Blog do Paraíso: maio 2009

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Ética? Que nada. Eu quero é fazer um bom negócio


Como eu posso fazer uma cobertura jornalística, e honesta, da gestão do governador José Roberto Arruda (DEM), se uma empresa minha presta serviço para o Governo do Distrito Federal (GDF)? Nessa situação, seria a mesma coisa de eu falar mal do meu chefe, em público, e na frente dele. Obviamente, meu chefe me demitiria. Para não perder o meu emprego, eu, portanto, não falo mal do meu patrão, ainda que ele seja corrupto ou execute uma má gestão.


Amigo (e)leitor, eu não tenho nenhuma empresa que presta serviço para o GDF, logo, não me encontro na situação citado acima - e nem pretendo! Mas – para a desgraça da sociedade – a história é real. Existe em Brasília um jornalista que aparece na TV como o tal e, antes de sua empresa ser contratada pelo GDF, ele criticava o governo do Arruda a torto e a direto.

Mas Paraíso por que você não diz o nome desse crápula? Porque, prezado leitor, não tenho nenhuma prova concreta dessa informação. Ela me foi passada numa conversa informal. Eu só estou divulgando aqui para você ter idéia de até onde pode chegar a falta de ética de um jornalista. Com isso, quero também te alertar que você deve ler, ver ou ouvir as notícias sempre com um pé atrás. Entendeu? Espero que sim. Um forte abraço. Até o próximo comentário.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Capítulo VII

Atento, o mico olhava para cima e para baixo. Para o lado esquerdo e para o lado direto. Ele ia de um ombro ao outro. Subia e descia da cabeça de Hamixiaire, que se aproximava da calçada em que Marciano estava sentado, tomando o sol daquela manhã de céu azul e refletindo o que acontecera na madrugada.

Naquela rua, badalada, não era comum pessoas como Hamixiaire. Aliás, não era comum naquela cidade, quero dizer, naquele país, um sujeito andar com um mico nas costas. Mas os ignorantes de outros países não pensavam bem assim. Para eles, todos os conterrâneos de Marciano andavam como Hamixiaire.
- E aí?
- E aí? – respondeu Marciano.
- Tá de boa?
- Tô nada... levei um atropelo nessa madrugada.
- Como foi?

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Veja o vídeo sobre a censura em jornalistas de Minas



Uma das funções deste blog é reverberar fatos importantes com o principal objetivo de democratizar a informação. É por essa razão que publico acima um documentário sobre a censura que o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), está fazendo na imprensa mineira. O mais lamentável é que a prática não é exclusiva de Aécio. Em vários outros estados do Brasil a imprensa é comprada e, consequentemente, censurada. Mas nem tudo está perdido. Neste blog há liberdade de expressão, porque – por enquanto – ainda não descobriram uma maneira eficiente de censurar a internet brasileira, se não estou enganado...

sábado, 23 de maio de 2009

A história do boi de ouro do Roriz é relembrada


A notícia sobre a renuncia de Joaquim Roriz ao cargo de senador para não ser cassado devido a partilha de um cheque do Banco de Brasília de 2,2 milhões de reais com o empresário Nenê Constantino foi relembrada na sexta e na quinta-feira. A decretação da prisão de Constantino foi o gancho para relembrar o episódio de corrupção do ex-governador. Isso é muito positivo, amigo (e)leitor. Roriz deseja voltar a vida pública se elegendo governador do Distrito Federal. Logo, quem for votar nele tem que saber porque ele deixou o cargo de senador. Nada mais justo que contar essa história várias vezes até passar as eleições, portanto, veja acima mais um vídeo sobre o caso.

Capítulo VI

Naquela manhã, sentado na calçada, Marciano ainda sentia dores na cabeça, nas costas e nas pernas. Que noite foi aquela onde nada deu certo? Além de ter apanhado da polícia e do desconhecido, ele não conseguiu ficar com Benedita, razão de sua ida à Panela de Barro. Mas o que mais deixou Marciano intrigado foi como ele escapou da morte.

PSDB cria CPI só se for conveniente para os interesses do Partido


Graças ao empenho do PSDB, foi criado no Senado uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a Petrobras. Assim, os tucanos estão prestando um ótimo serviço ao Brasil, afinal, quando se trata do dinheiro público, tem que ter transparência no seu uso, ainda que seja por meio de investigação. Por isso, sou a favor de investigação na Petrobras e em qualquer outra empresa. É uma pena que o PSDB não se interessa em investigar o uso do dinheiro público em São Paulo. Curiosamente, lá eles evitam as CPIs. Outro estado em que as palavras Comissão Parlamentar de Inquérito parecem não existir no vocabulário dos tucanos é o Rio Grande do Sul. Enquanto em Brasília, no Senado Federal, foi preciso apenas um dia para instalar a CPI da Petrobras, no Rio Grande do Sul, até agora, faltam assinaturas para investigar a governadora Yeda Crusius. Veja no vídeo abaixo algumas informações sobre o que Yeda aprontou:


Qual é o preço das garrafinhas?


A disputa por espaço dentro do Partido dos Trabalhadores (PT) é normal. Desde que o PT é o PT sempre teve disputa interna, inclusive, as eleições prévias foram criadas justamente por causa disso. No entanto, antes de ser realizadas, é conveniente buscar o consenso. Mas... até quando a disputa interna é saudável para o Partido?

Veja o caso do Distrito Federal (DF). Existe uma disputa entre o deputado federal Geraldo Magela e o ex-ministro do Esporte Agnelo Queiroz para a vaga de candidato ao Governo do DF (GDF) nas próximas eleições.

Enquanto Magela é um dos fundadores do Partido, Agnelo não tem nem um ano que está filiado ao PT. Ainda assim, a disputa não está nada fácil, pois Queiroz conta com o apoio do presidente do PT-DF, o ex-deputado distrital Chico Vigilante. Porém, qual é a força política de Vigilante?

A força política dele é grande, afinal, ele é presidente do PT-DF. Mas será que a força política dele é maior do que a de Geraldo Magela? Quando digo “força política” estou me referindo a votos. Não apenas da militância petista, mas de todas as pessoas.

Para responder a esta questão, vou traçar uma linha do tempo. Para não me estender muito, não vou considerar o que aconteceu antes de 1994. Nossa linha do tempo, portanto, começa com Vigilante eleito deputado federal e Magela, deputado distrital.

Em 1998, Chico Vigilante tenta se reeleger, mas não consegue. Geraldo Magela tem mais sorte e é eleito deputado federal.

Em 2002, oficialmente, Magela perde a disputa para o cargo de governador do DF e Vigilante vence a eleição para deputado distrital. Escrevo “oficialmente” por considerar que aquela eleição foi roubada. Primeiro porque, enquanto em todos os estados, que tiveram segundo turno, o índice de abstenção aumentou, o DF foi o único que teve mais gente nas urnas, prova que confirma a acusação de transporte ilegal de eleitores de outras regiões. Segundo porque a apuração do Distrito Federal foi a mais demorada, superando a contagem de votos de São Paulo, o estado mais populoso do Brasil. Logo, Magela venceu, mas não levou.

Em 2006, Magela dá a volta por cima e é eleito deputado federal. Já Chico Vigilante não consegue se reeleger deputado distrital.

Amigo (e)leitor, faça o seu julgamento e responda a questão. Agora, você quer saber o que eu penso? Sim? No meu entender, Geraldo Magela tem mais força política do que Chico Vigilante. Se considerarmos que a eleição de 2002 foi vitoriosa, de 1994 pra cá, Magela não perdeu nenhuma disputa, enquanto seu companheiro não obteve vitórias nas eleições de 1998 e de 2006. Mas, se formos considerar apenas o resultado injusto e oficial de 2002, ainda assim, o número de derrotas de Magela é menor, comparado aos números do presidente do PT-DF.

Apesar disso tudo, Chico Vigilante está dominando o debate político para as eleições de 2010. O pior de tudo é que esse debate está sendo feito através da imprensa. Nos últimos dias, os jornais, e alguns blogs, noticiaram que 90% das tendências do PT-DF apoiam a candidatura de Agnelo Queiroz para o GDF. Mas, será que a vontade das tendências é a mesma da militância do PT? Outra questão. Por que o debate não está sendo feito com as zonais do Partido? Não levar o debate para as zonais não seria um desrespeito com a vontade delas e da militância?

O que se pode perceber é que o debate com as zonais está sendo evitado, principalmente, quando a cúpula do PT-DF tentou antecipar as prévias, sabiamente proibidas pelo diretório nacional do PT. Pular o debate com as zonais e partir para as prévias faz emergir outras questões. Por que partir direto para as prévias? Será que é por causa das garrafinhas? Afinal, qual é o preço das garrafinhas?

Volto agora à questão inicial. Até quando a disputa interna é saudável para o Partido? A pergunta poderia ser muito bem respondia pelo presidente do PT-DF que está perdendo a oportunidade de unir o partido – muita gente sabe que o PT é mais forte unido. Chico Vigilante é um dos fundadores do PT. Quero dizer, ele tem uma importante história política. Só acho que ele deveria valorizá-la.

Comunicólogo ou jornalista?


Comunicólogo ou jornalista? Eis mais uma das questões da comunicação, isso porque tem também aquela: ter ou não ter diploma para ser jornalista?


A dúvida em saber qual seria a melhor definição para mim, que sou formado em Comunicação Social, com habilitação em jornalismo, me veio depois que um vizinho meu me disse que eu não era jornalista. “Você é formado em jornalismo, o que é diferente”, ele afirmou. Eu até entendo porque ele fez essa afirmação, afinal, eu frustrei as expectativas dele.

Quando eu disse que estava cursando jornalismo, meus vizinhos e meus familiares pensaram que em pouco tempo estariam me vendo na TV, ou ouvindo minha voz no rádio, ou ainda, lendo o meu nome junto com as notícias do jornal - apesar de eu nunca ter dito isso. Mas agora, que estou formado, e isso não está acontecendo, para eles, eu não sou jornalista. Às vezes, eu até tento explicar. “Não estou aparecendo porque trabalho nos bastidores. Sou assessor de comunicação. Estou trabalhando na área”. Mas logo vejo que meu interlocutor não está entendendo o que estou dizendo, desisto de explicar e me dou por vencido.

E sabe de uma coisa, estimado leitor? Eles têm razão. Antes mesmo de ser jornalista, eu sou um comunicólogo. Além das redações dos jornais laboratoriais da faculdade, fiz um estágio, de um ano, numa redação de TV, mesmo assim, ainda não dá para dizer que sou jornalista porque isso aconteceu quando eu era ainda estudante. E jornalista, todos sabem, é quem trabalha em TV, rádio ou jornal.

Mas nem por isso eu me sinto menos incapaz. Pelo contrário, um comunicólogo pode ser jornalista e muito mais. Isso mesmo. Minha formação não me impede de trabalhar em TV, rádio ou jornal, afinal, a habilitação do curso que fiz é em jornalismo. Quer dizer, posso ainda, como estou fazendo, prestar assessoria de comunicação para uma empresa, uma ONG ou uma personalidade.

É por isso que não me sinto ameaçado quando dizem que podem acabar com a exigência do diploma para ser jornalista. Eu duvido muito que uma empresa, séria, vai contratar, por exemplo, um historiador em detrimento de um comunicólogo.

O historiador, ou qualquer outro que queira ser jornalista sem diploma, pode até ter “nascido com o dom de escrever bem” – como gosta de dizer os combatentes do diploma. Mas ele sabe, por acaso, as Teorias da Comunicação? Será que ele já ouviu falar da hipótese da agenda setting? Será que ele sabe fazer uma análise da linguagem e do discurso jornalístico?

No caso de um historiador “nascido com o dom de escrever bem”, com certeza, ele saberá muito sobre história, no entanto, será que ele saberá a diferença entre o que ele escreveu e o que ele não escreveu? Quero dizer, o que ele deixou subtendido nas entrelinhas.

Eu, comunicólogo, sei.

sábado, 16 de maio de 2009

Capítulo V


Por uma brecha da janela o raio do sol atravessou. Pela mesma brecha entrou também o ar úmido da manhã daquele dia de céu sem nuvens. Mas o que despertou Marciano foi o canto dos pardais. Acordado, Marciano respirou fundo e agradeceu a Deus por estar vivo e poder contemplar mais um belo dia que nascia...

Estudantes de jornalismo da UNB dão exemplo


O jornalismo como tal é o mais belo ofício. Quando exercido de maneira ampla e genuína, essa profissão encanta seus amantes. Infelizmente, o jornalismo propriamente dito está escasso na imprensa brasileira. Devido à comunicação instantânea e ao imediatismo, os repórteres não dispõem de muito tempo para fazer sua matéria. Se fosse diferente, talvez veríamos nos noticiários mais reportagens como a que foi publicada na edição de número 335 do jornal “Campus”. Escrito por estudantes de jornalismo da Universidade de Brasília (UNB), a referida edição do jornal traz na capa a manchete “Nem STF respeita vagas preferenciais na UNB”.

Se os repórteres não fossem estudantes, provavelmente não teriam tempo para apurar a pauta e talvez nem a fizesse. Acredito que eles pediriam para o fotógrafo fazer algumas fotos, em seguida, eles entrariam em contato com a assessoria de imprensa do Supremo Tribunal Federal (STF) em busca de resposta. Por fim, publicariam uma notinha dizendo “Carros do presidente do STF são flagrados em estacionamento preferencial. Em nota, o ministro Gilmar Mendes disse que ninguém está autorizado a delinqüir em nome ou a serviço do Tribunal”. Pronto. Acabou. Mas isso não é por má vontade. O que existe na verdade é uma série de questões muito complexas, como linha editorial, espaço, hierarquização (inclui da notícia), entre outras.

No entanto, os estudantes fizeram diferente (melhor), talvez por disporem de mais tempo ou por terem que seguir uma outra linha editorial – quando escrevo “linha editorial”, amigo leitor leigo, quero dizer interesse organizacional, aquele que, por exemplo, envolve o dono do jornal e o governador do Estado.

“A apuração do Campus”, conforme escreveram as repórteres Sacha Brasil e Maria Scodeler, foi “feita entre os dias 8 de abril e 4 de maio”. Veja só, amigo leitor, elas ficaram quase um mês observando o comportamento do paladino do Estado de direito. A reportagem “constatou que tanto o carro utilizado pelos seguranças do magistrado quanto o que transporta Mendes estacionaram em vagas preferenciais”.

O que é isso Gilmar Mendes? Ô, Gilmar Mendes! Que vergonha, hein! Que vergonha!! Eu fico aqui imaginando com que cara ele chegou à sala de aula, após ver a reportagem publicada. Mendes leciona a disciplina Direito Constitucional II na Faculdade de Estudos Sociais Aplicados da UNB.

Por essas e por outras razões, estou de acordo quando o ministro Joaquim Barbosa diz que o atual presidente está “destruindo a justiça deste país”. Veja abaixo o vídeo que contem a declaração de Barbosa e que virou sucesso no You Tube:



No DF, quem cometeu crime no passado tem mais chance de vencer eleição


A disputa pelo Governo do Distrito Federal (GDF) já começou, conforme podemos observas a movimentação política dos principais candidatos: o governador José Roberto Arruda (DEM), o ex-governador Joaquim Roriz (PMDB) e o PT-DF que, apesar de ter o fortíssimo candidato Geraldo Magela, ainda não chegou num consenso sobre o nome para disputar o GDF.

Naturalmente, estão surgindo diversas pesquisas sobre a preferência do eleitor. Quero aqui fazer um comentário sobre uma delas. Divulgada no início deste mês, uma pesquisa do Ibope revelou um empate técnico entre o governado Arruda e o ex-governador Roriz. O estudo revela ainda que o índice de rejeição de Arruda e Roriz são os menores.

Em minha análise, os números também revelam a parca memória do eleitor. Ressalto que Arruda e Roriz são dois políticos que cometeram crimes no passado. Depois de violar o painel eletrônico do Senado para obter a lista com o resultado da votação secreta que levou à cassação do então senador Luiz Estevão (PMDB-DF); depois ainda de ter negado qualquer participação no crime e, uma semana depois, voltar atrás confessando o delito, Arruda renunciou ao cargo de senador para não ser cassado.





O pior de toda essa história é que Arruda conseguiu, poucos anos depois, se eleger governador e, conforme a pesquisa do Ibope, pode ser reeleito.

Já o ex-governador Roriz renunciou ao cargo de senador porque foi flagrado, em gravações telefônicas da Polícia Civil do DF para a Operação Aquarela, negociando a partilha de um cheque de 2,2 milhões de reais com o ex-presidente do Banco de Brasília, Tarcísio Franklin de Moura. Veja mais informações no vídeo abaixo.



domingo, 3 de maio de 2009

Capítulo IV


A caçapa estava menor ou era a bola oito que tinha aumentado o tamanho? A questão sempre vinha toda vez que Jacinto tentava derrubar a bola oito. Ele tentava uma, duas, três, quatro, cinco e até seis vezes, mas a bola não caia. Enquanto ele pelejava para derrubar o oito, Tião armava o seu jogo deixando as bolas ímpares na boca das caçapas.

Jacinto passava o giz branco em volta do começo do taco e, na ponta dele, o giz azul. Mirava. Mirava e tacava. O bolão batia no oito que fazia seu percurso e, quando parecia que ia cair, não caia. A bola, coitada, recebia incontáveis xingamentos.

Marciano observava a peleja enquanto apreciava uma cerveja geladinha, sentado em um banquinho próximo ao balcão.

- Vou fechar esse jogo agora – avisava Tião, depois de ter deixado quase todas as bolas ímpares na boca das caçapas.

- Pode fechar – Jacinto fingia não estar preocupado com a iminente derrota.

Aguardando sua vez, Marciano percebeu que seu copo já estava seco.

- Vamos pedir outra rodada? – perguntou aos colegas.

- Ué, pede aí – autorizava Jacinto –. Eu não tô pagando nenhuma mesmo.

A fama de Jacinto era de parasita, pois quase nunca ele tinha dinheiro para pagar uma sequer cerveja. Muitos chamavam Jacinto, por isso, de serradinho, ou serrote.

Além de ficar na esquina jogando conversa fora e vendo a mulherada passar pela rua, Tião, Jacinto e Marciano tinham também o costume de jogar sinuca e beber cerveja. Por custar dinheiro, eles não faziam isso com muita freqüência. Geralmente iam ao bar nos finais de semana, depois de Marciano receber pelos bicos e de Tião “fazer um dinheiro” vendendo drogas...

Hamixiaire era o único que não tinha o costume de freqüentar botecos. Para ele, a bebida era “coisa do diabo”.

- Seu Carlos, desce mais uma aí pra gente – pediu Marciano.

Seu Carlos era o dono do bar. Ele era um sujeito calado. Na dele. Seu rosto era redondo. Andava sempre de barba feita e cabelo social. Seu Carlos não era obeso, no entanto, tinha a barriga grande. Raramente bebia no seu boteco que ficava na sua residência, onde morava com a mulher, três filhas e um neto.

- Coloca um pouco aí no meu copo – pediu Jacinto, depois que seu Carlos trouxe a décima sexta garrafa.

Marciano não se sentia confortável quando via Jacinto beber sem pagar. Para Marciano, seu dinheiro era muito suado para desperdiçar pagando cerveja para “vagabundo”. Marciano não se importava em gastar o pouco de dinheiro que não tinha com ele mesmo. Inclusive, aqueles eram um dos momentos mais felizes de sua vida.

- Caiu!!

Finalmente Jacinto conseguiu derrubar a bola oito. Mas faltavam ainda quatro bolas, enquanto Tião só precisava derrubar o ás. Só que, quando menos todos esperavam, Jacinto, em uma jogada, conseguiu derrubar as bolas que faltavam. E passou a disputar o ás com Tião. Antes de dar a primeira tacada na bola que restava, Jacinto foi dar um gole na cerveja.

- Oxê! Cadê a cerveja que eu pedi para você colocar aqui, Marciano?

- Não sou seu empregado, rapaz – Marciano provocou –. Você já tá pegando o boi de estar bebendo aqui de graça.

Marciano já dava sinais de estar bêbado. Seus colegas sabiam que ele não ficava muito gentil quando estava nesses momentos. Mesmo assim, eles nunca chegaram a brigar, apenas discutiam.

- Joga logo – ordenou Tião, impaciente, querendo terminar o jogo.

Jacinto não obedeceu a ordem de Tião. Foi até o balcão. Derramou a cerveja em seu copo. Depois deu uma bicada nele, como se estivesse apenas degustando o líquido. Em seguida, pegou o giz branco e passou no taco. Depois pegou o giz azul e esfregou na ponta do taco. O próximo passo foi mirar, mas antes Jacinto quis tirar onda – já que a situação agora estava favorável para ele – e perguntou:

- Onde você quer que eu mato essa bola? Aqui ou ali – apontou com o taco.

- Vai. Joga logo – Tião não quis responder.

Depois de mirar, Jacinto deu a tacada. Batendo nos lados da mesa, o ás se encaminhou para uma das caçapas do estremo. Tião já estava guardando o seu taco quando, de repente, a bola parou em cima da boca da caçapa.

- Não acredito que você ainda vai perder, Jacinto – disse Marciano.

- Parece que vou.

- Precisa jogar? – Tião provocou.

Jacinto não respondeu. Dessa vez quem guardava o taco era ele. A empolgação de Tião foi tão grande que sua tacada não foi boa. Ele derrubou o ás, mas ainda perdeu o jogo porque o bolão foi junto e acabou caindo na caçapa.

Jacinto, contente, segurou novamente o seu taco e chamou o próximo.

- Eu não vou mais – disse Marciano –. Acabei de lembrar que hoje vai ter um show lá na Panela de Barro. Acho que vou dar um pulo lá, por isso, estou indo em casa tomar um banho.

- Tô sabendo, safado – Jacinto comentou –. Você tá querendo ir para tentar pegar a Benedita.

- Aquela gatinha já está na minha. Você vai ver. Se ela for hoje, eu vou ficar com ela.

Depois de se despedir dos seus camaradas, Marciano foi para casa. Lá tomou um banho e se aprontou para a festa. Ele ainda estava tonto por causa da cerveja. Ainda assim, queria beber mais. Só que estava sem dinheiro e a bebida na Panela de Barro custava um pouco para o bolso de Marciano, que tinha apenas o suficiente para comprar uma sangria de vinho e o ingresso do show.

Marciano passou no supermercado. Comprou a sangria de vinho e foi para a festa. No meio do caminho, bebeu a metade da sangria. Ao chegar à Panela de Barro, ainda tinha metade de sangria de vinho na garrafa de um litro e meio. Porém, ele não pode entrar com a garrafa. Marciano não conseguia beber tudo de uma só vez porque já estava muito bêbado. Ele também não queria jogar fora o que restava de sangria de vinho. Marciano, portanto, resolveu esconder a garrafa num lugar seguro e fora do local da festa para, na volta, ele terminar de beber.

Após esconder a garrafa de sangria de vinho, Marciano retornou à festa. Ele não gostou nem um pouco de ter se afastado de sua bebida. Animado pelo álcool, Marciano decidiu “pagar um sapo” para o segurança do local, caso ele falasse alguma coisa. O segurança não disse nada. Apenas fez seu trabalho de revistar.

- Eu não estou armado, porra!

Depois de ter ouvido isso, o segurança ficou meio sem jeito de revistar Marciano. Por isso, ele acabou permitindo que Marciano entrasse. Contudo, o segurança contou para os policiais de plantão o que tinha acontecido. Os policiais decidiram conversar com Marciano.

- Venha cá – um deles chamou.

Marciano ficou um pouco confuso, pois, para ele, não tinha feito nada de mais.

Pelo fato de Marciano não ter atendido o chamado, os policiais foram até ele e disseram que queriam conversar lá fora.

Sem ter escolha, Marciano atendeu. Quando eles começaram a andar em direção à saída da festa, um dos policiais segurou no braço de Marciano. Mais uma vez com a ajuda do álcool, ele não teve receio de puxar seu braço para impedir que o policial segurasse nele.

- Olha aqui, rapaz, você para de caçar confusão – advertiu um dos policiais, assim que eles chegaram no lado de fora da festa.

- O que eu fiz? – questionou Marciano.

- O segurança falou que você não quis deixar ele te revistar.

- Ai, ai, ai...

- Você se comporte; ouviu bem?

Marciano, depois de liberado, começou a caminhar em direção a entrada da Panela de Barro. Jogando a mão para trás do ombro, disse:

- Vai se lascar.

Para a infelicidade de Marciano, os policiais ouviram o que ele disse. Um deles correu atrás de Marciano.

- Como é que é, seu vagabunda?

Em seguida deu um chute em Marciano. Segurou na gola de sua camisa e puxou para trás. Marciano caiu de cosas na lateral da viatura. Sua cabeça também bateu no camburão. O policial segurou na garganta de Marciano e começou a gritar.

- Você me respeita, seu vagabunda. Você quer que eu te leve preso daqui?

A cabeça de Marciano bateu outras duas vezes na viatura.

- Você se comporte. Não me deixa colocar as mãos em você outra vez. Você vai voltar agora para a festa e nós não queremos saber de confusão nenhum sua, porque, senão, a gente vai te dá uma surra e te levar para a cadeia, tá?

Marciano, após liberado, retornou à festa um pouco zonzo por causa das batidas que levou na cabeça e por causa das bebidas alcoólicas que havia tomado. Todos da festa tinham visto a polícia levando Marciano para fora do local. Muitos, portanto, acharam que ele era malandro e, por isso, ficaram afastados de Marciano.

Marciano percebeu o receio das pessoas, mas não se importou. Foi para próximo do palco. Lá, começou a dançar. Enquanto isso observava o salão. Não era muito grande. Estava quase lotado. O ambiente estava escuro. A pouca iluminação vinha do jogo de luz.

Apesar do ambiente escuro e da tontura, Marciano conseguiu ver Benedita, que estava acompanhada. Parecia que não era o namorado dela, mas, ainda assim, Marciano sentiu ciúmes e foi até o rapaz tirar satisfação, mas antes falou com sua querida.

- Oi Benedita!

- Oi Marciano. Faz tempo que você está aqui?

- Nada eu cheguei agora há pouco.

- Você conhece o Alfredo, meu amigo?

- Eu já vi ele por aí.

- E aí – Alfredo fez um sinal amigável.

Mas Marciano não correspondeu. Dançando, ele se aproximou do colega de Benedita e disse próximo ao ouvido dele:

- Escuta aqui, moleque, se você não quiser apanhar, não mexe com essa dona aí, porque ela é minha namorada.

Sem perder tempo, Alfredo contou para Benedita o que Marciano acabara de falar. Benedita não gostou do que ouviu.

- Oxê, Marciano, você está doido é? Desde quando eu sou sua namorada?

Marciano não teve resposta. Apenas deu um sorriso envergonhado.

- Fique sabendo que eu fico com quem eu quiser, tá?

Veio um mal estar entre os três. Pouco tempo depois, Benedita encontrou uma desculpa e saiu de perto de Marciano.

Apesar de ter começado ruim a noite, Marciano não desistiu de tentar aproveitar a festa e ficou lá até o final. Na volta para casa, foi até o lugar que tinha escondido a sangria de vinho. Para sua sorte, a garrafa ainda estava lá. Marciano conseguiu um copo descartável na festa que estava. Pode, portanto, beber a sangria com mais conforto.

Enquanto seguia o caminho de sua casa, apareceram dois sujeitos de bicicleta. Quando eles estavam longe, Marciano achou que fossem dois desconhecidos que podiam até roubá-lo, afinal, já era de madrugada e a rua estava deserta. Ao se aproximar, Marciano ficou mais tranqüilo porque reconheceu um dos sujeitos.

- E aê, Marciano.

- E aê, moleque doido.

- Tá vindo da onde?

- Eu tô vindo lá da Panela de Barro. Teve um show massa lá.

- Me dá um pouco desse vinho aí – pediu o desconhecido.

Marciano entregou a garrafa e, antes de conseguir entregar o copo descartável, o desconhecido começou a beber no gargalo.

- Pô, bicho, pega o copo aí.

Mas o desconhecido não quis pegar o copo e, como agradecimento, jogou a sangria de vinho em Marciano e ainda lhe deu um chute.

Marciano ficou enfurecido. Procurou ao seu redor uma pedra para tacar no desconhecido. Encontrou uma. Enquanto se agachava para pegá-la, o desconhecido já tinha em suas mãos uma pedra bem maior. Ele a levantou para o alto e...