois...
Mas naquela época, se por um lado o pão francês era barato, por outro a renda do brasileiro era bem menor. O salário mínimo equivalia R$ 100. Logo, R$ 1 era considerado um dinheirão pelas classes de baixa renda. Hoje, o pão francês não é mais vendido a unidade. Cada quilo de pão sai por R$ 5,40. É possível, portanto, comprar cinco pães com R$ 1. Em 1995, com o mesmo dinheiro, se comprava 20 pões, quatro vezes a mais. Porém, o salário mínimo de hoje, R$ 415, é mais que o quádruplo do mínimo daquela época. O que isso quer dizer? Nada mudou.
E agora?
O próximo aumento do salário mínimo está previsto para o ano de 2009, em contrapartida, o aumento do trigo está previsto para... Agora. O principal país exportador de trigo para o Brasil, a Argentina suspendeu na penúltima semana de abril a venda da commodity para o exterior. O governo brasileiro terá que comprar trigo mais caro dos Estados Unidos e da Alemanha.

Zelar para não perecer


Os meios de comunicação tradicionais, rádio, TV, jornal e revista estão deixando de ser as únicas fontes de informação, desde o advento da internet. Os veículos especializados em divulgar notícias têm, na sociedade do conhecimento, o mero papel de selecionar as informações oriundas de fontes oficiais. Veja o caso do Estado Brasileiro. Os poderes legislativo, judiciário e executivo possuem canais de divulgação de informação, dentre eles, rádio, TV, jornal impresso e internet (Agência de Notícias). Isso sem contar as empresas privadas e as organizações da sociedade civil, que também são fontes de divulgação de informação. Somam-se ainda as notícias produzidas por blogueiros independentes, como eu. Com uma oferta tão grande de informação, por que o público deve se dirigir a um veículo tradicional? Para saber o que o Congresso Nacional está fazendo, basta acessar as agências de notícias do Senado e da Câmara. Qual é a necessidade, portanto, de ler o caderno de política de um jornal impresso ou assistir à um telejornal? O leitor ou telespectador, por enquanto, opta pelos veículos tradicionais porque acredita na qualidade da informação produzida por eles. Mas se não houver um zelo por essa qualidade, a audiência dos meios de comunicação tradicionais continuará caindo, principalmente dos veículos impresso.

sábado, 26 de abril de 2008

Os índios estão se tornando brasileiros


De vez enquanto, sem querer, vejo um, dois ou três índios aculturados perambulando pelo setor comercial sul, em Brasília. Eles não andam pelados, mas usam adereços indígenas, como cocares e pinturas. No entanto, não é por isso que sei que eles são índios. Até mesmo porque já vi por lá indígenas sem esses enfeites e os reconheci. Reconheci pela pele vermelha. Pelos olhos puxados. Pelos cabelos escorridos. E pela aculturação. Os índios estão deixando de ser índios. Eles estão se tornando brasileiros. É uma pena. Qual é a nossa cultura? É a dominante. Nossa cultura é a que tenta se parecer com a cultura ocidental (leiam-se grandes centros de países desenvolvidos). Cultura popular que nada. O que vemos nos cinemas são superproduções holiudianas. Lemos best sellers. Enfim, nossos pés estão no Brasil, mas nossa cabeça... Sabe-se lá onde ela está. E os índios do setor comercial sul? Tadinhos. Pouco a pouco estão se transformando em brasileiros. Esse processo é acelerado cada vez que as poucas reservas indígenas perdem espaço e são tomadas por vastas plantações de grãos. A ignorância de outrora, do tempo do descobrimento, sim, a de que índio é preguiçoso, quer só ficar no mato vadiando, não quer estudar para conseguir um bom emprego, enfim, a idéia de que a cultura do outro não é a certa, infelizmente, ainda existe. É difícil para muitos aceitar que a cultura do ocidente não é melhor que a cultura dos índios da reserva Raposa Serra do Sol, por exemplo. Mas não. Muitos dizem: “o costume do ocidente é melhor porque é moderno, democrático, civilizado. O costume indígena, o que é aquilo? Não é costume, pois todos são bárbaros.” Se essa afirmação está correta, as duas grandes guerras mundiais devem ser lembradas com louvor, afinal, as nações que se envolveram nelas possuem costume “civilizado e moderno”. Afinal, a cultura ocidental não é bárbara, ainda que seus seguidores continuem enviando tropas para o Iraque.

Fuja da máfia do lead, leia blogs


Se eu disser que as notícias sobre o dossiê que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, produziu são factóides, meus leitores me chamarão de petista. Mas e se a afirmação vier do jornalista Luis Nassif? Bom. Também o chamarão de petista, mas pensarão duas vezes, afinal, Luis tem nome, experiência, e não sairia falando por aí asneiras, como um jovem como eu. Recentemente, Nassif foi à faculdade que estudo dar uma palestra sobre uma série de reportagens publicadas em seu blog denunciando os podres da revista Veja. Muita coisa dita, na ocasião, eu já sabia de tanto observar a imprensa. Ex-colunista do jornal Folha de S. Paulo, Nassif falou da máfia do lead, ou seja, os poucos jornais de grande circulação que existem dão sempre a mesma manchete, em determinadas crises. Quer dizer, se você é jornalista e faz uma matéria sobre o dossiê Dilma, ela tem que ser bastante parecida com outras reportagens de outros jornais sobre o mesmo assunto. Se isso não acontecer, sua matéria vai ser considerada errada. No entanto, Luis Nassif disse que a internet está sendo a alternativa para escapar da máfia do lead. Para ele, o leitor de blog é, recentemente, o leitor mais bem informado. Antes de acreditar numa informação que sai na impressa, segundo Nassif, o leitor sempre recorre aos blogs para saber mais, para aprofundar mais a discussão. É por esses e outros fatores que acredito que estamos tendo a oportunidade de democratizar a comunicação, tanto no que diz respeito ao acesso quanto no que se refere à divulgação da informação.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

É lamentável.


O que será que as crianças deste meu Brasil estão pensando, após serem bombardeadas pela imprensa com as notícias do caso Isabella? É salutar para elas receber todos os detalhes do crime hediondo que a pequena sofreu? Como deve ficar a cabeça de uma criança que a todo momento é informada que o pai, figura que em princípio é a defensora de sua cria, foi o provável assassino de sua própria filha? Acredito que os comunicadores não estão nem aí com as respostas que essas perguntas podem gerar ou revelar. O que eles querem saber é do aumento da audiência. Os telejornais, por exemplo, aumentaram em 46% sua audiência, conforme uma coluna do jornal Folha de S. Paulo. É lamentável.

Só falta desenhar.


Para condenar a (má) madrasta Ana Carolina Jatobá e o pai de Isabella, Alexandre Alves Nardoni, só falta a polícia desenhar o crime. As provas técnicas mostram com evidência que os culpados pelo crime FORAM ELES, como escreveu Veja (adoro essa revista). O Brasil é realmente o país da sacanagem. Olha só. Se Jatobá e Nardoni fossem dois Zés Ninguém, a polícia não teria feito todo esse trabalho para deixar claro o crime dos dois. Se eles fossem pobres, já estariam julgados, condenados e enjaulados (e, nos bastidores, espancados).

Quero desdizer o que eu disse antes.


Sim. Tem gente que lê o Blog do Paraíso. Desde o meu último post tenho observado que a audiência deste blog não tem caído. Ele recebe, por dia, 15 visitas. Já teve, no total, 3.600 acessos. Quando eu anunciei que eu não postaria mais de cem post, recebi, na faculdade, um chamado do jornalista acreano radicado em Brasília (é assim que ele se denomina), Piter Lucena. “Pô, Zé! Eu sou o seu leitor”, reclamou Lucena. E, observando esses números de leitores que entram no meu blog, não posso continuar com meu egoísmo. Tenho que desdizer o que eu disse antes. Logo, anuncio que o Blog do Paraíso terá mais de cem post.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

ANÁLISE COMPARATIVA DAS CAPAS DAS REVISTAS CARTA CAPITAL E VEJA, DURANTE A COBERTURA DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2006

INTRODUÇÃO
A capa de uma publicação diária ou semanal é de fundamental importância, pois funciona como um laço para prender o leitor. Ela pode ser comparada com o cartão de visitas, ou de boas vindas. Na realidade, é uma propaganda das principais informações. É nela que acontece a hierarquização da notícia, onde é feito o agendamento dos fatos a serem discutidos pela sociedade. Há uma verdadeira comunicação de impacto, capaz de influenciar o público consumidor. Portanto, escolhi a capa de revista semanal como objeto de análise.
ANÁLISE
A partir do consenso de que é impossível a isenção total, analisei a cobertura das eleições presidenciais de 2006. Vi como duas revistas semanais cobriram a campanha dos principais candidatos, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB). A começar por Carta Capital, fundada em 1994 pelo italiano Demetrio Carta.

No dia 13 de setembro, Mino Carta, como também é conhecido, escreveu um editorial, com a seguinte chamada de capa: “A nossa opção por Lula e suas razões”. Ele disse qual era a posição da revista acerca das eleições presidenciais. Com o título “Por que a reeleição de Lula”, o editorial conta que não é a primeira vez que a revista declara a opção pelo então candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Mino reconhece a impossibilidade da isenção total. “Isto, em castiço, chama-se hipocrisia”, escreve.

Apesar da escolha do candidato Lula, Mino ressalta não ter passado a mão na cabeça do presidente. “Esta revista não se furtou, nos últimos quatros anos, às críticas às vezes contundentes, ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva”. Em síntese, o texto deixou clara a posição da revista. Carta Capital terá um papel fundamental nessa análise, pois será comparada com outra revista semanal, Veja, a quarta maior do mundo.

Funda em 1968 pelos jornalistas Victor Civita e Mino Carta, Veja é considerada a revista de maior circulação no Brasil, com uma tiragem superior a um milhão. Inspirada na revista estadunidense Time, tem como público-alvo as classes média e alta.

Após a disputa do segundo turno das eleições presidências entre o tucano Geraldo Alckmin e o petista Lula, a edição de Veja de número 1.980, do dia primeiro de novembro, pública um editorial com a posição da revista. Diferente de Carta Capital, não faz chamada na capa. Intitulado “Do lado do Brasil” – o que supõe imparcialidade da revista – o editorial começa com um comentário sobre uma charge do Jornal do Comércio, de Porto Alegre, aonde aparece um dos personagens, com traços do presidente eleito, pedindo “revista de sacanagem”. O interlocutor questiona: “qual delas?”. “A ‘Veja’, aquela que só me sacaneia!”, responde.

O editorial diz que a charge é apenas uma piada e não deve ser levada a sério, mas é uma oportunidade de explicar qual é o “único e verdadeiro propósito” da revista. “Embora os próprios criticados e denunciados possam se sentir pessoalmente ofendidos, e por extensão também seus partidários e admiradores, o fato é que VEJA não tem por objetivo fustigar ninguém. Sua história está aí para provar. A missão a que VEJA se propõe é a de fiscalizar todos aqueles que estão no poder, não importa a agremiação que pertençam”. Apesar de se dizer não neutro, o editorial encerra reafirmando a imparcialidade, pois dizer que está do lado do Brasil é o mesmo que afirmar isenção.

A prova concreta de que o editorial enganou o leitor ao reafirmar a imparcialidade pode ser encontrada na capa da revista publicada no dia 10 de maio. Símbolo de total falta de respeito para com o presidente da nação. Uma verdadeira “sacanagem”, como diz a charge. Em uma foto montada, Lula aparece com uma marca de bota na bunda, como se tivesse levado um ponta pé. Do sinal, escorre um líquido preto simbolizando o petróleo. A manchete “O Ataque à Petrobras. ESSA DOEU!” supõe que o petista foi expulso do país, literalmente, com um chute no traseiro. A capa traz também o seguinte texto: “Lula dormiu como o ‘grande guia’ da América Latina e acordou como mais um bobo da corte do venezuelano Hugo Chávez, que tramou o roubo do patrimônio brasileiro na Bolívia”. Entre aspas, as palavras “grande guia” dá um tom irônico.

A cobertura acerca da nacionalização das reservas de gás da Bolívia poderia ser feita de outra maneira e sem tanto desrespeito para com o presidente Lula, assim como fez a revista Carta Capital, publicada no mesmo dia, 10 de maio. Uma foto de Evo Morales aparece estampada na capa, precedida da manchete “AS RAZÕES DA BOLÍVIA”. Há também três períodos. O primeira diz tudo por si só: “Não há surpresa na decisão de Morales, a favor de um país espoliado. Conta com a compreensão do governo Lula, mas só falta a mídia pedir o bombardeio de La Paz”. A segunda faz um ataque a oposição. “Quem lembra que a dependência do gás boliviano é obra do governo FHC?”. A última é semelhante a oração inicial, pois também justifica a posição do presidente brasileiro. “Os prejuízos da Petrobrás são pequenos em comparação com os lucros que ela obtém, graças ao aumento do preço do petróleo”.

Não é perfeita a cobertura de Carta Capital. Mas a revista ratifica a posição a favor do governo. E mostra também a possibilidade de outra representação da realidade. Entretanto, como Veja se diz imparcial ou que não faz “sacanagem” com nenhum governo, deveria no mínio noticiar o outro lado. Dessa forma ela não estaria sendo totalmente isenta, mas disfarçaria mais.

Outra capa interessante e cômica, que dá a entender qual é a real posição da revista Veja, foi publicada no dia 27 de setembro. Onde Lula, representado numa charge, aparece com a faixa presidencial nos olhos. Não há nenhum texto. Mas existe uma denotação. A de que o petista não sabe de nada, não viu nada. Para não ficar só na suposição do significado da charge, o editorial, intitulado “Até quando?”, faz uma acusação: “À luz da lei eleitoral não adianta (Lula) alegar que não sabia ou que afastou o companheiro depois do crime cometido”.

Mais adiante, a seção “Brasil” é dedicada inteiramente para a cobertura da tentativa de compra de um dossiê – na madrugada do dia 22 de setembro, a Polícia Federal flagrou dois petista, Valdebran Padilha e Gedimar Passos, com 1,7 milhão de reais tentando comprar um dossiê contra o tucano José Serra, então candidato ao governo do estado de São Paulo. São, nada mais, nada menos que 26 páginas. A reportagem tem início na página 59 com um texto intitulado “Um tiro no pé às portas das eleições”. No primeiro parágrafo, qualifica a tentativa de compra do dossiê como um crime. Porém, não há nenhum artigo na legislação brasileira condenando a prática. O texto é bastante incisivo e cheio de suposições. “Pela proximidade dos seus autores confessos e dos suspeitos com a campanha de reeleição do presidente Lula e com a própria instituição da Presidência da República, as conseqüências legais podem ser severas. Entre os trágicos resultados potenciais do crime está até a impugnação da candidatura de Lula. Se isso vier a acontecer, o PT terá feito algo inédito em sua rica trajetória de delinqüência (SIC).”

O texto de abertura se encerra com uma acusação ferrenha, mesmo sem provas. “Por ter criado e mantido um ambiente propício à propagação da corrupção em seu governo – e sem prejuízo de todas as sanções legais e que se expôs como candidato e presidente –, Lula é o patrono da desastrada compara com dinheiro sujo do falso dossiê”. Se não é uma “sacanagem”, seria o que senão uma tentativa de minar a candidatura à reeleição do petista? Será que o “Lado do Brasil” é esse?

Das páginas 76 a 79, a revista acusa até a Polícia Federal (PF). Com o título “A PF finge que investiga...” e sutiã “... enquanto o PT tenta achar alguém para assumir a titularidade do 1,7 milhão de reais apreendidos”, a matéria afirma que “A PF vazou a informação de que havia interrogado funcionários dessa agência do BankBoston, na Lapa, em São Paulo, e era de lá que tinha saído parte do dinheiro apreendido com os petistas. Na verdade, a agência nunca foi investigada”. Mais adiante, a revista faz uma comparação entre a tentativa de compra do dossiê com o caso do Watergate, que levou a renúncia do presidente estadunidense Richard Nixon. Faz, portanto, a previsão da renúncia ou impugnação da candidatura de Lula. A próxima matéria, nas páginas 80, 81 e 82, reforça a comparação. “‘Pior do que o Watergate’” é o título e também citação do presidente do TSE, Marco Aurélio.

Em contrapartida com a cobertura da tentativa de compra do dossiê, Carta Capital também publicou uma matéria sobre o caso, no mesmo dia que Veja foi às bancas. A capa aparece com a estrela do PT com uma metade na penumbra. O leitor logo sugere que a metade do símbolo petista numa quase sombra, e outra na luz, refere-se a um partido dividido entre o bem e o mal. “O lado escuro do PT”, a manchete confirma o que o leitor deve imaginar. “A compra de um dossiê contra Serra expõe a banda podre do partido. Ao agir na penumbra, em associação com a máfia dos sanguessugas, o grupo arrasta o presidente mais uma vez para o centro de uma crise (SIC)”, diz o texto seguinte, que ratifica a manchete e a ilustração. Para fazer diferente de Veja, Carta Capital tira o foco, ou a culpa, de Lula no editorial “Os petistas do senhor Vedoin”. Já no início, reforça mais ainda a capa: “A consciência primitiva costuma se esfacelar para reduzir a vida ao embate do Bem contra o Mal. Tudo seria, por certo, mais simples. Em troca, a experiência humana perderia a sua complexidade e riqueza ou até mesmo sua humanidade”. Outra coisa diferente na publicação é o número de páginas dedicadas, apenas sete. Mais uma vez a cobertura feita por Carta Capital comprova a parcialidade da revista Veja, que tema em dizer estar do “Lado do Brasil”.

Parcial, Carta Capital publica no dia 04 de outubro, ou seja, quatro dias após as eleições do primeiro turno, uma reportagem para justificar a derrota do petista. Abaixo das fotos de Lula e Alkmin estampadas na capa, o título “O peso de São Paulo”, precedido pelo texto: “A baixa votação de Lula no estado e o impacto do escândalo do dossiê contra Serra influência o resultado eleitoral e levam Alckmin para um novo confronto com o presidente”.

Já a revista Veja, publicada no mesmo dia, denota a preocupação com o país após as eleições, antes mesmo do resultado do segundo turno. Talvez seria o “já ganhou”. Pode até ser, porque a revista escreve que “O presidente eleito terá uma tarefa clara: diminuir o peso do Estado”, denotando o estrago feito pelo atual. Também na capa, mas com menos destaque – pois o impacto já foi causado –, há uma referência ao “Dinheiro sujo do PT”, como diz o texto acima da manchete “Apareceram as fotos” – referente à publicação, no dia 29 de outubro, das fotos do dinheiro que seria usado na compra do dossiê. As imagens foram amplamente divulgadas nos sites dos jornais O Globo, Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo e, mais tarde na TV, no Jornal Nacional.

Na semana seguinte, mais precisamente no dia 11 de outubro, “O desafiante” é o título da manchete de capa da revista Veja, onde o tucano Geraldo Alckmin aparece com um sorriso estampado no rosto. Do lado, o texto: “Geraldo Alckmin – destacado com a cor vermelha em meio as demais palavras em branco – teve 40 milhões de votos no primeiro turno. Agora ele é uma ameaça real à reeleição do presidente Lula – otimismo da revista, que ignora as pesquisas de intenções de voto –. Como funcionaria a economia com Alckmin eleito”, sonha a revista semanal. Entretanto, o mais importante a ser observado é que, no período eleitoral, Veja não fez uma se quer reportagem de capa com o presidente Lula para prever, por exemplo, como “funcionaria a economia”, se ele fosse reeleito.

Carta Capital, por ser lulista autodeclarada, deveria fazer como Veja, por na capa uma foto de Lula com um sorriso arregalado. Entretanto, publica uma caricatura dos dois candidatos, um do lado do outro. Dentro do carro vermelho e com o número 13, o que seria o petista é posicionado um pouco mais à frente do veículo de número 45 e amarelo, simbolizando uma corrida com Alckmin. A manchete, “Lula larga na pole”, e o texto, “Primeiras pesquisas indicam que o presidente começa a disputa do segundo turno à frente de Alckmin. Na caça por alianças políticas, os dois candidatos partem para o vale-tudo”, confirma a suposição que o leitor pode ter.

Não satisfeita com a derrota de Lula no primeiro turno, Veja publica no dia 18 de outubro uma reportagem com a retranca “Dossiêgate” – alusão ao caso do Watergate. A manchete “Limpeza de Alto risco” e o sutiã “A operação para encobrir a origem do dinheiro pode ser ainda mais devastadora para o governo”, casada com a imagem de uma luva vermelha – cor do símbolo petista – segurando um pano e, ao lado, uma marca de sola de sapato ornamentada com figuras de reais e dólares, sugere realmente, ao leitor, uma estratégia traçada pelos petistas para não revelar de onde veio o dinheiro.

Também no dia 18 de outubro Carta Capital publicou uma reportagem contra os principais veículos de comunicação do Brasil. Apesar de não citar a revista Veja, a matéria denúncia a omissão da conversa gravada entre o delegado Edmilson Pereira Bruno e os jornalistas, que receberam dele um CD com as fotos do dinheiro para compra do dossiê. A manchete “A trama que levou ao segundo turno” é uma verdadeira defesa do presidente Lula, apesar da importante contribuição como observadora da imprensa brasileira.

Na semana seguinte, dia 25 de outubro, a seis dias das eleições, Carta Capital faz a seguinte chamada de capa na publicação: “Contribuições ao Dossiê da mídia” – dando a entender que o fato da tentativa de compra de acusações contra o tucano José Serra é um produto midiático. Acima da manchete, o símbolo da rede de televisão Globo e da revista Veja, e abaixo, o seguinte sutiã: “Kamel, da Globo, protesta: será que ouviu ou leu as gravações do diálogo do delegado Bruno com os repórteres? Estranho, muito estranho. É certo, porém, que a emissora recebeu as fotos dos dinheiro antes dos concorrentes”. O texto da chamada de capa encerra contestando a outra revista: “Já no caso da Veja, sobre o encontro de Freud com Gedimar, horários e datas não batem. Entre outras coisas...”.

O paralelo até aqui traçado entre a cobertura das revistas Veja e Carta Capital comprova claramente a possibilidade de um fato ser tratado de diversas maneiras. Mostra também que ambas são parciais. Entretanto, uma não assume imparcialidade.
CONCLUSÃO
A partir do momento que um sujeito decidiu transmitir informações em uma pedra, panfleto ou qualquer outro tipo de meio, assinou, de forma simultânea, um termo de compromisso. A principal obrigação dos meios de comunicação, desde os primórdios, é informar bem e de forma franca o público. A imprensa fez um contrato não oficial com a sociedade. Entretanto, ele é reconhecido por todos. Em caso de rescisão, há uma clausula punitiva: a perda da credibilidade.

Para escapar da sanção da opinião pública, vários meios de comunicação criaram o mito da imparcialidade. Inventaram o texto objetivo para se proteger. Felizmente, com o passar do tempo, estudiosos e pesquisadores minaram a quimera da isenção total. A teoria do “espelho da realidade” foi totalmente contestada. Contudo, há ainda empresas noticiosas que pregam o mito da objetividade. Elas ludibriam o público com informações deturpadas. Quando são desmascaradas, sem perder tempo, se prontificam em apresentar diversos argumentos lógicos. O maior de todos, mais perverso, hipócrita, ilusório e mais ostentado é o da imparcialidade.

Transmitir uma informação cheia de interesses velados é uma tremenda falta de honestidade. É a quebra do contrato entre a imprensa e o público. Portanto, é de fundamental importância o veículo noticioso especificar o contexto organizacional do qual faz parte. Avisar o leitor, ouvinte ou telespectador o que de fato está consumindo é obrigação de todos. Pois, estará cumprindo o compromisso principal e fundamental de informar bem e de forma honesta.

Essa análise comparou duas revistas bastante antagônicas. Uma, hipócrita. Outra, honesta, pois não fez questão de enganar o leitor com o mito da imparcialidade. Carta Capital honrou o contrato com a opinião pública. Já a revista Veja, como observamos, não. Ela mentiu ao dizer estar do “Lado do Brasil”, quando, na realidade, defendia os interesses de uma parcela da sociedade brasileira. Apesar de não termos citado, nestes estudo, o país estava basicamente dividido entre rico e pobres, segundo as pesquisas realizadas na época do período eleitoral. Não houve uma separação absoluta, mas, grosso modo, houve uma certa luta de classes.

Veja não poderia perder credibilidade diante dos banqueiros, dos grandes fabricantes de carros, das empresas multinacionais e transnacionais, enfim, dos anunciantes. Todos provavelmente apoiadores do candidato Geraldo Alckmin. Ou seja, o outro Brasil, a elite.

Há quem diga que Carta Capital tomou determinada posição por causa do principal anunciante: o governo. Talvez seja a explicação. Mesmo assim, foi honesta. Não ludibriou o leitor velando o real interesse. Com chamada de capa, publicou a posição claramente. Deu, portanto, liberdade de escolha para o leitor. Se todos meios de comunicação fizessem assim, haveria diversas posições. O público poderia escolher o lado ou a construção da realidade que mais o agradava.