Blog do Paraíso: Cotidiano (só que piorado pelo transporte)

terça-feira, 5 de junho de 2007

Cotidiano (só que piorado pelo transporte)

Ao som da campainha do meu relógio, acordo. São 5h. A primeira coisa que lembro é do banho de água morna. Para falar a verdade, não gosto. Acho a pior parte. Entretanto, penso nos benefícios. Estar cheiroso no meio das pessoas e totalmente desperto.

Recentemente, a melhor parte do início dos meus dias, de segunda a sexta, vem depois do banho. Não é quando visto a roupa, caro leitor. É o café feito pelo velho. Não importa o lanche, o que realmente não pode faltar é o café que meu pai faz. Ele acorda no mesmo horário. Eu ainda não estou acostumado. Ele está.

Nosso diálogo é curto. Tomo o café, dou tchau, saio primeiro que ele, subo a rua ainda escura, observo o vazio. Os pensamentos afloram, como um computador que ordena as atividades do dia. Uma espécie de agenda cerebral.

Na parada de ônibus, outros moradores aguardam o transporte. Geralmente, são empregadas domésticas, agentes de serviço gerais, enfim, a dita mão de obra barata que deixa a cidade dormitório para manter a subsistência. Meus devaneios cessam com o vento gélido de junho e com o atraso do ônibus. O que será que aconteceu?

Ali, no horizonte, fito. É ele, finalmente. Pelo horário, suponho que seja. Mais próximo, percebo que não é. É o ônibus que vai para a W3 Norte. Como os outros, lotado. Espere! Atrás deles. Sim, esse sim. S.I.A./Cruzeiro. Por causa do ônibus que chegou primeiro, pára um pouco distante do ponto. Mesmo assim, impaciente, o povo vai de encontro. Por que não esperam o ônibus se aproximar? Questiono-me. Sinceramente, não entendo. Penso em permanecer no meu lugar e esperar, mas a antítese vem logo em seguida. Os outros passageiros pensarão: “Mas que cara folgado. Ele acha que é melhor que os outros, por isso não vai até o ônibus”. Sigo a manada. Bom. O ônibus já está atrasado, não custa nada economizar tempo. Tento me convencer de que faço a coisa certa.

As cadeiras estão lotadas. O corredor, mais ainda. Entro no ônibus já procurando onde segurar para não levar uma queda. O motorista não quer nem saber. Arranca sem dó. Quem está seguro, bem. Quem não está, azar. Deve pensar o motorista. No aperto, deixo a periferia. A penumbra do amanhecer a deixa até bonita, pois os cacos das casas ainda estão encobertos.

Procuro sempre ficar do lado que o sol nasce. Gosto de contemplar a paisagem do cerrado devastado. Momento que fujo da realidade dura e, as vezes, deprimente, depende do meu estado de espírito. Esqueço que estou em um ônibus caindo aos pedaços, lotado, com um barulho ensurdecedor e a passagem mais cara do Brasil. Fico me perguntando, se o dinheiro não é reinvestido para melhorar o transporte, para onde vai? Será que ele serve somente para pagar o diesel e os salários do motorista e do cobrador? Se é isso, concluo, o dono da empresa é um santo. Ajuda muita gente sem ganhar nada.


Aproxima-se do meu destino. Tenho que me antecipar porque senão o ônibus passa da minha parada. Se ele estivesse vazio, seria fácil chegar até a porta e descer tranqüilamente. Puxo a cordinha, o ônibus pára, desço, e sigo minha rotina, porém, piorada pelo transporte público.

Um comentário:

MARCILIO disse...

Zé, ficou muito legal, vc sempre bastante criativo. Essa crônica deveria ser publicada em grande jornais. parabéns vc é um grande jornalista.