Blog do Paraíso: Na última década, governo incentivou o uso de carros

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Na última década, governo incentivou o uso de carros

Saulo Araújo
(texto publicado no site do Correio Braziliense)

Madrugada de quinta-feira última no terminal rodoviário de Ceilândia Norte. O relógio marca 5h15 e a estoquista Edilene Rodrigues Monteiro, 28 anos, já espera o ônibus que a levará para o trabalho, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). Na bolsa, ela carrega um sapato para usar quando estiver no serviço. É que, de casa até o ponto, a trabalhadora anda cerca de 15 minutos por uma via não pavimentada do Setor O. O coletivo deixa a garagem às 5h30. Edilene embarca e inicia seu calvário diário. Por sorte, ainda consegue um assento no coletivo, que sai praticamente cheio. Cinco paradas depois, todos os espaços do veículo são ocupados. Até as escadas e a área sobre o motor do ônibus são tomadas por passageiros. Edilene consegue chegar ao seu destino uma hora e meia depois e, no fim do dia, leva o mesmo tempo na volta para casa. Considerando sua jornada de segunda a sexta-feira, a estoquista passa 15 horas por semana dentro de uma condução barulhenta e desconfortável. No ano, são cerca de 30 dias.

Edilene está entre as 600 mil pessoas que sofrem diariamente com o sistema de transporte público na capital do país. Na última década (Veja arte), o governo se preocupou mais em criar condições para facilitar a vida dos motoristas de carros do que em investir em transporte de massa. De 2001 a 2010, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) aplicou R$ 774,5 milhões em obras de duplicação de rodovias, construção de viadutos e pavimentação, montante quatro vezes maior que os recursos destinados ao metrô — R$ 184,7 milhões. Em igual período, a população do DF ganhou 418 mil novos moradores, enquanto o crescimento da frota de ônibus foi de apenas 570 veículos novos.

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