Blog do Paraíso: Estudantes contestam Veja com argumentos sólidos

terça-feira, 5 de julho de 2011

Estudantes contestam Veja com argumentos sólidos

Uma reportagem (foto acima) publicada na mais recente edição da revista Veja chamou muito a atenção dos alunos e dos professores da Universidade de Brasília (UnB). Tanto que fez o Diretório Central dos Estudantes (DCE) divulgar uma carta aberta em resposta à revista. No documento, os estudantes rebatem várias críticas feitas por Veja contra a atual gestão da UnB. Chama atenção a crítica e a resposta referentes ao mecanismo que equipara os votos dos estudantes e dos funcionários aos votos dos professores nas eleições internas.

Para Veja, o mecanismo não é nada democrático. Muito pelo contrário. De acordo com a revista, a igualdade dos votos dos estudantes e dos funcionários com os votos dos professores é uma manobra usada em 2008 para eleger o atual reitor, José Geraldo de Sousa Junior, como a revista faz questão de destacar, “um dos fundadores do PT no Distrito Federal” e “cujo único mérito acadêmico evidente deriva de sua militância política”.

Na carta em resposta à Veja, os estudantes rebatem esta crítica com um argumento contundente – se eu fosse o repórte que escreveu a matéria, sentiria vergonha, ao ler a resposta dos estudantes. Eles escrevem que a revista “esquece que a "manobra" foi aprovada em conselho de maioria docente, composto pelas direções de todas as faculdades e institutos, eleitas autonomamente, como prevê a arcaica Lei de Diretrizes e Bases (LDB)”.

E não é só isso. “Mais grave ainda, a revista parece ignorar que a paridade foi uma conquista política do movimento estudantil de 2008, quando derrubamos uma reitoria corrupta, cujos contratos e movimentações ainda hoje são investigados pelo Ministério Público da União. Em vez disso, a Veja atribui a ida do ex-professor da UnB, decano da antiga reitoria no período Timothy e ex-diretor da polêmica Finatec, Márcio Pimentel, para o Rio Grande do Sul, a uma suposta perseguição política”.

Sem mais comentários.

Clique aqui e leia a íntegra da reportagem da revista. A seguir, a carta dos estudantes:

Carta aberta de resposta à revista Veja

Brasília, 05 de julho de 2011

"A Universidade de Brasília nasce com uma função clara, fundamentar uma utopia: ordenar, concatenar as ações, para fazer frente ao espontaneísmo fatalista e, sobretudo, para impedir que os oportunistas façam prevalecer propósitos mesquinhos. (…) Pensaremos o Brasil como problema, nosso país não precisa de mais uma universidade conivente com a miséria de nosso povo."
Darcy Ribeiro - Universidade para quê?


A UnB está longe de ser a universidade que queremos! Quando idealizada por Darcy Ribeiro, nos anos 60, a Universidade de Brasília simbolizava o que havia de mais libertário e transformador na educação brasileira. Muito antes de se concretizar, porém, o sonho foi interrompido pela Ditatura Militar.

Hoje, julho de 2011, chega a ser surpreendente que um professor conhecido por defender em sala de aula a "gloriosa revolução de 64", Ronaldo Poletti, seja fonte privilegiada de uma reportagem sobre suposto "patrulhamento ideológico" e perseguição política no ambiente acadêmico. A dita reportagem "Madraçal do Planalto", da edição de 04 de julho de 2011 da revista Veja, recorre ao termo normalmente utilizado para se referir a escolas fundamentalistas radicais islâmicas para inventar uma UnB baseada em rumores e suposições.

A mesma revista que, em 2005, elogiou o protagonismo do movimento estudantil ao combater Severino Cavalcanti, hoje define como manobra política ilegal a eleição de uma reitoria de forma paritária (com pesos iguais para professores, estudantes e técnicos-administrativos). Esquece que a "manobra" foi aprovada em conselho de maioria docente, composto pelas direções de todas as faculdades e institutos, eleitas autonomamente, como prevê a arcaica Lei de Diretrizes e Bases (LDB) .

Mais grave ainda, a revista parece ignorar que a paridade foi uma conquista política do movimento estudantil de 2008, quando derrubamos uma reitoria corrupta, cujos contratos e movimentações ainda hoje são investigados pelo Ministério Público da União. Em vez disso, a Veja atribui a ida do ex-professor da UnB, decano da antiga reitoria no período Timothy e ex-diretor da polêmica Finatec, Márcio Pimentel, para o Rio Grande do Sul, a uma suposta perseguição política.

A revista, que se diz ferrenha defensora do combate à corrupção, tenta transformar investigados em vítimas. Atitude esperada da mesma publicação que, em 2009, identificou o ex-governador do DF, José Roberto Arruda, como símbolo da volta por cima. Não esperamos nada diferente desta revista, mas é necessário repudiar o falso rótulo da imparcialidade adotado, formador de opinião de parcela considerável de nossa população, cujo acesso a meios de comunicação plurais é extremamente restrito.

O desconhecimento do repórter Gustavo Ribeiro, graduado pela Universidade Católica de Brasília, sobre a realidade da UnB é certamente um dos problemas na elaboração da matéria. É possível que ele ignore o fato de que diferente das instituições privadas, onde as direções são indicadas pelos proprietários, nas universidades públicas federais as coordenações dos cursos são eleitas diretamente por seus estudantes, professores e técnicos-administrativos. Tal ignorância e má-interpretação dos fatos o impedem de perceber que a saída da professora Inês Maria Pires de Almeida da direção da Faculdade de Educação, por exemplo, se deu por uma votação legítima e democrática da comunidade que escolheu outro modelo de gestão.

Aliás, fatos concretos são raros nesse texto supostamente jornalístico. É citado um caso de vandalismo contra o carro da advogada do DEM e mestre pela UnB, Roberta Kaufman. Algo que, se de fato tivesse sido praticado, de forma alguma mereceria nosso apoio. Muito pelo contrário. No entanto, qual a real possibilidade de uma advogada de tamanha influência ter sido agredida desta forma sem prestar sequer uma denúncia? É possível acreditar que tal ocorrido passaria em branco justo na "Universidade das Cotas"? Sem nenhuma divulgação midiática? O mínimo a ser feito pelo repórter era uma checagem dos fatos e o fornecimento de informações mais precisas. Em vez disso, ele optou por dar voz a professores "com medo de represálias", offs no mínimo estratégicos.

Para justificar a saída do professor voluntário da Faculdade de Direito, Ibsen Noronha, o repórter apostou em uma retaliação fantasiosa. O fato de que o jurista se recusou a adequar-se ao regime de professor substituto, com dedicação de 40 horas à Universidade, como é exigido dos demais professores, foi estrategicamente ignorado. Assim como o fato de que foi oferecida e recusada pelo professor a condução de outras disciplinas.

Em uma sucessão de mentiras, o texto nada jornalístico da revista Veja se constrói. Antes fosse a UnB um antro da esquerda! Fato é que as mínimas conquistas obtidas pelo movimento estudantil dos últimos anos estão cada vez mais ameaçadas. O Congresso Estatuinte Paritário, prometido em 2008, onde deveriam ser discutidos de maneira aprofundada o funcionamento e a função da universidade, aparece cada vez mais distante. O projeto de uma gestão compartilhada está longe de sair do papel como prometido.

O que temos é uma reitoria que cada vez mais cede às pressões de uma direita organizada. Que aprova o recredenciamento de fundações privadas corruptas em sua prática e essência, como a Finatec. Que ao mínimo estardalhaço, diz que festas atrapalham o aprendizado. Que está longe de priorizar a assistência estudantil, o acesso e permanência de estudantes de baixa-renda, no ambiente elitizado que é a universidade pública brasileira. Que ainda reserva à prática extensionista o lado mais fraco do tripé "ensino-pesquisa-extensão" e é conivente com a existência de cursos pagos, dentro de uma instituição que deveria ser 100% gratuita.

No entanto, apesar das naturais divergências do movimento estudantil com a administração superior da universidade, reconhecemos que hoje a universidade vive em um ambiente mais democrático, quando comparado a períodos anteriores. A própria foto de abertura da matéria utilizada pela revista é de uma manifestação estudantil contrária à reitoria, onde era cobrado o cumprimento de prazos e promessas não cumpridos, referente à conclusão das obras de expansão da Universidade.

Na Universidade, sempre tivemos espaço para nos manifestar. Fosse contra a reitoria ou o governo federal, como na ocasião do corte orçamentário para a educação e na priorização da construção de um Beijódromo, frente a salas de aula e prédios de moradia estudantil. O movimento estudantil da UnB segue livre e independente em defesa dos interesses dos estudantes, da universidade e da democracia. Certamente não é o caso da revista, que não entrevista nenhum estudante ou técnico-administrativo, deixando clara a visão de democracia que defende o veículo.

Temos muitos problemas na UnB e nas universidades brasileiras em geral, mas somente com mais debates e democracia conseguiremos resolvê-los. Quando nossa universidade é criticada por sua diversidade étnica, racial, sexual, cultural e política, ou por funcionar “em prol de uma causa” - a formação de cidadãs e cidadãos conscientes, emancipados e transformadores - só nos resta ter orgulho. Orgulho da UnB!

Diretório Central dos Estudantes Honestino Guimarães - Gestão Amanhã Vai Ser Maior

5 comentários:

Anônimo disse...

Tá... e a perseguição a determinados professores? cadê os fortes argumentos para contestar isso? Não sabem da missa, metade....

Anônimo disse...

Blza!
A veja é super sensacionalista, porém ela não inventou o caso dos professores perseguidos. Há sim uma intolerância a alguns assuntos na UnB sim.
Por um acaso, como foi decidido a utilização do sistema de cotas? Por um acaso alguém já viu um ser contestar isso na UnB e não ser escraxado?

Anônimo disse...

Não vi argumentação contundente, apenas retaliação barata. Naturalmente que a Veja tenha fama, por de fato ser, uma revista sensacionalista, mas também não há abertura na UnB.

Alguém... ou Ninguém... tanto faz... disse...

É triste ver que a Veja, em mais uma atuação ridícula, resolve atacar a postura da UnB. Mais triste ainda é, no entanto, tentar dizer que a UnB é um lugar de perseguição aos professores! Ora, para poder dizer algo, que ao menos viva lá dentro. Pois, se o fizesse, veria que é bem diferente.
Não sustentamos o mito de que não haja disputas e dissindências. No entanto, tachar de perseguidora a reitoria é um ato desesperado por parte de quem objetiva denegrir a imagem da UnB.

Quem não achou a carta dos estudantes suficiente, que leia então as seguintes manifestações, publicadas no próprio website da UnB:
http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=5304
http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=5306

Bernardo Rocha disse...

Engraçado como são as coisas,a imprensa, principalmente os blogs vivem de publicar comentários negativos sobre o Arruda.. tudo com base no que disse esse tal de Durval.