Minha filha não vê, não ouve e não anda. Tenho que cuidar dela e de mais dois filhos pequenos sozinha, meu marido me deixou. Estou desempregada, gente. Por isso tenho que ficar me humilhando. Uma moedinha qualquer serve, gente. Por favor, me ajude. A voz aguda que pronuncia a sentença acima comove. Uma, duas, três pessoas ajudam. Antes dela desembarcar, pelo menos, mais cinco passageiros contribuem. Todos ali viram o rosto da menina carente, cuja situação a mãe descreve de maneira sensacionalista. Ainda que a foto seja pequena, todos viram. Mas ninguém sabe se ela realmente existe. Se sua história é de verdade. Quem contribuiu, foi na fé. E quem não contribuiu, pelo menos, refletiu. E a seguinte questão deixa de ser mera letra de música: que país é esse? Onde pretendemos chegar com tamanha desigualdade social? A história da mãe anônima e desesperada se repetirá diante de outros passageiros. A voz e a história poderão se outras. Os personagens poderão ser diferentes, mas o problema continuará o mesmo. Pedir esmola, acredito, é a atitude desesperadora. É a última estância. Quando comecei a trabalhar e a andar pelo centro da cidade, tinha o costume de dar esmola para quem me pedia. Então cristão fervoroso, sentia-me que estava fazendo, nada mais, nada menos, que minha obrigação. Porém, parecia que o número de pedintes só aumentava. E, deixando o lado emocional, racionalmente descobri que, se continuasse a dar esmola, logo estaria na mesma situação deles, dos pedintes. O problema tem que ser combatido na raiz. Se a corrupção acabar, o dinheiro poderá chegar aonde tem que chegar e as coisas poderão melhorar.
quarta-feira, 21 de maio de 2008
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