Blog do Paraíso: Para mau entendedor, meia palavra não basta

domingo, 5 de abril de 2009

Para mau entendedor, meia palavra não basta

O ditado popular diz que, para bom entendedor, meia palavra basta. Às vezes, tenho uma leve desconfiança de que esse ditado não vale para os meus colegas jornalistas – não todos, mas a maioria.



Semana passada, por exemplo, o mal entendido foi com a declaração que o presidente americano Barack Obama fez, ao se encontrar, em Londres, com o presidente Lula na reunião do grupo das maiores economias do mundo, o G20. De maneira bem informal e descontraída, o presidente Obama disse para Lula “esse é o cara”. “O político mais popular do mundo”. Em seguida, Obama explicou: “Isso porque ele é boa pinta”.

Pela ocasião, pelos gestos e pelos termos, é óbvio que Barack estava de brincadeira. Brincadeira irônica, diga-se. Aqui no Brasil, por exemplo, quando uma pessoa chama a outra de “o cara”, dependendo da situação, ela pode não está fazendo um elogio. Ainda assim, o que mostra mesmo que o presidente americano não estava falando sério é a explicação “isso porque ele é boa pinta”. Como assim? Por que a aparência do presidente Lula o torna “o político mais popular do mundo”?

Se Barack Obama estivesse falando sério, com certeza, ele diria “ele é popular por causa de sua importante atuação política no mundo”. Ou então, “ele é popular por causa do seu governo que transformou o Brasil”. Ou ainda, “ele é popular porque é presidente de um país que está dando exemplo ao mundo de como se combate a crise”. Eu mesmo se fosse presidente gostaria de ouvir alguma coisa parecida com isso. E tem mais. Se realmente o que Obama falou fosse sério, ele teria feito a declaração durante um discurso oficial.

Mas aonde Paraíso quer chegar com toda essa explicação? Antes de responder a sua pergunta, estimado leitor, gostaria de lhe fazer outra. Você viu as manchetes de algumas notícias sobre a declaração do presidente americano? Eu li muitas que diziam mais ou menos assim “Lula é o político mais popular do mundo, diz Obama”. Quer dizer, o jornalista que escreveu isso levou mesmo a sério a declaração do presidente americano. Em minha opinião, devido às razões já apresentadas, o que Obama falou não deveria nem sequer ser notícia – há tanta coisa mais importante... Mas, como você mesmo viu, foi. Não consigo entender porquê.

Outra frase que também causou confusão foi a que o Lula disse antes de participar do G20, só que dessa vez aqui mesmo, no Brasil. Ele disse que a culpa da crise do sistema financeiro internacional é de gente branca, de olho azul, que antes dizia saber tudo e hoje demonstra não saber nada.

As notícias que saíram sobre a declaração afirmavam que Lula colocou questão racial na crise, dando até a entender que o presidente fora racista. Pelas matérias – não todas, é bom destacar – parecia que Lula quis dizer que foi a cor da pele branca e do olho azul que causou a crise, inclusive, em Londres, durante uma coletiva, uma jornalista chegou a pedir perdão ao presidente brasileiros por ser branca e ter olho azul. Olha só que confusão.

Gente. O Lula, ao fazer a declaração, apenas citou as características da maioria dos banqueiros. A intenção do Lula era mostrar que a crise foi causada por gente rica e, não, por gente pobre – os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) provam que os brancos são mais ricos que os negros. O presidente, coitado, só queria usar a retórica. Ele não queria, leitor que é branco, dizer que você é o responsável pela crise; que sua pele é a causadora da crise.

A declaração citada e comentada acima não é exceção. Várias outras frases do Lula já causaram polêmica e parece que o presidente ainda não se tocou que, para não ser mal interpretado, não deve dizer meia palavra, pois quem escreve sobre o que ele diz não é bom entendedor.

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