Blog do Paraíso: PT, saudações! Ao passado

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

PT, saudações! Ao passado

Gaudêncio Torquato - O Estado de S.Paulo

Cui bono? Em benefício de quem? Essa era a pergunta que os antigos romanos costumavam fazer quando se deparavam com situações enrascadas ou decisões polêmicas dos seus cônsules e membros do Senado. Se a política no mundo contemporâneo se torna um exercício de fuga da verdade, a velha indagação romana reveste-se de grande atualidade. Quem se beneficia com os dribles à realidade?

Há quatro séculos Francis Bacon, o filósofo inglês, já apontava que os políticos são bons ilusionistas. Alguns tentam impedir que as pessoas os tomem como efetivamente se apresentam, outros multiplicam argumentos para provar que não são o que deles se pensa ou fingem ser o que não são. No palco da política, a simulação e a dissimulação tornam-se ferramentas indispensáveis para a grandeza do espetáculo e o aplauso das plateias. Por isso os atores se esmeram em artifícios para melhorar o desempenho no teatro político. Mas os artifícios, como arabescos carnavalescos, mudam de cor e de cenário, ao sabor de momentos e circunstâncias.

Veja-se, por exemplo, o artifício das prévias, que o Partido dos Trabalhadores (PT) incluiu em seu estatuto por enxergar nele alta taxa democrática. Prévias propiciam às bases escolher candidatos aos pleitos, ajustando posições, integrando vontades, respeitando maiorias, enfim, fornecendo oxigênio aos pulmões partidários. Se assim é, por que as prévias passaram, agora, a ser malvistas? Porque, respondem alguns, o PT precisa ter "maturidade política". O que vem a significar isso? Ou, em termos romanos, cui bono? A quem o enterro das prévias petistas beneficia?

A resposta é complexa. Embute a história de uma agremiação que não é aquela que diz ser e finge ser o que não é. O fim das prévias, decisão a ser tomada no 4.º Congresso do PT, em setembro, coroará o fechamento da era ideológica do partido. O argumento de que consulta prévia abre rachaduras na base reforça a tese de que a sigla, como todas as outras, adentra o espaço da competitividade política sob o império de uma nova ordem. Hoje a meta petista é aprofundar os pilares do partido no centro e nas margens do poder. Para tanto os fins justificam qualquer mudança na metodologia de conquista. Nesse caso, a verticalização de comando faz-se necessária para afastar dissidentes, grupos insatisfeitos e quadros que insistem em reviver a utopia socialista.

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