"O que é? O que é? Clara e salgada, cabe em um olho e pesa uma tonelada..." Racionais Mc's
Os olhos marejam e a voz trava. Quando a fala sai, ao mesmo tempo, uma lágrima escorre dos olhos da dona de casa Eliene Nosa da Silveira, 38 anos, ao explicar como é o Dia das Mães sem o filho mais velho, Rafael Nosa da Silveira. “É horrível. Parece que falta um pedaço da gente”. Há um ano, Rafael foi assassinado com um tiro na cabeça, próximo à casa dos pais, em Santa Maria. O crime ocorreu no dia do aniversário de 15 anos do jovem. Segundo a mãe, Rafael ouvia música no discman, que ela lhe deu de presente, quando um rapaz de 16 anos, morador da quadra vizinha, passou de bicicleta e disparou três tiros. Eliene conta que, antes de chegar em estado de coma ao hospital do Gama, o filho conseguiu dizer o nome e o endereço do algoz, que estará livre depois de passar três anos num centro de recuperação para menores de idade.
Dona Eliene é um tipo de mãe. A mãe que teve o filho levado pela violência urbana. Outro tipo comum é o da mãe classe média e batalhadora que cria os filhos sem o pai. É o caso da professora de inglês Cristina Vilar, 50 anos. Ela se casou com 24 anos e teve duas filhas, a biomédica Cristiane Vilar, hoje com 25 anos, e a estudante de Publicidade e Propaganda, Andréia Vilar, 21 anos. “Foi muito difícil criá-las sozinha e com a situação financeira apertada”, revela Cristina, moradora do Plano Piloto. Entretanto, diz que o amor de mãe nesse caso é diferente. “Quando a mãe é separada, a afinidade é maior. O amor não fica dividido entre o pai e a mãe”, explica.
Já a mãe Bárbara França Souza, 19 anos, não tem certeza de que conseguirá cuidar, sozinha, da filha, Luisa França de Sousa, de 1 ano e 10 meses. Bárbara é o tipo de mãe adolescente, que largou os estudos por causa do filho. Quando engravidou, tinha 17 anos e cursava o segundo ano do ensino médio. Na época, o pai da criança era mais velho que Bárbara, tinha 19 anos, mas terminou o namoro no terceiro mês de gravidez. A adolescente conta que no começo pensava que a juventude dela tinha acabado. “Agora eu acho que não. Há coisas mais importantes do que ir para a festa, encher a cara de bebidas e acordar no outro dia com ressaca”, explica. “Tudo que eu faço agora é pensando na minha filha. Se eu pego num dinheiro e vou ao shopping, só penso em comprar algo para ela”. Segundo a jovem, o pai da criança ajuda um pouco, mas não paga pensão. Bárbara mora em Santa Maria, não concluiu o ensino médio e é auxiliar de serviços gerais.
Se tiver sorte, ela não será como outro tipo de mãe. A guerreira mãe pobre, como a catadora de latinhas, Ana Maria, 32 anos, também conhecida como Duda. Ana fica de segunda a sexta-feira em casa cuidando dos cinco filhos, com idades de 10, 7, 6, 3 e 1 ano e 9 meses. Para conseguir o dinheiro do aluguel, na tarde de sexta-feira, Duda, o marido João Pedro e os três filhos mais novos pegam um ônibus de Brasilinha de Goiás para o Plano Piloto e só voltam para casa na tarde de domingo. Eles se juntam com outras famílias e se hospedam de baixo de umas árvores que ficam atrás da rodoviária do Plano Piloto. Grávida de nove meses, Duda conta que é difícil ser mãe. “Se eu nascesse de novo, não teria nenhum filho. Não estou arrependida. Eu amo meus filhos, mas se eu tivesse outra oportunidade, não seria assim”, diz.
Mas nem toda mãe pobre está disposta a cuidar dos filhos, mesmo com dificuldades. Por isso existe o tipo de mãe barriga de aluguel, que quando não encontra ninguém para cuidar dos filhos, abandona-os ou simplesmente os joga em latas de lixo, terrenos baldios, fossas ou rios. É o caso da prostituta Drica, que anuncia no jornal ter 20 anos, quando na verdade tem 28 anos. Ela não se desfez dos filhos, pois, para sorte deles, a mãe dela resolveu cuidar. Drica não ajuda financeiramente os três filhos que deixou no Piauí. “Por que tem quem cuida”, justifica. A prostituta, que diz fazer programas por gosto e não por necessidade, não visita os filhos, mas diz que os ama.
Em contraste com a mãe barriga de aluguel, há a grande mãe. Ela gosta tanto dos filhos que acaba adotando os dos outros. O exemplo é encontrado em Samambaia, no lar da dona de casa Maria Aparecida Lima de Araújo. No casamento de 28 anos, teve seis filhos, porém adotou mais uma. Juliana de Jesus, 6 anos, foi adotada pela família com 6 meses de vida. Maria diz que o amor que sente pelos filhos biológicos é o mesmo que sente pela filha adotiva.
Um outro tipo de mãe que se pode encontrar no Distrito Federal é a mãe religiosa. A dona de casa Ana Coelho da Costa Santos, de 36 anos, por exemplo. Ela é católica há mais de 10 anos. Para Ana Coelho, o maior presente que pode receber dos filhos é vê-los participando ativamente na igreja que freqüenta em Santa Maria. Coelho tem quatro filhos e diz que não seria capaz de abrir mão de nenhum. “Os filhos são muito importante, fico indignada com as mães que dão os filhos”, conta. Mesmo com toda dificuldade econômica, ela afirma que toda mãe não deve desistir dos filhos. “Dá trabalho? Dá, mas se Deus te deu, Ele vai te ajudar”, explica.
Talvez, leitor, não haja, no meio dessas mães, nenhuma do tipo da sua, entretanto, as histórias podem ser um pouco parecidas. Existe também a possibilidade de não ter nenhuma semelhança, afinal, mãe só tem uma.
* Texto escrito no mês das mães, em 2007
Dona Eliene é um tipo de mãe. A mãe que teve o filho levado pela violência urbana. Outro tipo comum é o da mãe classe média e batalhadora que cria os filhos sem o pai. É o caso da professora de inglês Cristina Vilar, 50 anos. Ela se casou com 24 anos e teve duas filhas, a biomédica Cristiane Vilar, hoje com 25 anos, e a estudante de Publicidade e Propaganda, Andréia Vilar, 21 anos. “Foi muito difícil criá-las sozinha e com a situação financeira apertada”, revela Cristina, moradora do Plano Piloto. Entretanto, diz que o amor de mãe nesse caso é diferente. “Quando a mãe é separada, a afinidade é maior. O amor não fica dividido entre o pai e a mãe”, explica.
Já a mãe Bárbara França Souza, 19 anos, não tem certeza de que conseguirá cuidar, sozinha, da filha, Luisa França de Sousa, de 1 ano e 10 meses. Bárbara é o tipo de mãe adolescente, que largou os estudos por causa do filho. Quando engravidou, tinha 17 anos e cursava o segundo ano do ensino médio. Na época, o pai da criança era mais velho que Bárbara, tinha 19 anos, mas terminou o namoro no terceiro mês de gravidez. A adolescente conta que no começo pensava que a juventude dela tinha acabado. “Agora eu acho que não. Há coisas mais importantes do que ir para a festa, encher a cara de bebidas e acordar no outro dia com ressaca”, explica. “Tudo que eu faço agora é pensando na minha filha. Se eu pego num dinheiro e vou ao shopping, só penso em comprar algo para ela”. Segundo a jovem, o pai da criança ajuda um pouco, mas não paga pensão. Bárbara mora em Santa Maria, não concluiu o ensino médio e é auxiliar de serviços gerais.
Se tiver sorte, ela não será como outro tipo de mãe. A guerreira mãe pobre, como a catadora de latinhas, Ana Maria, 32 anos, também conhecida como Duda. Ana fica de segunda a sexta-feira em casa cuidando dos cinco filhos, com idades de 10, 7, 6, 3 e 1 ano e 9 meses. Para conseguir o dinheiro do aluguel, na tarde de sexta-feira, Duda, o marido João Pedro e os três filhos mais novos pegam um ônibus de Brasilinha de Goiás para o Plano Piloto e só voltam para casa na tarde de domingo. Eles se juntam com outras famílias e se hospedam de baixo de umas árvores que ficam atrás da rodoviária do Plano Piloto. Grávida de nove meses, Duda conta que é difícil ser mãe. “Se eu nascesse de novo, não teria nenhum filho. Não estou arrependida. Eu amo meus filhos, mas se eu tivesse outra oportunidade, não seria assim”, diz.
Mas nem toda mãe pobre está disposta a cuidar dos filhos, mesmo com dificuldades. Por isso existe o tipo de mãe barriga de aluguel, que quando não encontra ninguém para cuidar dos filhos, abandona-os ou simplesmente os joga em latas de lixo, terrenos baldios, fossas ou rios. É o caso da prostituta Drica, que anuncia no jornal ter 20 anos, quando na verdade tem 28 anos. Ela não se desfez dos filhos, pois, para sorte deles, a mãe dela resolveu cuidar. Drica não ajuda financeiramente os três filhos que deixou no Piauí. “Por que tem quem cuida”, justifica. A prostituta, que diz fazer programas por gosto e não por necessidade, não visita os filhos, mas diz que os ama.
Em contraste com a mãe barriga de aluguel, há a grande mãe. Ela gosta tanto dos filhos que acaba adotando os dos outros. O exemplo é encontrado em Samambaia, no lar da dona de casa Maria Aparecida Lima de Araújo. No casamento de 28 anos, teve seis filhos, porém adotou mais uma. Juliana de Jesus, 6 anos, foi adotada pela família com 6 meses de vida. Maria diz que o amor que sente pelos filhos biológicos é o mesmo que sente pela filha adotiva.
Um outro tipo de mãe que se pode encontrar no Distrito Federal é a mãe religiosa. A dona de casa Ana Coelho da Costa Santos, de 36 anos, por exemplo. Ela é católica há mais de 10 anos. Para Ana Coelho, o maior presente que pode receber dos filhos é vê-los participando ativamente na igreja que freqüenta em Santa Maria. Coelho tem quatro filhos e diz que não seria capaz de abrir mão de nenhum. “Os filhos são muito importante, fico indignada com as mães que dão os filhos”, conta. Mesmo com toda dificuldade econômica, ela afirma que toda mãe não deve desistir dos filhos. “Dá trabalho? Dá, mas se Deus te deu, Ele vai te ajudar”, explica.
Talvez, leitor, não haja, no meio dessas mães, nenhuma do tipo da sua, entretanto, as histórias podem ser um pouco parecidas. Existe também a possibilidade de não ter nenhuma semelhança, afinal, mãe só tem uma.
* Texto escrito no mês das mães, em 2007
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