Blog do Paraíso: Protesto e repressão no centro de Brasília

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Protesto e repressão no centro de Brasília


Compareci ao protesto realizado nesta quarta-feira, 9 de dezembro de 2009, em frente ao Palácio do Buriti. Marcada para as 10h, o ato foi bastante pontual. Os manifestantes se concentraram numa praça, próxima ao prédio da ex-sede do Governo do Distrito Federal (GDF). Desde que o governador José Roberto Arruda (DEM) assumiu o poder, o centro administrativo do DF fica em Taguatinga. Quem ocupa as salas do Palácio do Buriti é a presidência da República, pois o Palácio do Planalto está em reforma. Mesmo assim, o protesto foi bastante simbólico e importante para marcar o início da queda de Arruda, do vice-governador Paulo Otávio (DEM), e de todos os demais prováveis envolvidos no esquema de corrupção, revelado pela operação Caixa de Pandora.

Com o céu cheio de nuvens e, de vez em quando, calor e sol forte, o ato teve início com os discursos de políticos e representantes das entidades que compõem o “Movimento Contra a Corrupção” – inclusive os aguerridos integrantes do movimento “Fora Arruda e Toda Máfia”, que ocupou até esta terça-feira (8) a Câmara Legislativa.

Por ser composto por diversos segmentos da sociedade, o “Movimento Contra a Corrupção” não teve um líder, ou um chefe, que determinasse o que era, ou não, permitido fazer. As decisões foram sempre tomadas pela maioria. E a maioria decidiu obstruir o Eixo Monumental, no sentido Rodoviária – Palácio do Buriti. “Esta não é a orientação do Movimento”, bradaram de cima do trio elétrico. Não adiantou nada.

Mas... diante a atual situação, em que os três poderes do Distrito Federal podem estar envolvidos num grande esquema de cobrança de propina, compra de parlamentares, caixa dois na campanha eleitoral, dentre outros crimes, quem tem autoridade para dizer o que pode ou não ser feito? A polícia? A polícia não tem legitimidade de impedir protestos como o que foi realizado nesta quarta-feira, porque ela é controlada pelo Governo do Distrito Federal. Não é independente, portanto. Sempre atenderá as ordens do governador. Se depender dela, Arruda, e companhia, permanecerão no poder, ainda que imagens de maços de dinheiros de propina sendo colocadas em cuecas, meias, bolsas e sacolas circulem nas televisões do Brasil e do mundo inteiro.

Portanto, se houve feridos e confronto com a polícia, a culpa é do governador que, em posse da máquina administrativa, usou a repressão do Estado, na forma da tropa de choque da Polícia Militar.

O protesto não poderia ficar na peleguice. Os manifestantes não poderiam ficar apenas ouvindo discurso, isso é cordeirisse de mais. É preciso de intervenção urbana, afinal, numa democracia, da onde mesmo emana o poder? De acordo com a Constituição de 1988, o poder vem do povo para o povo. E se o povo vai às ruas, desarmado, carregando apenas sua indignação, não pode ser recebido por policiais armados com cassetetes, bombas de gás, armas com bala de borracha, viaturas, cavalos, cachorros, motos e até helicópteros – havia dois! Parece até que não há democracia.

Por quatros vezes houve obstrução de vias do Eixo Monumental, durante o ato de protesto. A primeira aconteceu no sentido Rodoviária – Palácio do Buriti. A segunda foi em outra pista, sentido Tribunal de Justiça do DF – Rodoviária. Na primeira, houve apenas o pedido da polícia para os manifestantes saírem da via, mas na segunda obstrução o clima ficou mais tenso.

Montados em cavalos gordos, fortes e bem tratados, os policiais deram o início a agressão aos manifestantes. Empunhando cassetetes, eles vieram de encontro aos cidadãos, mulheres e homens, jovens e adolescentes, desarmados, com apenas a cara e a indignação. Mas a repressão do governador Arruda, materializada na polícia, não foi o bastante para coibir os manifestantes, que se reuniram e deliberaram desobstruir a via e seguir, pacificamente, pelo gramado até a Rodoviária.

A cavalaria da polícia militar e o batalhão de choque, contudo, não se deram satisfeitos e seguiram os manifestantes, atirando bombas de gás e balas de borracha, sem dar escolha para eles, se não invadir novamente a pista com sentido Rodoviária – Palácio do Buriti.

Bradando, dentre outras frases, “Arruda na papuda [um presídio do DF]. PO no xilindró” os ativistas caminharam entre os carros. Muitos motoristas manifestaram apoio, buzinando e mostrando panfletos, ou adesivos, com os dizeres “Forra Arruda”.

A polícia bloqueou a passagem dos carros para poder agredir, com mais comodidade, os cidadãos revoltados. Foi o momento que eles atiraram novamente balas de borracha e lançaram bombas de gás. A ação obrigou os manifestantes a retomarem a ocupação da via que passa em frente ao Tribunal de Justiça do DF.

Na quarta, e última, obstrução de via, a cavalaria da polícia não teve escrúpulos e partiu, mais agressivos ainda, para cima, ferindo alguns destemidos protestantes (veja acima a foto de Roosewelt Pinheiro/ABr). Houve, em seguida, até prisões de participantes do ato.

O protesto ficou fraco. Foi o momento dos manifestantes recuarem e traçarem uma nova estratégia. Além da carreata já agendada para as 9h deste sábado (12), haverá reunião nesta quinta-feira (10) e, no dia seguinte (sexta-feira, 11), carnaval fora de época, às 18h, na Rodoviária do Plano Piloto. Afinal, este foi apenas mais um dos inúmeros protestos contra a corrupção no Distrito Federal.

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