O final de semana foi bastante agitado, que o diga o pré-candidato petista Agnelo Queiroz. Enquanto o líder das pesquisas para governador, Joaquim Roriz (PSC), trabalha em articulações políticas para fortalecer sua chapa, Agnelo vê cada vez mais distante sua candidatura ao Governo do Distrito Federal.
Na sexta, Roriz convidou o deputado federal Jofran Frejat (PR) para ser candidato a vice-governador em sua chapa. No sábado, a revista Época publicou uma reportagem a respeito das contradições de Agnelo, da invasão de um terreno e, pior, sobre a compra de uma casa de 400 mil reais, valor que supera em quase 100% seus bens declarados em 2006 à Justiça Eleitoral.
A reportagem da revista foi motivo para a realização de duas reuniões entre Agnelo Queiroz, seu padrinho Chico Vigilante e demais aliados. Uma no sábado e outra neste domingo. O resultado dos encontros foi a divulgação de uma nota, onde Agnelo afirma que pode “comprovar a correção da compra da casa”. O pré-candidato petista assume o compromisso de divulgar nesta semana laudo de “auditores independentes”, contratados para fazer exame técnico das declarações de imposto de renda de Agnelo e de sua esposa.
Em nenhum momento a nota faz referências às contradições de Agnelo. Não explica porque o recém-filiado petista negou que esteve com Roriz em 2008 e, um dia depois, voltou atrás e assumiu o encontro político com o ex-governador.
O texto termina com empolgação. “Vou disputar as prévias e vencê-las para concorrer ao governo do Distrito Federal”, diz uma das frases do último parágrafo.
O primeiro, e único, debate oficial entre Agnelo e seu concorrente, o deputado federal Geraldo Magela (PT-DF), será nesta terça-feira (16), às 19h, no Hotel San Marco. A eleição prévia acontecerá em 21 de março, em 20 cidades do DF. Depois desse dia, o PT terá seu candidato e começará do zero as articulações. Roriz, pelo contrário, já escolheu seu vice e, até lá, pode confirmar os nomes que disputarão as duas vagas para o Senado.
A Reportagem da Revista Época:
Um candidato enrolado
Alternativa do PT em Brasília para a sucessão de Arruda, Agnelo Queiroz, ex-ministro de Lula, teve aumento de patrimônio acima da renda e invadiu área pública
Andrei Meireles e Marcelo Rocha
Ex-ministro dos Esportes no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Agnelo Queiroz é pré-candidato do PT ao governo de Brasília. Antes disso, ele poderá assumir o mandato de senador. Está previsto para abril o julgamento pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do pedido de cassação do senador Gim Argello (PTB-DF), acusado de usar a máquina pública na campanha eleitoral de 2006. Se o Tribunal decidir pela punição de Gim, Agnelo ganhará a vaga por ter sido o segundo colocado na disputa para o Senado.
Hoje diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Agnelo se apresenta aos eleitores como uma “opção ética” entre os políticos de Brasília, envolvidos no mais bem documentado escândalo de corrupção da história do país. É com essa plataforma que ele planeja candidatar-se à sucessão do governador afastado José Roberto Arruda, há mais de um mês preso numa cela especial na Polícia Federal. Para manter esse discurso, no entanto, Agnelo terá de explicar uma repentina evolução patrimonial.
Na declaração de bens que apresentou à Justiça Eleitoral em 2006, Agnelo Queiroz informou que dispunha de R$ 45 mil em contas em quatro bancos e um apartamento no valor de R$ 78 mil. Todos os seus bens somavam R$ 224.300. Menos de quatro meses depois, ele deu uma entrada de R$ 150 mil para a compra de uma casa com mais de 500 metros quadrados de área construída numa das regiões mais valorizadas de Brasília – o Setor de Mansões Dom Bosco, vizinho ao Jardim Botânico. Ele diz que quitou o imóvel em cinco parcelas mensais. O valor registrado na escritura foi de R$ 400 mil. Agnelo afirma que não fez empréstimo nem se desfez de nenhuma propriedade para pagar o imóvel. “Usei o dinheiro de minhas economias e as de minha mulher”, disse. Agnelo apresentou as declarações de Imposto de Renda dele e da mulher referentes aos anos de 2006 e 2007 e extratos bancários. As informações mostram que o casal não tinha recursos para pagar nem a metade do valor declarado da casa. No mesmo período, Agnelo comprou mais dois apartamentos financiados e um carro.
Antes de se mudar para a casa, Agnelo contratou um arquiteto para fazer uma ampla reforma. “A casa estava muito depreciada”, diz. Fez mais. Numa área pública contígua à mansão, com cerca de 4.000 metros quadrados, ele mandou construir uma quadra de tênis, um campo de futebol e um pequeno lago. Foram instalados também refletores para a prática de esporte à noite.
A legislação proíbe qualquer construção nesses terrenos. Os órgãos de fiscalização do governo informaram que as obras feitas por Agnelo são ilegais. Ouvido por ÉPOCA, Agnelo primeiro tentou argumentar que era uma prática comum nas áreas nobres de Brasília cercar as áreas verdes públicas. Depois, acabou admitindo ter cometido uma irregularidade. “Reconheço que foi uma ilegalidade. Para que isso não servisse à exploração política na campanha eleitoral, mandei desmontar a quadra há mais ou menos um ano”, afirma. “Não posso pagar por um erro que já corrigi.” Na sexta-feira, por meio de sua assessoria, Agnelo retificou essa declaração e informou que a quadra foi desmontada apenas neste ano.
Ao ser entrevistado por ÉPOCA, Agnelo Queiroz se disse incomodado em falar sobre seus negócios particulares. Afirmou que gostaria de ser ouvido sobre seus planos de governo para Brasília. Indagado sobre como seu eventual governo agiria em relação às invasões urbanas, Agnelo desconversou. “Não tenho uma opinião formada sobre isso. Afinal, eu não tenho obrigação de ter opinião sobre todas as coisas”, disse. Especialistas afirmam que o Distrito Federal é a unidade da Federação que mais sofre com ocupações irregulares, tema obrigatório em todas as campanhas eleitorais na cidade.
Em disputa com o deputado federal Geraldo Magela pela candidatura do PT ao governo do Distrito Federal, Agnelo Queiroz está tendo de responder a outras questões embaraçosas. As prévias petistas estão marcadas para o dia 21 de março, e os adversários de Agnelo dentro do PT o questionam sobre um encontro no primeiro semestre do ano passado com o ex-secretário de Relações Institucionais Durval Barbosa, o delator do escândalo do panetone. Nessa reunião, Agnelo assistiu em primeira mão aos vídeos em que aparecem o governador Arruda e outros políticos de Brasília recebendo dinheiro. “Fiquei calado para não politizar o assunto nem prejudicar uma possível investigação sobre esse esquema de corrupção”, diz Agnelo. Ele saiu da conversa com Durval convencido de que, se os vídeos fossem divulgados, aumentariam consideravelmente suas chances eleitorais. Amigos de Durval dizem que Agnelo prometeu que recompensaria o ex-secretário por eventuais denúncias contra Arruda. Eleito governador, Agnelo daria cargos a Durval na administração de Brasília. O ex-ministro nega. “Isso é invencionice. Sei que minha conversa com o Durval foi filmada. Gostaria que ela fosse divulgada. Se eu tivesse qualquer temor, não seria candidato”, afirma.
Agnelo se diz vítima de adversários políticos do próprio PT. Mas nem tudo o que se fala de Agnelo pode ser atribuído a intrigas dos companheiros de partido. ÉPOCA ouviu de integrantes da coordenação da campanha de Arruda em 2006 que o governador preso, em público, apoiava a candidatura ao Senado do ex-governador Joaquim Roriz, mas nos bastidores trabalhava para eleger Agnelo. “Não recebi dinheiro, tive ajuda zero do Arruda. É verdade que muita gente próxima dele votou em mim. Mas fizeram isso porque não gostavam do Roriz”, diz Agnelo.
Outro relacionamento político que hoje incomoda Agnelo é sua aproximação com Joaquim Roriz em 2008. Assessores de Roriz afirmam que eles fizeram um pacto de não agressão e discutiram estratégias para enfrentar a candidatura à reeleição do governador Arruda. Segundo esses assessores, em outubro de 2008, Agnelo foi até a fazenda Palma, uma propriedade de Roriz no município goiano de Luziânia, para conversar com o ex-governador. Na quinta-feira à noite, Agnelo desmentiu a reunião. “Isso é delírio, nunca estive na fazenda de Roriz.” No dia seguinte, sua assessoria disse a ÉPOCA que ele resolveu corrigir a informação. Agnelo esteve, sim, na fazenda de Roriz para conversar sobre as eleições no DF.
As contradições de Agnelo e suas dificuldades em explicar o crescimento patrimonial e a invasão de uma área pública mostram que está difícil encontrar um candidato ao governo do Distrito Federal que se mostre infenso a práticas condenáveis para um homem público.
A Explicação de Agnelo:
Nota à Imprensa
A revista Época publicou reportagem em que sou acusado de ter comprado minha residência sem ter recursos financeiros para isso. Levanta dúvidas sobre a operação e ainda apresenta outros fatos que, segundo os autores da matéria, comprometem minha idoneidade. Entre esses, um erro que cometi, reconheci e já havia corrigido: construir uma quadra de tênis, já demolida, na área verde de minha casa.
Ao contrário do que afirma a reportagem, posso comprovar a correção da compra da casa. A operação de compra foi escriturada em cartório e está registrada nas declarações de imposto de renda de minha mulher, com quem sou casado em regime de comunhão de bens. As declarações dela e as minhas mostram que nós tínhamos, devidamente comprovados, os recursos financeiros para fazer a compra e efetuar os pagamentos das parcelas. As declarações são dos anos de 2007 e 2008 e não receberam contestação alguma da Receita Federal, órgão ao qual compete a palavra final sobre a legalidade e correção das informações prestadas. Para reforçar a certeza de que tudo foi feito segundo a lei, solicitei a auditores independentes um exame técnico das declarações de imposto de renda minhas e da minha esposa e comprometo-me a divulgar o resultado do laudo nesta semana.
Apesar do prazo exíguo, na sexta-feira entreguei voluntariamente à revista extratos bancários que consegui obter e cópias de declarações de imposto de renda apresentadas por mim e por minha mulher.
Ao longo de minha vida pública, como dirigente sindical, deputado distrital, deputado federal, candidato ao Senado e ministro do Esporte, construí uma reputação de honestidade e transparência que não se abala pela reportagem.
Além de falar da compra da casa e da construção em área verde, a matéria faz também ilações absurdas e tira conclusões sem nenhum sentido ou respaldo na verdade com base em fontes anônimas como ”amigos de Durval”, “assessores de Roriz” e “integrantes da coordenação da campanha de Arruda em 2006”.
O Distrito Federal passa por momentos conturbados, com o forte descrédito da política, dos políticos e das próprias instituições. Nesse quadro, acusações como as feitas pela reportagem, ainda que falsas e injustas, têm repercussão acima da que seria normal e são exploradas de maneira pouco ética por adversários.
Antes mesmo da reportagem, eu já vinha sendo vítima de insinuações e acusações levianas, algumas veiculadas pela imprensa. Chegam até mesmo a dar detalhes de suposta gravação que ninguém, na verdade, jamais viu. Já estava claro, para mim, que adversários políticos preparavam uma armação para inviabilizar minha candidatura e o projeto político e ideológico que ela representa.
O processo de eleições prévias pelo qual estamos passando vem sendo altamente negativo para o partido. Alguns militantes vêm recorrendo a acusações, insinuações, agressões verbais e golpes baixos que em nada contribuem para o crescimento do PT e para nossa vitória nas eleições.
Mas não serão fatos como esses que farão com que eu abandone o projeto político e ideológico que mobiliza e entusiasma tantos companheiros e companheiras não só do PT como de outros partidos de esquerda e que tem, paulatinamente, ganhado apoio de expressivas parcelas de nossa população. Vou disputar as prévias e vencê-las para concorrer ao governo do Distrito Federal. Continuarei empenhado na eleição da companheira Dilma Rousseff para presidente da República, na luta pela ética na política e ao lado das brasilienses e dos brasilienses que buscam um tempo melhor para nossa cidade.
Brasília, 14 de março 2010.
Agnelo Queiroz
3 comentários:
Apenas mais uma mentira sobre Agnelo Queiroz. Vocês Magelistas e Rorizistas não cansam neh? Não aprenderam ainda que o candidato da vez para assumir o Palácio do Buriti é o AGNELO QUEIROZ!
Mentira?? Ah, isso todos saberão se Agnelo realmente comprovar que tinha dinheiro para comprar a casa de 400 mil reais. Se antes da campanha para governador Agnelo está assim, cheio de denúncias, imagine depois... Agnelo é um parasita do PT. Pior, é uma marionete na mão de alguns petistas da cúpula do PT-DF. Ele não tem condições de ser candidato a governador.
Agnelo e Junior Brunelli… Amigo para sempre???
Já viram esse vídeo do Sr. Agnelo, “rasgando elogios” para seu “amigo pessoal” Junior Brunelli. O qual classifica como homem correto, que pensa nos pobres e pelo qual tem uma grande amizade.
http://www.youtube.com/watch?v=weE9IhnvJxI
Para quem não lembra, Junior Brunelli foi o deputado distrital filmado recebendo propina do esquema de corrupção do GDF e também conhecido universalmente (na Terra e no Céu) pela sua famosa Oração da Propina.
Nada como ter muitos amigos Roriz, Arruda, Durval, Sombra e Brunelli… É só isso mesmo que levamos dessa vida. Apesar que tem gente tentado levar dinheiro na cueca e na meia... :)
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