Blog do Paraíso: Viver é recordar (ou vice-versa)

sábado, 30 de outubro de 2010

Viver é recordar (ou vice-versa)

Comentário deste Blog: neste artigo, o jornalista Fernando Rodrigues comenta o índice de aprovação dos presidentes civis brasileiros, após a ditadura militar. Em certo momento, ele afirma que FHC, aliado de José Serra (PSDB), “terminou seu mandato com o governo sendo aprovado por 26% - uma marca até considerável depois de oito anos de poder num país desestruturado como o Brasil”.

O que vemos hoje no Brasil? Um país estruturado e um presidente com 83% de aprovação.

Popularidade do governo Lula no início se equipara às de Collor e de FHC

* Petista chega ao Planalto com governo aprovado por 56,6%
* Collor e FHC tiveram também alta aprovação no início

Fernando Rodrigues
(texto publicado no site da UOL)

BRASÍLIA - 30.jan.2003 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o quinto presidente civil depois da redemocratização do país, começa seu governo com uma aprovação alta. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Sensus, o governo Lula tem 56,6% de respostas "ótimo" e "bom" no seu primeiro mês.

Assim como Lula, Fernando Collor de Mello (1990-1992) e Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) também começaram com uma aprovação alta.

Segundo levantamento do Datafolha de março de 1990, quando Collor tomou posse, 71% dos eleitores tinham uma expectativa de que o governo federal fosse "ótimo" ou "bom". Três meses depois, em junho de 90, esse percentual de Collor já havia caído para 36%.

Também de acordo com o Datafolha, FHC assumiu com 70% dos eleitores acreditando que o tucano faria um governo "ótimo" ou "bom". Três meses depois da posse, a avaliação positiva de FHC tinha caído para 39%.

Lula parece repetir a trajetória. Começou com 76% de expectativa positiva antes da posse. Caiu para 56,6% pouco depois da metade do primeiro mês de mandato.

Fica mais fácil perceber como foi o desempenho de cada um dos cinco presidentes civis desde a redemocratização analisando o quadro abaixo:



O que mais chama a atenção nesse quadro é a inversão brutal na curva de aprovação de Fernando Collor. Começou com uma expectativa de aprovação de 71% para seu governo no primeiro mês. No final, entretanto, a administração collorida foi rejeitada (respostas "ruim" e péssimo") por 68% dos pesquisados.

É evidente que seria um disparate traçar qualquer tipo de paralelo entre Collor e Lula. Sejamos diretos: Lula não é Collor. Mas é um fato concreto que ambos são os dois presidentes civis pós-redemocratização que mais se aproximam da linguagem popular. FHC também registrou uma expectativa positiva altíssima em relação ao seu governo. Mas a forma de o tucano fazer campanha e o jeito polido e culto de falar o colocam numa categoria diferente da de Collor e de Lula.

Nada disso ocorreu com José Sarney (1985-1990) e com Itamar Franco (1992-1994). Infelizmente, não há pesquisas disponíveis sobre a popularidade de Sarney durante o ano de 1986, quando lançou o Plano Cruzado. Nem há também uma pesquisa sobre a expectativa dos eleitores sobre o governo Sarney.

Aliás, nunca é demais lembrar ao internauta que esta página oferece uma extensa compilação de pesquisas de opinião disponível no link Pesquisas de opinião. São levantamentos diversos, sobretudo sobre popularidade de presidentes brasileiros. Para pesquisas de opinião durante períodos eleitorais, consulte os links de cada eleição na barra de botões do lado esquerdo desta página.

Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) teve grandes picos de popularidade. Mas a julgar pelo seu começo e pelo seu final, deixou nos eleitores a impressão de ser um presidente médio. A administração tucana teve 39% de aprovação em março de 1995. FHC terminou seu mandato com o governo sendo aprovado por 26% -uma marca até considerável depois de oito anos de poder num país desestruturado como o Brasil, mas muito menos do que Itamar Franco, o recordista de popularidade ao sair do Planalto, com 41% de "ótimo" e "bom".

O que esses números revelam? Impossível dizer. Por enquanto, só o que já está registrado: Collor teve e Lula tem linha direta com a população. O primeiro usou esse patrimônio de uma forma desastrosa. Erodiu rapidamente metade da sua popularidade. Lula começou diferente, pois não seqüestrou o dinheiro das contas das cadernetas de poupança.

O bloqueio do dinheiro do Plano Collor foi uma das mais estapafúrdias medidas econômicas que o Brasil já presenciou. Ainda assim, o episódio é útil para demonstrar o poder do então presidente. À época, Paulo Francis escreveu que se isso ocorresse nos Estados Unidos dificilmente um copeiro da Casa Branca deixaria de dar um tiro no presidente.

A perda de popularidade de Collor nos primeiros três meses parece apenas um padrão, depois repetido por FHC -e que está para se confirmar com Lula. Collor não perdeu popularidade porque confiscou o dinheiro dos brasileiros. Ficou menos popular porque parece ser esse o destino natural de qualquer governante.

Apesar da perda de popularidade, Collor não sofreu pouco ou nenhum protesto. O Brasil é um país cordial, lhano ou abúlico -o adjetivo depende do gosto do freguês. Logo depois da violência do bloqueio do dinheiro da população, o que era possível observar era uma adesão em massa da população e do "establishment". É quase inacreditável acreditar nessa página obscura da história recente.

É muito revelador da alma brasileira o início do governo Collor. O poder de um presidente popular é gigantesco. Saudades da senzala? Não se sabe. Com a palavra sociólogos, historiadores e antropólogos.

Lula está certo quando diz a assessores e governadores que sua chance é agora. Se usar a força de que dispõe neste ano de 2003 para aprovar reformas estruturais importantes, certamente terá um final muito mais alentador do que Collor.

Ocorre que há engrenagens enroscando por todos os lados no governo Lula. A começar pela área social, com o programa Fome Zero. Depois de idas e vindas, ninguém nos bastidores do PT é capaz de apostar que a grande prioridade de Lula vai dar certo.

Já houve também desencontros em muitas áreas, sendo a Previdência Social a principal delas.

Pode-se creditar esses escorregões ao início do governo. A equipe ainda não está totalmente entrosada. Mas o tempo agora corre contra Lula. Cada dia sem uma ação executada é um problema a mais no final do mandato.

No ano que vem, 2004, haverá eleições municipais. O tempo é agora. No primeiro semestre de 2003. Se Collor seqüestrou a poupança e todos aplaudiram, Lula poderá propor várias reformas constitucionais que o Congresso certamente aprovará. Resta saber se o presidente estará disposto a correr o risco de perder um pouco de popularidade agora para garantir um final mais tranqüilo.

Campanha sem fim
O grande obstáculo de Lula será interromper o ritmo de campanha sem fim que adotou em seu governo. Em Davos, na Suíça, o presidente se auto-incumbiu da missão de acabar com a fome no planeta Terra.

Para o internauta julgar, estão à disposição nesta página, no link Documentos já divulgados nesta página os recentes discursos de Lula em Porto Alegre, Davos e no lançamento do programa Fome Zero.

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