Blog do Paraíso: O casamento dantesco de Gilmau

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O casamento dantesco de Gilmau


Quem não foi, perdeu o casamento dantesco de Gilmau que aconteceu na noite de ontem (24) na Praça dos Três Poderes, durante a manifestação do Movimento Gilmar Dantas: “Saia às Ruas” e Não Volte ao Supremo Tribunal Federal (STF). Foi muito bom. Muito divertido. É uma pena você não ter ido. Não é mesmo, amigo leitor que compareceu?

Mas não fique triste. Eu sou bonzinho e estou disposto a te contar o que aconteceu. Após os manifestantes acenderem milhares de velas em toda Praça dos Três Poderes, houve apresentação de capoeira, gritos de palavras de ordem, leitura do manifesto do Movimento e de poesia, além de discursos de representantes de seguimentos apoiadores, dentre eles, o nosso, de estudantes e jornalistas insatisfeitos. Nunca esqueceremos da decisão do STF de acabar com a exigência do diploma para se exercer a profissão de jornalista.

Quero fazer um pequeno parêntese antes de continuar a história do histórico casamento dantesco. O presidente do STF, o ministro Gilmar Mendes, conforme o grito de ordem do Movimento, tem que “sair fora” do tribunal. “Sair fora” mesmo. Ele não deve apenas “sair”. Ele tem que “sair fora”. O momento de desmoralização do judiciário brasileiro é tão grave que é preciso usar uma redundância, “sair fora” – afinal, quem sai só sai para fora –, para exigir a extirpação de Mendes. O “sai fora”, na verdade, é uma hipérbole para reforçar o pedido.

Gilmar Mendes representa tudo aquilo que queremos deixar no obscuro passado ditatorial deste país. Nossa democracia é muito recente, tem mais ou menos 23 anos. Acabar com a exigência do diploma para ser jornalista é o mesmo que atender as grandes empresas de comunicação que, sequer, compareceram ao protesto. Ressalto que essas mesmas empresas de comunicação festejaram e apoiaram o golpe militar de 1964. Eu até republiquei aqui, neste Blog, algumas manchetes daquela época.

Os argumentos para derrubar a exigência do diploma são falaciosos. Nunca a regulamentação da profissão de jornalismo coibiu a liberdade de expressão. Sempre houve espaço para especialistas fazerem comentários em rádios, TVs, jornais, revistas e, mais recentemente, a internet, que é mais abrangente ainda. A internet permite a colaboração de qualquer um na construção da notícia que, necessariamente, precisa de um profissional formado em jornalismo.

Outro argumento falacioso é o de que, se em outros países nunca foi exigido o diploma para exercer a profissão de jornalista, no Brasil não deveria ser diferente. Só que a realidade brasileira não é a mesma de outros países. Há 40 anos – isso mesmo, 40 anos – é exigido, no Brasil, o diploma para se fazer notícia. Logo, acabar com essa exigência de uma hora para outra é, senão um absurdo, no mínimo, questionável. Por que, em plena democracia, acabar com a regra que regulamenta a profissão?

Não duvido nada que daqui algum tempo as próprias grandes empresas de comunicação estarão oferecendo o seu próprio cursinho de jornalismo – umas já fazem isso –, com duração máxima de um ano e seis meses, o suficiente para fabricar um seguidor de ordens dos patrões, um jornalista pelego, dominado e manipulado.

Não é legítima a decisão debochada do STF. E nós, estudantes e jornalistas, sociedade e Estado, temos que reverter essa situação. A sociedade tem que exigir de nossos representantes do Congresso Nacional uma atitude, uma ação, afinal, foi para isso que eles foram eleitos. No caso, não seria interromper o poder soberano do poder judiciário e, sim, ouvir as vozes das ruas ecoadas pelo Movimento Gilmar Dantas: “Saia às Ruas” e não Volte ao STF. Se eles, nossos representantes do Congresso, fizerem isso, estarão respeitando a democracia. Estarão honrando a Constituição que garante todo o poder nas mãos do povo.

E a voz do povo ecoou nas ruas – aqui fecho o meu parêntese –. A voz do povo protestou com ironia ao celebrar o casamento dantesco do noivo Gilmau com a noiva Dantas. Mas não podia faltar à cerimônia os parceiros de Gilmau: os Arrozeiros da Reserva Indígena Raposa Serra do Sol (deram o arroz para tacar nos noivos), a Multinacional (não perdeu a “opportunity”), o Mau Político (fez até campanha antecipada dizendo seu número 171) e os Latifundiários (que protestaram contra os defensores da reforma agrária). Além dos convidados, a cerimônia reuniu uma quantidade de protestantes que não caberia apenas em uma Kombi; seriam necessárias umas 5, ou mais.

Após a cerimônia, festa! Muita festa, com direito à música, rojão e foguete. Teve até uma apresentação, história, do grupo de quadrilha Flor do Mamulengo que veio de Samambaia dançar, se não me engano, pela primeira vez em frente ao que deveria ser a Suprema Corte do Brasil.

Veja só, Gilmar Mendes, a que ponto você levou o judiciário brasileiro.

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