Ana Dubeux
anadubeux.df@dabr.com.br
(texto publicado neste domingo, 21 de fevereiro, no Correio Braziliense)
Vivi, junto com a população de Brasília, uma das semanas mais decisivas para o futuro da capital. Entre o afastamento e a prisão do governador José Roberto Arruda e o confuso “dia do fico” proclamado pelo vice Paulo Octávio, que anunciou a renúncia e não renunciou, foi uma sucessão de acontecimentos, boatos e indefinições que nos deixam apenas reféns da esperança. Sim, hoje somos uma forte torcida para que o jovem sistema político de Brasília não seja tão frágil a ponto de ruir, transformando a cidade num terreno fértil para possível intervenção.
Enquanto a crise se arrasta à espera de definições políticas e jurídicas, padecemos com o julgamento mordaz em relação a Brasília. Parentes voltam de férias e falam sobre as piadas que ouviram, e-mails circulam com sátiras levianas e infâmias diversas — as demonstrações mais palpáveis da desaprovação pública, que recai sobre a cidade em geral. Diante das imagens estarrecedoras da propina, resta pouco a argumentar a nosso favor embora os defensores de Brasília não se cansem de espernear contra as injustiças.
Existe, ao menos, uma bandeira a levantar nessa história: a obrigação de defender uma limpeza geral. Que a faxina comece por aqui, já que fomos testemunhas privilegiadas da esculhambação geral que reina na política brasileira. Mas sejamos apenas os primeiros a punir exemplarmente os corruptos. Ainda que leve três gerações para purificar as mais altas instâncias de poder, pode começar agora, mais precisamente nas eleições de 3 de outubro, um processo sem volta para varrer quem tem ficha suja.
Para isso, faz-se necessário criar e manter um memorial da corrupção. O brasileiro, muitas vezes vítima das artimanhas políticas, esquece fácil os personagens dos escândalos. A crise de Brasília não foi nem será a única. O país tem exemplos de sobra para contar e nem precisa para isso recorrer a um big brother da dimensão do que vimos em Brasília. O grande problema, porém, é que o legado de todos eles costuma ser fantasmas condenados ao ostracismo político por algum tempo e denúncias que se arrastam por anos na justiça sem condenação.
O resultado é que os fantasmas se divertem arquitetando sua volta ao poder em grande estilo, trabalhando nos bastidores e ludibriando a opinião pública —que, diga-se de passagem, está na hora de aprender. Ou então seremos condenados a sofrer para sempre da síndrome de Francenildo, o caseiro que teve o sigilo quebrado pela turma de Antônio Palocci e foi o único a pagar o pato. Uma cidade e um país não podem ter a dignidade violada e esquecer-se disso, vivendo à sombra de lideranças políticas cujo esporte predileto é nos envergonhar.
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