A Câmara Legislativa do Distrito Federal é um teatro. Devido à péssima atuação dos atores, drama, suspense, enfim, todo e qualquer outro gênero teatral encenado acaba se tornando numa comédia. A mais recente peça é o Mensalão do DEM, do autor e ator Durval Barbosa, com pesquisa da Polícia Federal e redação da imprensa nacional. A próxima sessão será terça-feira (2), quando estreará o capítulo O Impeachment de Arruda.
A primeira edição da peça Mensalão do DEM foi encenada no final de 2009. De lá para cá, fez tanto sucesso que ganhou novos capítulos nas edições seguintes. Os atores não imaginavam que a obra duraria tanto tempo e seria reescrita tantas vezes. Eles já não sabem em qual edição estão e nem quantas mais terão.
Um dos principais atores é José Roberto Arruda (ex-DEM) que faz o papel de um governador corrupto que se achava muito esperto e poderia dar rasteira em todo mundo, sem se dar mal. De acordo com o autor e ator da peça, Arruda teria montado um grande esquema de arrecadação de propina das empresas prestadores de serviço do Governo do Distrito Federal (GDF). O dinheiro sujo servira para comprar, praticamente, todos os deputados distritais. Só na votação do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT), 18 ou 19 parlamentares de um total de 24 teriam recebidos, cada um, a bagatela de 420 mil reais.
O autor e ator Durval Barbosa entra em cena para revelar o esquema à sociedade, que até então não sabia de nada. Com a revelação, a sociedade fica indignada e pede a punição dos envolvidos no crime conhecido por Mensalão do DEM. É justamente após este ato que entra em cena os atores que fazem papel de deputado distrital vendido, os únicos que ficam do lado do governador, que foi abandonado até pelo próprio partido, o DEM.
Sabendo que são tão culpados e corruptos quanto Arruda, eles fingem para a sociedade que vão tomar providência. Por mais de três meses, os deputados enrolam. Criam uma CPI para investigar 20 anos de governo. Adiam reuniões das comissões responsáveis pela formalização dos processos de impeachment. Escolhem um bode expiatório, o então presidente da Câmara Legislativa Leonardo Prudente (ex-DEM), que numa das cenas coloca maços de dinheiro sujo na meia. A punição não é tão severa. Os deputados pedem apenas seu afastamento da presidência da Câmara. Prudente se afasta e o deputado Wilson Lima (PR), que também votou a favor do PDOT, é eleito com a benção de Arruda.
O governador ganha tempo e se sente confiante o bastante para tentar suborna testemunhas, mas uma delas arma uma arapuca e assessores do governador são presos em flagrante.
O flagrante dá base para a justiça pedir a prisão preventiva de Arruda. O pedido é aceito e o governador é encarcerado. Assume no lugar o vice-governador interpretado por um dos homens mais rico do DF Paulo Otávio. A peça fica mais emocionante, logo em seguida, porque o pedido de habeas corpus de Arruda é negado e a Procuradoria-Geral da República pedi ao Supremo Tribunal Federal uma intervenção no DF. Para completar, o partido de Paulo Otávio, o DEM, lhe abandona e a sociedade apresenta três pedidos de impeachment contra ele.
Acuado, o vice-governador não aguenta a pressão e renuncia ao cargo. Seguindo o roteiro, assume o GDF o presidente da Câmara Distrital, Wilson Lima.
Com o pedido de intervenção federal, os deputados distritais se veem obrigados a melhorar o desempenho na encenação para convencer a sociedade de que dão conta de governador o DF e punir os culpados. Desta vez, eles escolhem três bodes expiatórios. Os deputados que protagonizaram as mais vergonhosas cenas: Eurides Brito (da enorme bolsa), Júnior Brunelli (da oração da propina) e Leonardo Prudente (da meia). Inconformada e conhecedora da reputação de seus juízes, a deputada da enorme bolsa avisou que no novo capítulo não vai renunciar coisa alguma. Já o deputado Leonardo Prudente resolveu pendurar as meias e renunciou antes mesmo do inicio dos processos por quebra de decoro parlamentar. Sem fé na oração da propina, Brunelli avisou que seguirá os passos prudentes.
Além dos bodes expiatórios, os deputados distritais aplicaram, em poucas sessões, medidas que deveriam ser aplicadas há três meses. Dentre elas, a votação dos pedidos de impeachment contra o governador Arruda, tema do próximo capítulo.
Provavelmente, os deputados votarão a favor dos pedidos de impedimento de Arruda, isso dará 20 dias para o governador apresentar sua defesa, tempo suficiente para ele tentar sair da prisão. Após o prazo, os deputados farão uma nova votação. O resultado vai depender da força política de Arruda. Se ele estiver solto e ainda for governador, os 18 ou 19 deputados que se venderam por 420 mil reais na votação do PDOT, certamente, votarão contra os pedidos de impeachment.
Mas a peça Mensalão do DEM muda constantemente. É impossível fazer qualquer previsão com 100 por cento de acerto. O jeito mesmo é esperar e conferir os próximos capítulos.
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