Acho que agora já posso comentar o trágico sequestro de Eloá sem cometer nenhuma precipitação. Nem preciso dizer onde, quando e como ele ocorreu, pois todos já estão cansados de saber, afinal, a imprensa nos últimos dias só fala nisso – pois a informação aumenta as vendas e a audiência. Somente agora estou me arriscando a fazer um comentário a respeito do sequestro porque acredito já ter informações suficientes. Informações que me levam a três conclusões: a polícia agiu muito mal; a imprensa atrapalhou as negociações; e as duas juntas, mais o sequestrador, mataram Eloá. Quantos inocentes ainda morrerão por causa do despreparo da polícia, eu me pergunto. A morte da adolescente Eloá não foi a primeira causada pela ação desastrosa da polícia. Vale lembrar da morte do menino João Roberto, baleado quando estava no carro da mãe, confundido com o veículo de criminosos. Somam-se as esses casos outros tantos espalhados pelo Brasil. Se eu fosse citá-los, o leitor passaria o dia inteiro neste blog, coisa difícil de acontecer porque ele tem mais o que fazer e eu também. Bom. O que a polícia não deveria ter feito no sequestro de Eloá? Deixar Nayara entrar de novo no apartamento. Permitir que o sequestro durasse tanto tempo. E, por fim, invadir o apartamento de maneira tão desastrosa. E o que a polícia deveria ter feito? Antes de invadir, a polícia deveria prever os móveis atrás da porta e a localização exata do sequestrador e das reféns, o que seria possível com a ajuda de alta tecnologia, se eles tivessem, é claro. O barulho da explosão deveria ser provocado em vários locais para desorientar o criminoso. Em seguida, os policiais deveriam invadir o prédio, simultaneamente, por meio de entradas diferentes. Eu escrevi simultaneamente e não lerdamente, como eles fizeram, colocando a escada no lado de fora do prédio, bem depois da explosão, para entrar pela janela com bastante dificuldade. Agora, quanto a imprensa, que atrapalhou as negociações, o que ela não deveria ter feito? Criar um espetáculo em volta do caso. Dar voz ao criminoso fazendo entrevista com ele. Contar toda a estratégia da polícia antes da execução. E o que a imprensa deveria ter feito? Somente uma coisa: uma cobertura responsável. Durante o sequestro, a imprensa foi irresponsável e inconsequente. Talvez as negociações teriam um fim diferente, se não fosse a cobertura sensacionalista da mídia. Pode-se dizer, portanto, que quem matou Eloá não foi somente o sequestrador, mas, sim, a polícia e a imprensa. Além dessas conclusões, a tragédia traz à tona uma questão: qual é o critério usado pela polícia para escolher o veículo de comunicação que deve divulgar, com exclusividade, o material das investigações? Material público, diga-se de passagem. E se é público, não deveria ser exclusivo. Isso tem nome. Chama-se promiscuidade.
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
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