Blog do Paraíso: Momento de idiotice e/ou imbecilidade.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Momento de idiotice e/ou imbecilidade.


O meu momento idiota e/ou imbecil – a escolha deixo para o leitor, que não concordou com a tese do intelectual nordestino, exposta no texto abaixo – aconteceu na Rodoviária do Plano Piloto, em Brasília. Na verdade, não tive somente um momento. Até agora, na idade que estou, já me aconteceram vários. Mas limitarei a contar somente o menos vergonhoso.

Bom. Foi na Rodoviária do Plano Piloto, como já disse. A Rodoviária fica entre o shopping Conjunto Nacional e o edifício Boulevard, antigo Conic. A Explanada dos Ministérios fica na frente. E a Torre de TV, atrás. Ou vice versa. Depende do ponto de vista do observador.

Muitos turistas talvez nunca passaram por lá. Imagino, pois a Rodoviária não é e não faz parte dos monumentos de Brasília, porque é um lugar abandonado. Os banheiros possuem um cheiro nauseante. As escadas rolantes nunca rolam. Vivem quebradas. O chão está sempre sujo. Os ônibus que por lá passam são imundos, velhos e barulhentos. Há mendigos rastejando e pedindo esmola por toda parte. Meninos de rua cheiram cola, quando não estão dormindo no chão asqueroso, em plena luz do dia. Recentemente, o cenário da Rodoviária está um pouco diferente. Junta-se toda a desgraça descrita acima com uma reforma interminável. Reforma que não sei se será útil ou bem feita. Tenho essa desconfiança por que a Rodoviária já passou por várias reformas e nunca melhorou. Em um desses reparos, o governo local instalou placares eletrônicos, que servem para indicar a linha do ônibus e os horários. Quero dizer, serviriam, pois estão todos quebrados.

Não, minha gente. A Rodoviária nunca foi um cartão postal de Brasília, apesar de estar entre o Teatro Nacional e o Complexo Cultural da República. Complexo que é a mais recente criação construída do mestre Oscar Niemeyer. Apesar de estar a poucos metros do Palácio do Planalto e do Congresso Nacional, a Rodoviária não é um cartão postal, mas, sim, o ânus de Brasília. E não é exagero não. Mas se você, leitor, acha que estou exagerando. Farei outra analogia, bastante parecida. A Rodoviária é o espelho de tudo que envergonha Brasília e este país. Nela está o reflexo da moral e da ética que existe na Câmara dos Deputados Distritais, do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto.

Não sei por que a Rodoviária é daquele jeito. Talvez porque a maioria das pessoas que circulam por lá são como eu, pobres... Mas dignas! E que vale um voto, no dia das eleições!!

Pois é. Numa dessas minhas passagens pela Rodoviária, me aconteceu o momento idiota e/ou imbecil, que era para ser o assunto principal deste texto. Não se preocupe, leitor, pois ainda há tempo para lhe contar a história onde me senti um perfeito idiota.

Então. Eis: Estava eu lá na Rodoviária, numa renomada pastelaria, fazendo um lanche. Do nada, apareceu-me um engraxate. Aparentemente humilde. Com rapidez, ele se sentou no caixote que todo engraxate carrega nas costa e pegou em meu pé direito e começou a puxar. Insistiu em fazer uma limpeza em um dos meus tênis como amostra grátis.

- É de graça, patrão! – Dizia o engraxate.
- Não, não, não. Não precisa! – Respondi.

Mas ele insistiu tanto que acabei cedendo. Observei o zelo do engraxate ao fazer o serviço gratuito. Fiquei com pena. Comecei a divagar o quanto este mundo era injusto. Fiquei como no mundo da lua. O rapaz terminou. Ofereci o outro pé para ele fazer a limpeza no tênis. Só que, dessa vez, o engraxate fazia o serviço com baixa qualidade. Achei muito estranho. Pensei. “E se ele me der um golpe, afinal, não perguntei o preço? Não. Que é isso! Não é possível que esse cara tão humilde vai me passar a perna. Será que ele vai cobrar mais que cinco reais pelo serviço?”. Após o termino do trabalho, o engraxate se transfigurou. Não era mais humilde. Mudou até a voz. Retirou um cartaz do bolso e me mostrou o preço. Para a minha sorte e por eu estar usando um tênis, o valor era o mais baixo da tabela. Se eu não me engano, R$ 10, OO. Isso mesmo, dez reais.

- Você me passou para trás! – Eu falei, sentindo-me o cara mais idiota, imbecil, estúpido e burro da face da terra.
- É esse o preço. Você vai ter que pagar – cobrou-me o engraxate.
- Não! Tudo bem. Eu vou pagar, mas só a metade – Foi aí que minha cabeça começou a funcionar um pouquinho.
- Por quê? – Perguntou-me o engraxate.
- Porque você falou que o primeiro tênis era de graça.

Dei cinco reais para o pilantra. Fui embora. E cheguei a um moral da história. A Rodoviária é o pior lugar de Brasília. Tente evitá-la. Se não for possível, assim como não é para mim, que dependo do transporte público – a segunda pior coisa da capital –, passe por lá. Mas somente passe. Não fique de bobeira. Não compre nenhum objeto que pareça ser roubado e é vendido muito abaixo do preço.

Bom. Pelo menos, meu momento idiota e/ou imbecil – que, repito, não foi o único da minha vida – ensinou-me uma lição.

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