Blog do Paraíso: Análise da cobertura da violência contra a mulher realizada pelos jornais Correio Braziliense, Folha de S. Paulo e O Globo

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Análise da cobertura da violência contra a mulher realizada pelos jornais Correio Braziliense, Folha de S. Paulo e O Globo

*A pesquisa abaixo foi feita entre 1º de setembro e 15 de dezembro de 2006, pelos então alunos do 4º semestre de jornalismo Fernando Bruzzi, José Roberto Paraíso e Nathália Priscilla.

Introdução


A preocupação com a violência contra a mulher cresceu entre o ano de 2004 e 2006, segundo pesquisa realizada em maio pelo Ibope – Instituto Patrícia Galvão 2006. Em todo país, 33% das pessoas ouvidas apontam a violência contra as mulheres, dentro e fora de casa, como o problema mais preocupante na atualidade. E 51% dos entrevistados declaram conhecer ao menos uma mulher que é agredida pelo companheiro.

Dentro desse contexto, decidimos avaliar como é feita a cobertura da violência contra a mulher pelos jornais. Do dia primeiro de setembro a 15 de dezembro de 2006, olhamos as edições nacionais da Folha de S. Paulo e do O Globo, mais o jornal local Correio Braziliense. Fizemos uma análise de todos os textos referentes à violência contra a mulher.

Aos textos encontrados, questionamos se a cobertura era própria, qual era a editoria e o gênero e se havia chamada na capa. Mas a questão principal foi acerca do jornalismo público, pois por meio dela podemos dizer se a cobertura da pauta social escolhida é bem feita ou não. Tentamos encontrar nos textos as seguintes características do jornalismo público: pauta fria, texto analítico, busca de soluções, prestação de serviço e citação de fontes não-oficiais. Além disso, recolhemos o título das matérias, a data, o nome, profissão e origem das fontes citadas e o nome dos repórteres.

Após a análise dos textos, fizemos duas entrevistas. Uma com a Organização não-governamental (Ong) Agende (Ações em gênero cidadania e desenvolvimento) e outra com o jornalista Vivaldo de Sousa. Escolhemos o profissional da sucursal de Brasília da Folha de S. Paulo porque foi o jornal com a pior cobertura.

Este trabalho é uma síntese de nossa pesquisa. Traz consigo também nossa conclusão concernente à cobertura da violência contra a mulher realizada pelos jornais pesquisados.

Desenvolvimento

A pior cobertura foi realizada pela edição nacional do jornal Folha de S. Paulo, segundo nossa pesquisa. Perguntamos para o jornalista da sucursal da Folha em Brasília, Vivaldo de Sousa, se o jornal onde ele trabalha faz jornalismo público, pelo menos no caderno de Cidades, já que, com exceção de um artigo na parte de opinião, todas as matérias foram encontradas lá. “Acho que faz. Pelo que se pode verificar em alguns assuntos relevantes publicados pela Folha, como o atraso nos aeroportos”, disse Vivaldo. Mas, das cinco propriedades do jornalismo público, foram encontrado na cobertura apenas três. Nenhum dos textos buscava solução ou prestava serviço. Houve citação de fontes não-oficiais em 20 matérias. Encontramos nove textos analíticos e seis com pauta fria.

Questionado porque a maioria das matérias foi feita com pautas quentes o jornalista respondeu que “O período (da pesquisa) analisado é curto. Todos os jornais ficam atentos ao que está acontecendo em um determinado momento. O caso do ônibus do Rio, por exemplo, no momento que acontece um caso como esse, o Jornal vai dar destaque a esse assunto durante alguns dias, por isso acaba tomando lugar de outras matérias que sairiam. Violência contra a mulher não é um tema do cotidiano do jornal”, disse. Perguntamos também para Vivaldo porque nenhuma das matérias sobre violência contra a mulher, analisadas no período, não buscava solução ou prestava serviço. “Normalmente, busca de solução nós só vamos encontrar em matéria de cunho investigativo. Jornalismo investigativo, quer dizer, aquele que o repórter corre atrás, e não matéria de terceiros. O Jornalismo Público está muito ligado ao jornalismo investigativo. Por exemplo, o caso do Ônibus não é avaliado como violência contar a mulher e, sim, como violência em geral. Porque quando o caso começou, pela manhã, ninguém sabia que era um caso de briga entre marido e mulher”, disse o jornalista.

Justamente, pela a imprensa tratar a cobertura da violência contra a mulher como qualquer outra pauta, a avaliação dos meios de comunicação feita pela Ong Agende é de razoável a bom. A organização também concorda com nossa pesquisa, que constatou a falta de busca de solução nas matérias. “Na busca de soluções a imprensa deixa a desejar. A abordagem da cobertura da violência contra a mulher é feita com um olhar frio pela imprensa, que trata do fato como qualquer outro. Esse olhar precisa mudar”, disse a jornalista da Ong Cléa Paixão.

Além de verificar as propriedades do jornalismo público, constatamos que quase todos os textos foram feitos por cobertura própria, 25 ao todo. A maioria eram notas. “Infelizmente os jornais não tem continuidade. Se pararmos para analisar, o caderno de cidades da Folha é pequeno, são apenas quatro folhas, que ainda são preenchidas por obituários e etc. Como temos pouco espaço, acabamos dando prioridade para os furos e para outras pautas quentes. Muitas matérias são jogadas no lixo porque o espaço é curto, isso não acontece só na editoria de cidades”, Vivaldo justifica.

Apesar de não encontrarmos nenhum editorial, achamos um artigo. Houve duas entrevistas e sete chamadas de capa.

Analisamos também neste período a edição nacional do jornal O Globo e encontramos 12 textos, menos da metade do encontrado na Folha. Entretanto, dois textos buscaram solução e um prestou serviço. Ou seja, por outro lado O Globo aparenta ter mais qualidade. Houve citação de fontes não-oficiais em oito matérias. Sete pautas frias e oito textos analíticos.

A cobertura do terceiro jornal que analisamos, o Correio Braziliense, foi a melhor porque teve 12 textos que buscavam soluções e dez que prestavam serviços. Essas não são as principais características do jornalismo público, entretanto, são as propriedades essenciais. Assim como as outras, elas afetam diretamente a vida do leitor, mas de maneira mais direta e clara. O Correio Braziliense ficou também com o maior número de textos analíticos, 12 ao todo. Com dez textos, perdeu para a Folha nas citações de fontes não-oficiais, mas empatou com O Globo em número de pautas frias, ambos ficaram com nove. Mas, é importante destacar, o jornal carioca teve menos textos.

Conclusão

Apesar do número alto de textos encontrados sobre a violência contra a mulher - 32 textos, o Correio Braziliense teve a melhor cobertura porque se demonstrou preocupado com as propriedades do jornalismo público. Das cinco características, em relação aos outros dois jornais analisados, em três teve o maior número de textos. Já a Folha de S. Paulo, onde encontramos o segundo maior número de textos - 31, deixou a desejar. Pois, como já demonstramos, não teve um se quer texto que prestasse serviço ou buscasse soluções. E, pela a entrevista com Vivaldo de Sousa, a expectativa não é de mudança na cobertura. Por fim, o jornal O Globo, de acordo com nossa análise, fez uma cobertura medíocre, com 12 textos.

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