Blog do Paraíso: Cotidiano (só que piorado pelo transporte público) – II: cordeiros humilhados!

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Cotidiano (só que piorado pelo transporte público) – II: cordeiros humilhados!


Os moradores da periferia do Distrito Federal estão... ...numa situação complicada – para não usar aquele palavrão que começa com a letra F, termina com DOS e, entre F e DOS, tem UDI.

Entra governo e sai governo, o transporte público continua... – acho que a palavra que deixei de escrever acima também deveria ser usada aqui, mas sem S.

Parece que o atual governo do DF está tentando mudar a situação do transporte público da capital. Parece!... O jeito é esperar para ver. Mas, enquanto não muda, os usuários, pobres na maioria, continuarão sofrendo.

Hoje mesmo, às 7h, peguei um ônibus da empresa Planeta. Barulhento, lotado, desconfortável, velho, sujo, enfim, um tipo comum que circula pelas vias da capital.

Depois de enfrentarmos um engarrafamento, o ônibus quebrou. Os passageiros, como cordeirinhos, saíram (para rimar) devagarzinho. Calados, amofinados, porém, revoltados.

Não demorou muito para um ônibus que tinha o mesmo destino passar por lá. Passar e não parar. Afinal, era de outra empresa. Empresa concorrente. Era o ônibus da Viplan. Toma! Coisa boooa. Quem mandou vocês pegarem esse ônibus e não o nosso. Deve ter pensado o motorista da empresa concorrente, ao passar pelos passageiros que não tinham nada a ver.

Para não chegarem atrasados ao emprego, muitas pessoas foram obrigadas a pagarem a passagem novamente para um ônibus, de outra empresa, que parou, mas não permitiu a entrada dos passageiros, martirizados, pela porta de trás. É um absurdo, pensei.

Depois de alguns minutos, finalmente o bendito ônibus da Planeta apareceu. Todos os bancos estavam ocupados. Só tinha espaço no corredor. Logo, deduzi que todo mundo não caberia. Fiquei paciente e disposto a esperar outro ônibus. Os passageiros transfiguraram de cordeirinhos a bois e, como uma manada, correram em direção à porta de trás. Entupiram-na. Antes de as pessoas entrarem, quero dizer, pararem de entrar, o motorista começou a andar com o ônibus para mostrar que não cabia mais ninguém. Eu percebi que a porta da frente estava aberta. Tive então a idéia de entrar por lá, pois a parte da frente do veículo quase não tinha passageiros.

Entrei e me questionei: será que terei que atravessar a roleta e pagar novamente a passagem para poder descer? Não é possível. O motorista e o cobrador me viram entrar pela porta da frente. Devem ter bom senso. Bom. Se eles me cobrarem, eu pago numa boa, pensei e não me dei conta o quanto estava sendo cordeirinho.

Antes de a minha parada chegar, do outro lado da roleta, uma das passageiras que estava no ônibus que quebrou dirigiu a palavra ao motorista para tirar satisfação. “Motorista, sabia que você quase me separou da minha filha de nove anos? Olha, você tem que tomar mais cuidado. Se eu tivesse ficado lá e se ela tivesse se perdido de mim, a coisa ia complicar para você”.

“Se você tivesse perdido sua filha, o problema seria seu e não meu”, respondeu o motorista. Seguiu-se então uma discussão. O motorista, indiferente. A mulher, já aos prantos. Que sssssssssssssssssttreeeeeeeeeeeeeesssssssssssssssssssss!!!! Pensei. Só espero que ele esteja pronto para outro, pois eu não vou pagar a passagem novamente. Decidi, pois já estava revoltado com a situação. Não é possível tanta humilhação.

“Vocês aí, que estão na frente, têm carteirinha de passe livre?”, perguntou o cobrador. “Quem não tiver, passe a roleta, por favor”. Os outros passageiros que entraram comigo passaram e pagaram novamente, como bons cordeirinhos humilhados, domados, “encabrestado” e adestrados. Eu fiquei imóvel. Quero vê se ele vai me fazer pagar de novo. Nós vamos parar no ponto final, mas eu não vou pagar. Onde estão os meus direitos? Questionei-me outra vez.

Quando estava chegando perto da minha parada, eu disse ao cobrador: “eu já paguei a minha passagem no outro ônibus”. “Mas você entrou pela frente. Vai ter que passar pela roleta, não pode descer pela porta da frente. Por que você não entrou pela porta de trás?”, perguntou. Eu respondi. “Não consegui. Você não viu a mulher dizendo? Lá tava uma bagunça. Eu não consegui e não vou pagar de novo porque não tem lógica eu pagar duas vezes para a mesma empresa”. O cobrador ficou irritado. Argumentou. Eu não falei mais nada. Estava decidido. Eu não ia pagar e não paguei. Engoli sapos, mas não paguei!!

(Sabe, caro leitor. Às vezes me pergunto: será que o motorista e o cobrador recebem dinheiro a mais para serem do jeito que eles são, verdadeiros cães de guarda?)

Este é o tipo de humilhação que quem usa o transporte público do DF tem que enfrentar quase diariamente. E por que não nos revoltamos? Por que será que agimos como cordeirinhos? Confesso que já tive várias vezes vontade de tacar fogo em um desses ônibus que circula por aí! Se eu fizesse isso, a imprensa noticiaria o meu barbarismo sem mostrar o outro lado da questão. Pode uma coisa dessa?

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