Blog do Paraíso: Corretivo

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Corretivo


“Ô menino burro!!”, dizia meu pai, já sem nenhuma paciência, quando eu estava na primeira série do ensino fundamental. Na época, eu, então com sete anos, não sabia escrever o número cinco (5) de maneira correta (veja na imagem ao lado como eu escrevia o cinco). Achava ele bastante parecido com o dois. A professora, quando percebeu, disse para o meu pai: seu filho tem que aprender como se faz o número cinco. Em casa, ele tentou me ensinar. Ele fazia o número da maneira correta. Apagava com a borracha e, depois, pedia para eu fazer. Só que eu esquecia como era o correto e errava. Meu pai tentou várias vezes. Só que eu não aprendia. Então ele perdeu a paciência. Queria até me bater. Não sei se chegou a me dar um tapa na orelha, como tinha o costume. Acho que ele deu, pois fiquei chorando. Agora me lembro. Depois de muitas tentativas, ele falou que, se eu errasse mais uma vez, me daria um tapa “no pé do ouvido”. Eu me concentrei e... Não teve jeito, levei um tapa. Fiquei chorando e disse que não queria mais que ele me ensinasse. Aprender a fazer o número cinco de maneira correta foi uma coisa bastante complicada. Pensei que nunca iria aprender. Houve outras coisas que eu também tive dificuldades de aprender. Por exemplo, ler. Costumo dizer que aprendi a ler na primeira série, mas na segunda, veja só, esqueci. Esqueci como se lia. É impressionante, você não acha? Mas foi isso que aconteceu. E quem me ajudou a refrescar a memória? Meu pai. Depois de uma reunião de pais e mestre, ele ficou sabendo que eu ia muito mal na escola. Se não me engano, foi a última reunião que ele foi. Ele ficou com vergonha e com muita raiva, quando soube do meu mau rendimento. Decidiu, portanto, nunca mais ir às reuniões de pais e mestre. Além disso, ele me colocou de castigo – ajoelhado no canto da parede – e me ameaçou: “se você não melhorar, o castigo vai ser pior. Você vai ficar ajoelhado em cima de milhos. E se você reprovar, vou te dar uma surra, seu moleque”. As ameaças do meu pai foram como um milagre de Jesus. Mudei da água para o vinho. Fico imaginando se meu pai fosse diferente. Se em vez de me castigar e ameaçar, me dissesse: “filhinho querido! Filhinho do coração!! Se você passar de ano, eu te dou um vídeo game”. Não sei como seria. Só sei que agradeço até hoje pelo corretivo.

Nenhum comentário: