Blog do Paraíso: Imparcialidade, tremenda marmelada

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Imparcialidade, tremenda marmelada


Desde que entrei na faculdade ouço dos professores que o bom jornalismo deve se aproximar o máximo possível da imparcialidade. Alguns profissionais mais iludidos afirmam com todas as letras que uma boa reportagem é totalmente imparcial. No Brasil, quase todos os veículos insistem em dizer nos editoriais que não tomam partidos e que são isentos. Os repórteres não são diferentes, pelo menos a maioria. Batem o pé e dizem, sem hesitar, que escrevem matérias imparciais. Onde o blogueiro quer chegar com isso? O apressado leitor deve estar se perguntado. Aconselho que os textos deste blog devam ser lidos com paciência, porque eles não são do tipo jornalístico que já no primeiro parágrafo há as respostas das perguntas quem? Quando? O quê? Como? Onde? Por quê? Ainda bem que neste espaço posso fugir dessa formatação bastante funcional, pois realmente informa, mas, ao mesmo tempo, é hipócrita quando acompanhada da afirmação de que determinado texto informativo é imparcial ou se aproxima da imparcialidade.

O leitor atento já deve ter percebido o mote deste artigo. Para quem ainda não percebeu, afirmo que é impossível a imparcialidade e a isenção total de uma matéria jornalística. E o texto que boa parte dos jornalistas diz que se aproxima da neutralidade é na realidade um texto que consegue enganar o leitor. Muitas pessoas acreditam que os meios de comunicação reproduzem a realidade fielmente. Não fiz nenhuma pesquisa para dizer isso. Deixo claro ao meu estimado leitor que esta coluna não é um estudo com fortes argumentos científicos. A intenção dela é levantar uma questão para discussão. Quem quiser comprovar a veracidade dos argumentos está desimpedido de realizar uma pesquisa, que depois de feita, por gentileza, informe-me o resultado. Apesar de não fazer estudos concretos, uso o método da abdução para escrever este texto.

Da escolha de uma pauta até a edição de uma matéria jornalística há parcialidade. Primeiro porque nem tudo que acontece, por exemplo, no Brasil é noticiado. Existem muitos fatos acontecendo por aí e não viram noticias porque não há espaço suficiente e porque ninguém agüenta tanta informação. Não conseguimos nem ao menos acompanhar a pequena parte das notícias publicadas, imagine se todos os acontecimentos fossem publicados.

A determinação do que será notícia é opinativa e envolve questões ideológicas. A escolha da informação mais importante que entra no primeiro parágrafo, também. Da mesma forma o que é escrito no título e no sutiã. As aspas de um entrevistado servem para o jornalista tirar o dele da reta. Quando o repórter escreve no texto fulano disse “O governo é uma merda” entre aspas, é na verdade o que ele queria dizer. Se ele não quisesse dizer isso, simplesmente não colocaria.

Para uma reportagem ser imparcial, ela não deveria ter título. Possuir somente uma linha. A entrevista realizada com uma fonte tem que ser citada na íntegra. Todos os fatos devem ser noticiados. A manchete tem que deixar de existir porque o critério de escolha do que é mais importante também é parcial. E, por fim, a matéria não pode ser feita, em hipótese alguma, por um ser humano. Ela tem que ser realizada por um ser com a capacidade de absorver todas as informações ao redor, não deixar passar nenhum detalhe, nem uma agulha que esteja no chão, por exemplo. Obrigatoriamente, o repórter tem que ser frio, insensível, sem valores. Enfim, uma criatura que não é influenciado pela cultura humana ou pelo meio social que ela está inserida. Se uma notícia fosse feita com esses critérios, seria incompreensível. E, como não existe nenhum ser com as características descritas acima, concluo que é impossível se quer se aproximar da imparcialidade.

Defendo, portanto, que todos os meios de comunicação deixem claro que são parciais. Dessa forma estará sendo honesto com o leitor. No ano passado, a revista Carta Capital deu um exemplo que deveria ser seguido pelos demais meios noticiosos. Mino Carta escreveu no editorial a preferência da revista pelo então candidato a presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Atitude que demonstra respeito pelo público que acompanha as notícias da revista.

Enfim, estimado leitor, é isso que defendo no jornalismo. Mas quem sou eu para mudar um sistema que favorece muitos endinheirados? Não sou nada, mas os leitores sim. Vocês podem muito bem mudar o quadro. Não é fácil, mas também não é impossível. Para realizar a mudança, os leitores têm que observar com olhar crítico a cobertura realizada pela imprensa. Observar a procedência dos anúncios veiculados nos meios. E boicotar o veículo que estiver sendo desonesto. Repito, não é fácil. Mas temos que tentar.

Um comentário:

Alan Robson disse...

REALIDADE... NÃO EXISTE UMA IMPARCIALIDADE ABSOLUTA, ESPECIALMENTE PORQUE SOMOS DOTADOS DE PERSONALIDADE, E QUALQUER COISA QUE FAÇAMOS PASSA PELA FILTRAGEM DE TAL ATRIBUTO DA CONDIÇÃO HUMANDA... NEM A PESSOA QUE LÊ ESTÁ ATRÁS DE IMPARCIALIDADE, ESTÁ ATRÁS DE PONTOS DE VISTA QUE CONCORDEM COM AQUILO QUE O LEITOR TEM EM SEU BANCO DE INFORMAÇÕES...