Blog do Paraíso: Campanha presidencial pode estar por trás do mensalão do DEM

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Campanha presidencial pode estar por trás do mensalão do DEM


Quem diria que a campanha para a presidência da República estaria por trás da revelação do mensalão do DEM? O interesse da imprensa nacional pelo escândalo de corrupção no Governo do Distrito Federal e a recente decisão do governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), de abandonar a pré-candidatura a presidente do Brasil, são duas peças que se encaixam.

O governador do DF, José Roberto Arruda (ex-DEM), em várias ocasiões públicas, manifestou simpatia a candidatura do governador mineiro à presidência da República, mesmo sabendo que o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), é favorito em todas as pesquisas. Antes de Aécio tomar a decisão de abandonar a disputa presidencial, Serra, no meio político, já estava escolhido como o candidato tucano para suceder o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT e PMDB).

Ainda assim, em junho deste ano, por exemplo, Arruda deu uma entrevista para as Páginas Amarelas da revista Veja, onde não assumiu como certa a candidatura de José Serra. Pelo contrário, ele disse que não dava para afirmar que a ministra Dilma, Serra ou Aécio seriam os candidatos no ano que vem. “Muita coisa ainda pode mudar”, sinalizou na época.

O governador mineiro também nutria, e manifestava publicamente, admiração ao então único governador pelo Democratas, que poderia, até, ser candidato a vice-presidente do Brasil na chapa demotucana, em 2010. Se o escândalo do mensalão do DEM não tivesse vindo à tona, Arruda poderia ter sido o principal orador num ato solene que ocorreria no início de dezembro, na Assembléia Legislativa de Minas Gerais.

Enquanto isso... “o cara que está em São Paulo no governo é uma merda!”, é assim que Arruda pode ter se referido a José Serra, no diálogo com o ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa, em 21 de outubro de 2009, quando a Polícia Federal colocou na roupa de Durval equipamento para gravar conversa com Arruda, suspeito de ser o chefe do mensalão do DEM.

Leia, a seguir, o contexto do diálogo que contém a frase dita por Arruda:


Durval: e outra. É, cê conversou com a dona dos olhos verdes de São Paulo da Unieco que o Gifone acho que trouxe, mas... conseguiu conversar com ela? 

Arruda: não. 


Durval: então conversou com o PO [Paulo Otávio (DEM), vice-governador]. É... o Augusto [Augusto Carvalho (PPS), então secretário de Saúde] mais o Antunes [Fernando Antunes, presidente do PPS-DF e então secretário-adjunto de Saúde] tomaram muito dinheiro dela, muito. Renovaram contrato, fizeram, fizeram um (???), pra renovar esse contrato. Sei que andaram tomando tudo quanto é dinheiro da mulher e, e, e da empresa lá. Aí, quando cê mandou aquele bilhete, o Ricardo fez um levantamento, negócio de reprografia e tava caro, tal e tal e tal. Não tava, não era aquilo. Tava... não era verídico aquilo. Ele esqueceu de pesquisar no lugar certo. Aí foram lá na sala e chegou lá, é outro departamento, é outra coisa. Aí o Augusto aproveitou para dar uma porrada na mulher e fez uma auditoria lá, esculhambando com a empresa. Que não vejo mais nem maneira... Aí, ligaram para ele de São Paulo, eu falei: cê quer que eu saia? Aí, “não... não quero que saia não, eu quero que cê atenda São Paulo aí e tal”. Tá esquisito, né? Como é que vai dar (???), né? Via São Paulo. Eu não sei quem quer ir atender em São Paulo. Não sei se é o Freire [Roberto Freire, presidente nacional do PPS] por lá ou alguma coisa assim. Freire que tá (???). Eu disse: porra! 

Arruda: o cara que está em São Paulo no governo é uma merda! 

Durval: eu falei, é, mas tá saindo aí sem comando? Sem o comando do Governador? Isso aí fica como esse negócio? 

Arruda: Durval, quem a gente tem que colocar na saúde, hein? Tem que achar um médico.

Notem que o governador Arruda manifesta desejo de tirar o deputado federal Augusto Carvalho do comando da Secretaria de Saúde, porque estaria perdendo controle sobre o esquema de arrecadação de propina. Na gestão de Carvalho, em dois anos, os gastos da Secretaria de Saúde pularam de 235 mil reais para 14 milhões e 800 mil reais, somente em serviços gráficos prestados pela Uni Repro Soluções Tecnológicas. Em vídeo gravado por Durval Barbosa, a diretora comercial da Uni Repro, Nerci Soares, assume que o presidente do PPS-DF, Fernando Antunes, extorquiu dinheiro da empresa para repassar ao partido, em São Paulo.

Notem ainda, no diálogo, a irritação de Durval após a frase “Freire que tá (???)”. É uma pena a Polícia Federal não ter conseguido transcrever esta frase completa. Ela poderia ser mais reveladora ainda.

O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, é, declaradamente, oposição ao governo do presidente Lula e apoiador da candidatura de José Serra a presidente do Brasil.

As peças se encaixam, o que deixa claro, portanto, que por trás da revelação do mensalão do DEM está a disputa pela presidência do Brasil.

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