Nos últimos meses de 2003, finalmente consegui meu primeiro estágio. Na época, tinha acabado de cursar o segundo ano do ensino médio e estava ingressando no terceiro e último ano do curso. Fiscal de pesquisa mercadológica era minha função no meu primeiro emprego. Tinha que ficar quatro horas em pé, dentro de uma loja, avaliando o atendimento, a organização do espaço e a limpeza, além de registrar todas as vendas. O expediente começava às 18h e acabava às 22h. Entrei de férias na escola e acabei encontrando meu segundo estágio. O destino é irônico. Há uma época que você procura e não encontra, mas depois que você consegue o primeiro, já era. Chove de oportunidades. Alguns colegas comparam essa situação com um cara solteiro. Ele fica anos sem ninguém, mas, quando consegue uma namorada, aparece um monte de pretendentes. Como o expediente do meu segundo emprego era de 8h às 17h, resolvi ficar nos dois até as aulas recomeçarem. Sei de uma coisa. Era uma canseira enorme. Aos 15 anos e com uma jornada de 12h. Quando as aulas retornaram, tive que escolher entre os dois. Se ficasse no estágio de fiscal, minha jornada seria de apenas 9h e eu estudaria no turno da manhã, cujo ensino era melhor, na escola que eu estudava. Mas se eu ficasse no meu segundo estágio, teria que estudar à noite, horário que o ensino é pior. Por qual optei? Pelo emprego de 4 horas, é claro. Só que um colega do serviço de período integral me fez mudar de idéia. Então, voltei atrás e fui estudar à noite. O argumento que me persuadiu foi econômico. Meu colega disse que eu iria me arrepender, pois eu não encontraria tão fácil e tão cedo um estágio em uma empresa que pagasse tão bem quanto a Companhia Energética de Brasília, a CEB. Além da bolsa de R$ 260 e do vale transporte, eu recebia tíquete de alimentação que somava R$ 260. Para um estudante como eu, era uma fortuna na época. Se não me engano o valor da bolsa era R$ 20 acima do valor do salário mínimo. Apesar das benesses, a área que eu trabalhava era a que tinha mais serviço, de acordo com meus colegas. O meu cargo na Comissão Permanente de Licitação da CEB era de office-boy, ou seja, faz tudo. Tirar xérox, enviar correspondência, carimbar processos, levar processos, fazer cafezinho, servir cafezinho, enfim, pau para toda obra. Durante os 10 meses que fiquei lá, ouvi vários boatos. Diziam que a sede da empresa, lá na 904 sul, seria vendida para pagar uma parte da dívida da CEB, que estava devendo tantos milhões. Eu, lotado na área por onde passava todo o dinheiro, simplesmente não entendia como a Companhia conseguiu se atolar em dívidas. Ouvi o boato de que ela seria até privatizada, pois só dava prejuízo. Mesmo assim, ao observar as licitações bilionárias da CEB, eu continuava sem entender como uma empresa daquela conseguia dar prejuízo. Naquele ano, a coisa apertou tanto que a diretoria da Companhia resolveu fazer contenção de despesas. A gratificação dos meus colegas foi o primeiro alvo. Eles perderam a gratificação recebida pela função. O salário deles, portanto, caiu de R$ 3 mil para R$ 2 mil. Mas a medida não só os atingiu. De uma só vez, a CEB mandou embora 130 estagiários, dentre eles, eu. E só agora, quatro anos depois, lendo o livro do jornalista Darse Júnior é que estou entendendo, mais ou menos, o problema da CEB. No final de 2006, a Companhia calculava uma dívida de R$ 400 milhões. Para saldar uma pequena parte da dívida, a CEB pretendia vender seu almoxarifado por, no mínimo, R$ 46,4 milhões. “O documento que previa a concorrência pública ainda determinava que o comprador dessa propriedade teria a obrigação de alugá-la para o governo por três anos renováveis por mais três, a uma anuidade de R$ 370 mil”, escreve Darse. Vocês entenderam a medida estúpida que a gestão da Companhia queria tomar? Ela queria vender seu patrimônio para depois pagar pelo aluguel dele. Agora eu entendo porque a CEB está atolada em dívidas. Provavelmente, medidas irracionais, como essa, foram tomadas várias vezes. O governador José Roberto Arruda, entre 1975 e 1979, trabalhou como engenheiro, concursado, da CEB. Ele deve ter noção dos problemas que acontecessem lá. Até 2010, os eleitores estarão esperando dele uma solução para a má gestão da Companhia. Eu não sei se a venda do território na 904 sul, no dia 16 de maio deste ano, faz parte de uma nova gestão responsável. Pelo valor de R$ 59,66 milhões, a CEB vendeu o território onde funcionava sua sede e a associação dos trabalhadores da companhia. A venda foi direta porque quem comprou o terreno foi a estatal Eletronorte. Provavelmente, o vice-governador Paulo Otávio autorizará o jornalista Darse a contar, na segunda edição do livro dele, os detalhes dessa medida e tudo que foi realizado durante o governo Arruda. Mas isso é assunto para o próximo post. Não perca o último comentário sobre o livro de Darse Júnior.
segunda-feira, 26 de maio de 2008
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