Blog do Paraíso: Por que Roriz deixou de ser aliado de Arruda e passou a ser inimigo?

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Por que Roriz deixou de ser aliado de Arruda e passou a ser inimigo?


O ex-governador Joaquim Roriz (PSC), quando deixou o Governo do Distrito Federal (GDF) para concorrer a uma vaga de senador, nas eleições de 2006, apoiou abertamente a candidatura do então deputado federal José Roberto Arruda (ex-DEM) ao GDF. Na época, a decisão de Roriz causou mal estar na vice-governadora Maria de Lourdes Abadia (PSDB), que assumira o governo no lugar de Joaquim e era candidata a governador. O tempo passou e Roriz, de apoiador, passou a ser inimigo de Arruda, inclusive, para o atual governador, a grande crise no Distrito Federal é uma armação do ex-governador. Mas por quê?

Em 2006, para ser o candidato do Democratas, na época chamado de PFL, Arruda prometeu para Paulo Otávio (DEM), hoje vice-governador, que não se candidataria, em 2010, à reeleição de governador. Preço que pagaria, caso Otávio desistisse de concorrer ao GDF, naquela eleição. A proposta de Arruda se transformou num acordo público, documentado e assinado até por testemunhas.

Certamente, em 2006, assim como o inocente Paulo Otávio, Roriz deve ter acreditado na promessa de Arruda e, por isso, lhe deu apoio na eleição para governador. Joaquim, deve ter pensado, não posso concorrer a um terceiro mandado, mas posso voltar em 2010; não perderei nada se apoiar Arruda, pelo contrário, ganharei um aliado que não me atrapalhará nas próximas eleições. Roriz e Paulo Otávio estavam redondamente enganados.

Arruda foi eleito governador e Roriz, senador. As más línguas especulam que, em 2007, o governador aplicou um golpe em Joaquim, influenciando a Polícia Civil que, numa investigação, revelou uma gravação onde Roriz negociava a partilha de um cheque do Banco de Brasília no valor de 2,2 milhões de reais com o dono da Gol, o empresário Nenê Constantino – preso em maio de 2009 por ser suspeito de cometer dois homicídios. Roriz disse que parte do dinheiro foi usada para comprar um boi. A história não se sustentou e virou a piada do “boi de ouro”. O fato obrigou Roriz a renunciar o mandato para não ser cassado.

No início de 2009, bem antes de vir à tona o grande esquema de corrupção revelado pelas investigações da Polícia Federal, Arruda dava claros sinais de que não cumpriria o acordo com Paulo Otávio. A reeleição do então único governador pelo Democratas era tida como certa, principalmente, porque as propagandas e a cobertura chapa branca da imprensa estavam convencendo a população que Arruda fazia um excelente governo, que transformou o Distrito Federal num verdadeiro canteiro de obras. Até o início da campanha de 2010, a intenção do governador era fazer 2 mil inaugurações.

A última cartada que deixou mais evidente ainda a intenção de Arruda se reeleger governador foi a briga entre o presidente do PMDB-DF Tadeu Filippelli e o ex-governador Roriz. O confronto teve início depois que Filippelli, provavelmente a mando de Arruda, negou legenda para Roriz disputar novamente o GDF. O PMDB-DF sempre fez, e ainda faz, parte da base aliada do atual governador, inclusive, o nome do presidente nacional do PMDB, o deputado federal Michel Temer, é citado em gravações como um dos beneficiados pelo dinheiro arrecadado por Arruda, segundo as investigações, chefe de um grande esquema corrupto de cobrança de propina de empresas prestadoras de serviço para o GDF.

Antes de pedir a desfiliação do PMDB, Roriz chegou a bater boca com Filippelli, num encontro do Partido, onde chamou o ex-aliado de “mentiroso” e “vagabundo”.

Em 16 de setembro, o mesmo dia em que Roriz saiu do PMDB, Durval Barbosa, então secretário de Relações Institucionais do GDF, prestou ao Ministério Publico do Distrito Federal e Território o primeiro depoimento que revelou o grande esquema corrupto de arrecadação de propina.  Foi justamente naquele dia que Durval entregou os vídeos que gravou, dentre eles, o que Arruda aparece recebendo um maço de 50 mil reais.

A partir daí, tiveram início as investigações que deram origem a operação Caixa de Pandora da Polícia Federal, assunto que deixou de ser local e passou a ser nacional, causando revolta e indignação em todo Brasil. Manifestantes foram às ruas pedir o impeachment de Arruda e de Paulo Otávio, bem como a punição de todos os envolvidos. Além do desgaste político, o governador, para não ser expulso do DEM, teve que pedir sua desfiliação. Agora, poderá cumprir o acordo com o vice-governador, pois está impedido pela justiça eleitoral de concorrer a qualquer cargo eletivo nas próximas eleições – o prazo de troca de partido terminou em 3 de outubro do ano passado.

E agora? A novela acabou? Não. Ainda não. Pelo contrário. Ela inda está pela metade. Falta o julgamento dos processos de impeachment contra Arruda e Paulo Otávio e dos processos por quebra de decoro contra os parlamentares vendidos.

Arruda, provavelmente, não ser dará por vencido. Embora não possa se candidatar, poderá muito bem apoiar, nos bastidores, algum adversário de Roriz. As denúncias de Durval Barbosa também custarão muito caro para Joaquim. Arruda poderá dar um troco a altura na véspera das eleições.

4 comentários:

Anônimo disse...

A-D-O-R-E-I Zé!!!Parabéns!!!

José Roberto Paraíso disse...

Muito obrigado!

Matheus disse...

Terrível ver o mar de lama que se encontra a política em nosso país. Esse país precisa de mudanças no comportomanto do povo que vê tais atitudes e nada faz!!
Parabéns pela iniciativa do blog e pela matéria. Siga firma na luta, e saiba que não está sozinho!

José Roberto Paraíso disse...

Muito obrigado pela força, Matheus.

A razão da existência deste blog é a leitura e a participação de leitores como você.