Blog do Paraíso: Zé das Placas

terça-feira, 13 de abril de 2010

Zé das Placas

O fiel cabo eleitoral de Arruda

José Lopes Vieira já foi mecânico, carpinteiro, pintor e pedreiro. Aos 71 anos, diz que está aposentado. Durante quase dois meses, passou a maior parte de seu tempo deitado de baixo de uma sombra de árvore, em frente à superintendência da Polícia Federal, em Brasília, onde estava preso o governador cassado José Roberto Arruda (ex-DEM).

Em 11 de fevereiro, Arruda entrou para história por ser o primeiro governador em exercício a ser preso por mandado judicial. Acusado pela Polícia Federal de ser o chefe de um grande esquema de arrecadação de propina e compra de apoio político de deputados distritais, José Roberto foi preso porque, segundo a justiça, estava atrapalhando as investigações. O mandado de prisão preventiva foi expedido após a Polícia Federal flagrar assessores de Arruda tentando subornar uma das principais testemunhas do escândalo de corrupção, o jornalista Edmilson Edson dos Santos, o Edson Sombra.

José Lopes Vieira ficou sabendo da prisão do então governador por meio da imprensa. No dia seguinte, percorreu de ônibus mais de 40 quilômetros para tentar encontrar o local onde Arruda estava preso. José Lopes mora em Santa Maria, uma periferia do Distrito Federal. “Eu sai e não acertei. Fui para o Banco Central. Depois, para a Asa Norte”, conta. Somente no dia 13 de fevereiro ele conseguiu encontrar a superintendência da Polícia Federal, que fica no Setor Policial Sul de Brasília, no final da Asa Sul. Lá, o aposentado montou na grama do lado de fora do prédio uma pequena barraca, onde se protegeu da chuva e onde guardara seu chapéu e uma faixa de tecido com, segundo ele, 100 metros de comprimento.

A faixa é tão grande porque José Lopes costurou dezenas de faixas menores, uma nas outras. Antes, elas tinham sido usadas em agradecimentos a obras inauguradas pelo então governador. “Obrigado Arruda pela transformação de Brasília” é uma das mensagens que se pode ler na enorme faixa, usada de vez em quando pelo aposentado.

Além da barraca, José Lopes pendurou numa árvore a bandeira do Brasil. Ao lado, colocou duas placas. Uma em cima da outra. Na maior delas, estava escrito: “O melhor governo dos últimos 20 anos. Não desista!! Estamos com você”. Na outra placa, há o símbolo do ex-governador (a letra “A” com um ramo de arruda) e os dizeres “deixa o homem trabalhar”; “estamos com ‘A’”; e “ficA”.

Debaixo da sombra da árvore, José Lopes passava o tempo observando os carros de links de televisão e a movimentação da imprensa e de turistas. Certa vez, um homem que estava passando resolveu tirar as placas de apoio ao ex-governador, isso foi em 10 de março. Lopes conta que o rapaz chegou revoltado, chamando Arruda de ladrão. “Quando vi ele arrancando as placas, eu fiquei com vergonha de mim mesmo. Eu digo: ‘fi duma égua! Agora você vai ver’. Eu meti o pau nele”, conta.

A briga foi noticiada pela imprensa local. O homem que entrou em confronto com José Lopes se chamava Carlos Alberto de Souza. Ele revidou os ataques, porém, nenhum dos dois ficou ferido. A briga teve fim após pedido de policiais do prédio. “Depois, ele se arrependeu e pediu desculpas”, lembra.

José Lopes carrega na gibeira seu documento de identidade e um papel com anotações. Ele faz questão de ler o conteúdo do papel, que dizia: “Os brasileiros poderosos acabaram com um homem que era a esperança de Brasília e o futuro do Brasil. O nome deste homem é José Roberto Arruda. Fez tudo pelo seu país, o que os poderosos deram a ele: cadeia, desgosto, tristeza e humilhação. Todos nós estamos matriculados na escola da vida, onde o mestre é o tempo. Todos que fizeram arapuca para Arruda vão pagar dobrado. As atitudes e os critérios de todos foram covardes”. José Lopes cursou só até a 7ª série do antigo primeiro grau.

Antes de Arruda ser preso, no início da operação da Polícia Federal, quando o primeiro vídeo foi divulgado com a imagem do ex-governador recebendo um maço de 50 mil reais, José Lopes confessa que ficou admirado. “Não esperava isso do Arruda”. Questionado se Arruda era inocente, o aposentado respondeu que não. “Mas as bondades que ele fez cobrem seus erros”, justifica.

“Se você sair procurando por Santa Maria um pedreiro, um carpinteiro, não encontra. Tá todo mundo trabalhando”, aponta. “O Centro de Ceilândia tá lá para quem quiser olhar”, disse ao se referir aos vendedores ambulantes e a feira que foram retirados do Centro de Ceilândia, a periferia mais populosa do Distrito Federal.

“Estou aqui porque quero. Ninguém me paga nada para eu estar aqui. É meu dever defender um brasileiro que fez muito pela cidade”, argumenta. Desde o dia 13 de fevereiro, quando conseguiu acertar o caminho para o prédio da Polícia Federal, José Lopes Vieira diz que nunca deixou de comparecer ao local. “E eu só saio daqui quando ele for solto”, avisou, em 28 de março.

Geralmente, José Lopes chegava à Polícia Federal entre 9h e 10h da manhã. E voltava para casa no final da tarde. “Teve dia que eu saia daqui até 10h da noite”, ressalta. O homem chegou a dormir no lugar duas noites. Não pernoitou mais vezes porque teve receio de ficar doente por causa do frio. José Lopes não trazia comida de casa. “Têm umas quentinhas por alí, que vende”, disse.

Em 7 de abril, contudo, ele não compareceu ao local. Havia no lugar somente sua barraca. As placas e a bandeira foram retiradas. Por telefone, informou que nos últimos dias estava muito ocupado. De acordo funcionários da administração regional de Santa Maria, o aposentado também é conhecido por “Zé das Placas”. “Todo mundo sabe que ele trabalha aqui”, disse um dos funcionários.

Na superintendência da Polícia Federal, um dos vigilantes que fica na guarita disse que Zé das Placas, de fato, ficou durante muito tempo de vigília no lugar, mas, pouco antes de Arruda ser solto, andava sumido. Um vendedor ambulante que quis se identificar apenas por Cezar confirma o que diz o vigilante. “Durante muito tempo ele ficou aí”, afirma.

Em 8 de abril, algum minutos depois das 9h da manhã, Zé das Placas chegou à Polícia Federal trazendo consigo uma faixa de aproximadamente 10 metros. Ele começou a colocá-la no lado oposto que estavam as duas placas que foram arrancadas e rasgadas por opositores de Arruda, quando José Lopes se ausentou. Os pedaços estavam dentro da barraca. Lá, havia também duas caixas de papelão e duas de madeira. O chapéu e a faixa de 100 metros foram levados para casa de José Lopes.

Inconformado com os opositores de Arruda, Zé das Placas decidiu trocar de lugar e deu um recado. “Não mexam comigo porque não mexo com ninguém porque o pau quebra!”. Mas antes de estender a faixa, vigilantes do prédio impediram José Lopes, porque o material iria atrapalhar a visão deles, de lá da guarita. Os vigilantes, contudo, autorizaram o homem a colocar a faixa no mesmo local que estavam as outras. De joelhos, Zé das Placas agradeceu.

Com as frases “Você saiu, mas deixou + de 2.000 obras para o povo de Brasília. Valeu Arruda!”, a faixa estava guardada na administração regional de Santa Maria. Zé das Placas negou que trabalhava lá. “Eu trabalho nas ruas. Digo onde tem um mato para cortar. Até consulta (médica) eu arrumo porque sou uma liderança”, explicou. José Lopes disse que não recebe nada. “Recebo, não, mas têm políticos que dizem que vou ser compensado”, acrescentou.

Zé das Placas não quis dizer quanto custou a faixa de 10 metros. “Saiu um pouco caro. O tanto de tinta e tempo que você gasta. Não vim aqui nos últimos dias porque estava fazendo esta faixa”, disse. A poucos quarteirões da casa de José Lopes existe uma loja chamada Roma Comunicação Visual que faz placas em impressão digital, luminosos, banners, vitrines, criação de logomarcas, adesivos para carros, cavaletes, faixas e letreiros em geral. Um homem que trabalha lá disse que fez nos últimos dias, no valor de 200 reais, uma faixa de 8 metros com o nome do ex-governador, mas ele não se lembrava o que estava escrito.

Antes de estender a faixa, Zé das Placas decidiu desmontar a barraca. “Estou confiante que Arruda saia semana que vem”, disse.

José Lopes diz que conversa com o advogado, o médico e a mulher do governador cassado. Segundo o aposentado, a ex-primeira dama Flávia Arruda disse que seu marido vai falar com ele, quando sair da prisão. Lopes esperava que isso acontecesse entre o final de março e o início de abril, o que não aconteceu. Arruda passou o carnaval e a páscoa preso. Ele foi solto nesta segunda-feira (12), porque quase todas as testemunhas já foram ouvidas e as investigações estão na fase final.

“O mais importante é a energia positiva que você está mandando para Arruda”, disse Flávia, segundo Zé das Placas. A ex-primeira dama disse também que seu marido ficou muito chateado com a injustiça a que foi submetido. Flávia disse que, por duas semanas, segundo José Lopes, Arruda só queria ficar deitado e estava com os pés inchados.

O aposentado revela que sempre votou no governador cassado e votará novamente. Em 2005, um ano antes da eleição, José começou a fazer faixas e placas defendendo a candidatura de governador do então deputado federal José Roberto Arruda. O material era colocado próximo a casa de Lopes. Em 2006, o aposentado trabalhou de graça na campanha de Arruda. A única coisa que pediu foi um emprego para seu filho. “Foi uma gratidão”, confessa. Recentemente, o filho de José Lopes trabalha na biblioteca pública Monteiro Lobato de Santa Maria.

Zé das Placas não se lembra de nenhuma música da campanha de Arruda, mas diz que tentou fazer uma que teria os seguintes versos: “eu vou votar em José Roberto Arruda/ Um político patriota de respeito”.

Na próxima eleição, José Lopes ainda não sabe em quem vai votar para governador. Um dos principais candidatos é o ex-governador Joaquim Domingos Roriz (PSC). “Já votei nele, mas não voto mais”, diz. “O que eles andam falando aqui é que, se Roriz entrar com a candidatura hoje, derruba amanhã”, completa. Há indícios de que o esquema de corrupção do governo Arruda teria começado na gestão de Roriz.

2 comentários:

Anônimo disse...

Também me chamo Zé, mas não sou mané, pois respeito o sofrimento de 40 mil desempregado pelo desgoverno do famigerado Arruda, que usou o salário desses humildes tabalhadores para pagar propina aos comparsas do roubo.

Unknown disse...

Esse homem devia fazer parte do quadro me leva Brasil,apresentado pelo fantastíco. Eu acredito que ele tem algum problema psícologico.